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Depoimento de Lula a Moro acaba em discussão

O depoimento de duas horas de Lula ao juiz Sergio Moro terminou em discussão entre os dois. Lula acusou o magistrado de agir com parcialidade, e de ser refém da imprensa nacional.

“Não posso deixar de dizer que esses processos contra mim virassem vocês reféns da imprensa”, disparou Lula em suas considerações finais.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin, diz que Moro, inclusive, cita reportagens jornalísticas.

“Vou chegar em casa amanhã almoçar com 8 netos e uma bisneta de 6 meses. Posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”, diz Lula.

Moro responde irritado.

“Não cabe ao senhor perguntar isso a mim. Mas de todo modo sim”, disse.

“Não foi o procedimento na outra ação”, rebateu Lula.

“Eu não vou discutir a outra ação com o senhor. A minha convicção é que o senhor foi culpado. Se fossemos discutir aqui, não seria bom para o senhor”, disse Moro.

Lula então, diz que tem que discutir sim. “Vou esperar que a justiça continue a fazer justiça nesse país”.

Moro interrompe, e encerra a gravação.

Lula afirma em depoimento que Palocci é ‘frio, calculista e simulador’


Em pouco menos de duas horas de depoimento ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-ministro Antonio Palocci de “calculista, frio e simulador”, e negou que tenha feito qualquer tipo de acerto ilícito com a empreiteira Odebrecht.

“Se ele [Palocci] fosse um objeto, seria um simulador”, afirmou.

Lula prestou seu segundo depoimento a Moro nesta quarta (13), uma semana depois que seu ex-ministro da Fazenda afirmou que o petista avalizou um “pacto de sangue” com a Odebrecht, com o pagamento de R$ 300 milhões em vantagens indevidas em troca de manter o protagonismo da empreiteira no governo. O terreno ao instituto estaria incluído nesse valor.

Nesta ação, ele é acusado de se beneficiar de vantagens indevidas pagas pela empreiteira Odebrecht —incluindo a compra de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula, e cuja negociação teria sido intermediada por Palocci.

O ex-presidente disse que Palocci nem sequer era responsável por assuntos do Instituto Lula (o que caberia ao seu presidente Paulo Okamotto), e que só se encontrava com o ex-ministro, depois de sua saída do governo, uma vez a cada oito meses.

Lula afirmou não ter raiva de Palocci, e disse que “ele tem o direito de querer ser livre”.

“O que não pode é, se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos atos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros”, declarou.

Questionado sobre a existência de uma conta de propina mantida pela Odebrecht da qual teriam sido deduzidas doações ao Instituto Lula, o ex-presidente afirmou, no depoimento, que este era o trecho mais “hilariante” da delação de Palocci.

“Essa é a peça de ficção mais hilariante que eu vi na fala do Palocci. Eu sinceramente não sei qual era a relação que o ex-ministro Palocci tinha com o doutor Marcelo Odebrecht. Os dois tinham mais de 35 anos de idade, tinham autonomia, conversavam e não me pediam para conversar. Se eles conversavam coisas, se tinha fundo ou se não tinha fundo, doutor Palocci que explique. O Marcelo que explique. O dado concreto é que nem o Marcelo, nem o Emílio Odebrecht, nenhum empresario desse pais discutiu finanças comigo”.

REUNIÃO

Durante a audiência, o Ministério Público Federal ainda apresentou uma pauta de reunião de Emílio Odebrecht, patriarca da empreiteira, com Lula, que foi entregue à investigação.

A reunião teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010, nos estertores do governo Lula, no Palácio do Planalto.

No documento, o primeiro item da pauta é a “‘Passagem’ do histórico de parceria” –o que seria uma referência à troca de governo, de Lula para Dilma, e ao acerto ilícito feito com o intermédio de Palocci.

Na mesma agenda, ainda são listados, debaixo do título “Com ele”, os itens: “Estádio Corinthians, Obras Sítio, 1ª Palestra Angola e Instituto”.

O petista disse que o documento é falso e “uma mentira”.

LAVA JATO

Lula ainda fez críticas à atuação da Polícia Federal e do Ministério Público, e disse que há “uma caça às bruxas” na Lava Jato.

“O Ministério Público ligado à Lava Jato enveredou por um caminho que vocês estão com dificuldade de sair. O objetivo é tentar encontrar alguém para me criminalizar. Esse é o objetivo”, afirmou o ex-presidente.

Para ele, a Lava Jato ficou “refém da imprensa”. “Nós estamos vendo o que está acontecendo com o [Rodrigo] Janot”, disse, em referência ao procurador-geral da República.

O depoimento teve momentos de tensão entre Moro e Lula. O ex-presidente chegou a acusá-lo de ser desrespeitoso, e o magistrado pediu por pelo menos duas vezes que ele “não fizesse campanha ou discurso” e se ativesse ao objeto da ação.

Ao final da audiência, o petista fez uma pergunta ao juiz: se ele poderia dizer aos netos que foi prestar depoimento a um juiz imparcial. Moro respondeu que sim, ao que Lula retrucou: “Porque não foi o procedimento na outra ação”.

“Eu vou continuar esperando que a Justiça faça justiça nesse país”, declarou Lula.

PALOCCI

O advogado de Palocci, Adriano Bretas, afirmou que “dissimulado é ele [Lula], que nega tudo o que lhe contraria e teve a pachorra de dizer que se encontrava raramente com o Palocci”.

“Enquanto o Palocci mantinha o silêncio, ele era inteligente e virtuoso; depois que resolveu falar a verdade, passou a ser tido como calculista e dissimulado”, afirmou o defensor, em nota.

“Essa é a lógica dele: os que o acusam mentem, os documentos são falsos, e só ele diz a verdade.”

ATOS

Lula deixou a sede da Justiça Federal em Curitiba pouco antes das 16h30, de carro, sem falar com a imprensa.

Na saída, cinco moradores que vestiam camisas verde e amarelas e erguiam bandeiras do Brasil gritaram “ladrão” e “bandido”. “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”, cantavam.

Logo depois de sua saída, a Polícia Militar desmontou as grades que formavam o perímetro de segurança em torno da sede da Justiça. Os carros e pedestres voltaram a circular normalmente.

O petista segue agora para um hotel, onde tomará um banho, e depois participa de ato na praça Generoso Marques, no centro da cidade, com militantes petistas.

No local, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão fez ataques à Lava Jato durante sua aula pública sobre a operação. “A Lava Jato acabou com a nossa indústria da construção civil, indústria naval, programa nuclear. Milhares de pessoas ficaram desempregadas. Estes promotores e juízes que vivem na sua redoma de bem-estar social não sabem o sofrimento que causaram a milhares de famílias brasileiras”, afirmou.

Manifestantes a favor da Lava Jato e que pediam a condenação de Lula se concentraram no museu Oscar Niemeyer, a cerca de dois quilômetros da sede da Justiça. Não houve registro de confrontos entre militantes.

Moro também ouviu o ex-assessor de Antonio Palocci, Branislav Kontic, na audiência desta quarta (13). (Folha de SP)

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