Disputas na base de Lula travam nomeações para chefias da PRF por Dino
Mais de 50 dias após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ainda não nomeou nenhum dos 27 superintendentes da corporação nos estados e no Distrito Federal.
As indicações, apadrinhadas por partidos da base aliada e sindicatos, estão travadas na Casa Civil desde meados de janeiro e não há previsão para que sejam efetivadas.
Segundo apuramos, uma lista inicial foi encaminhada à equipe de Rui Costa no dia 12.
No final de janeiro, o governo Lula exonerou todos os superintendentes nomeados por Jair Bolsonaro, mas não colocou novos chefes no lugar. Os substitutos, todos interinos, também foram nomeados no governo passado.
Integrantes da PRF com mais de 20 anos de experiência disseram à equipe da coluna que não têm notícia de um vácuo de comando tão longo nas superintendências.
Nos últimos dias, nós questionamos o Ministério da Justiça sobre as razões da demora, mas não obtivemos resposta.
Nos bastidores, a primeira explicação dada pelos interlocutores do Planalto a políticos e sindicalistas que aguardam ansiosos pela definição das chefias foi a de que era necessário esperar o pelo resultado da disputa pela presidência do Senado, no dia 1o de fevereiro, e que seria o primeiro grande teste de fidelidade da base de Lula no Congresso.
Como o candidato do governo, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi reeleito, e as nomeações não saíram, esses mesmos políticos e sindicalistas com quem conversamos dizem que os cargos estão reservados para o varejo político, com a função de atrair o apoio de parlamentares e partidos que hoje se colocam como independentes ou mesmo de oposição.
Mas também é verdade que, em vários estados, há disputas para indicar os superintendentes entre lideranças sindicais e os políticos locais dos partidos do governo, como o PT de Lula e o PSB do ministro da Justiça, Flávio Dino.
É o caso, por exemplo, do Piauí, onde o escolhido contou com o apoio do ex-governador e ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), mas não é o preferido dos sindicalistas regionais, que pressionam para reverter a indicação.
Há indefinição ainda em pelo menos outros sete estados: Minas Gerais e São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Ceará, Pará e Rondônia.
Embora não estejam entre os cargos mais cobiçados pelos líderes do Centrão, por exemplo, as superintendências atraem o interesse pelo papel de autoridade de trânsito e corregedoria dos superintendentes – além, é claro, de eles serem ordenadores de despesas.
Segundo lideranças da PRF envolvidas na disputa interna, a demora nas nomeações está causando problemas na rotina diária da corporação, especialmente depois das exonerações do final de janeiro. Isso porque os superintendentes substitutos não têm a mesma autoridade que os titulares e evitam se comprometer com operações e políticas a médio prazo.
O compasso de espera do governo contrasta com a diretriz dada pelo próprio Lula. No último dia 8, durante a primeira reunião do conselho político da coalizão, o presidente cobrou de seus ministros a liberação das indicações para os cargos de segundo escalão.
“A gente não tem que ficar contando história. A gente não tem que ficar protelando as soluções”, disse o presidente, diante do colegiado que reúne a presidência, os titulares da Esplanada e os líderes dos 16 partidos que apoiam o governo. “Quanto mais tempo passa, mais fica caro você aprovar aquelas coisas [no Congresso]”.
Até agora, porém, a ordem não foi cumprida.
Uma outra explicação para a demora é a necessidade de checar os antecedentes de todos os indicados. A averiguação, que antes se restringia às fichas funcionais e à busca por possíveis desvios de conduta, agora inclui também as redes sociais.
Em razão dessas verificações, duas indicações, para a superintendência de São Paulo e para a de Pernambuco, foram derrubadas porque os agentes haviam publicado em seus perfis fotos com o ex-presidente Bolsonaro.
Nós questionamos o Ministério da Justiça sobre a demora na nomeação das superintendências às vésperas do carnaval e perguntamos se os cargos entraram nas negociações com a base no Congresso, mas não houve resposta.
Também procuramos a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) para um posicionamento sobre a indefinição nos estados. A entidade enviou nota manifestando “preocupação com a ausência de nomeações” e disse não compreender o motivo da demora.
A federação ressaltou ainda ter solicitado uma audiência com o ministro Dino no dia 3 de janeiro para tratar do tema, mas o pedido não foi atendido até o momento. (O Globo)
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