Delator: Lula é o ‘amigo’ em planilha da corrupção
O executivo Hilberto Mascarenhas disse que o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, o chamado banco da propina da empreiteira, movimentou US$ 3,4 bilhões entre 2006 e 2014 para abastecer caixa dois de campanhas eleitorais no Brasil e pagar propinas no país e no exterior. O executivo, um dos ex-chefes do departamento, disse ainda que deste total, aproximadamente US$ 500 milhões foram despejados em acertos com políticos no Brasil, segundo disse ao GLOBO uma fonte vinculada ao caso.
Em depoimento ao ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, Mascarenhas citou que entre os nomes listados em planilha de pagamentos da Odebrecht a indicação “amigo” se referia ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mascarenhas fez as declarações na noite de segunda-feira. Ele foi interrogado numa ação que pode resultar na cassação da chapa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do presidente Michel Temer (PMDB). Ele fez a revelação quando explicava a quem e como eram repassados recursos de propina a políticos e partidos. Ao dizer que não lembrava o codinome de todos os políticos listados nas planilhas, Hilberto observou que Lula era chamado de amigo pela relação próxima com Emílio Odebrecht, pai de Marcelo.
O executivo disse que o volume de desembolso para pagamentos supostamente ilegais cresceram ao longo do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro governo da ex-presidente Dilma. Foram pagamentos da ordem US$ 60 milhões em 2006, de US$ 80 milhões em 2007, de 120 milhões em 2008 e de US$ 260 milhões em 2009. Ainda em escalada, o setor liberou mais US$ 420 milhões em 2010, US$ 520 milhões em 2011, US$ 730 milhões em 2012 e nada menos que US$ 750 milhões em 2013. Em 2014, em pleno curso da Operação Lava-Jato, o departamento da propina pagou ainda mais US$ 450 milhões.
O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho, que também prestou depoimento, confirmou que participou de um jantar com o presidente Michel Temer, em 2014, no qual o peemedebista pediu apoio financeiro às campanhas do partido nas eleições daquele ano. Em sua oitava, que durou cerca de 40 minutos, o ex-executivo disse que o encontro ocorreu no Palácio do Jaburu, quando Temer concorria à reeleição a vice-presidente na chapa da persista Dilma Rousseff. Além dele e de Temer, participaram o então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, o ministro Eliseu Padilha, entre outros peemedebistas. A assessoria da Presidência da República afirmou que o presidente não tratou de valores com ninguém durante o jantar no Palácio do Jaburu, em que recebeu os ex-executivos da Odebrecht.
Em nota, Lula disse que já teve seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, foi alvo de busca e apreensão e 68 testemunhas foram ouvidas “e não foi encontrado nenhum recurso indevido”. “Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa. O ex-presidente jamais teve o apelido de “amigo”. Se alguém eventualmente a ele se referiu dessa forma isso ocorreu sem o seu conhecimento e consentimento”, diz a nota.
O codinome “Amigo”, que consta na planilha da Odebrecht, é dono de um saldo de 23.000, que corresponderia a R$ 23 milhões na contabilidade paralela da empreiteira. Deste total, R$ 8 milhões teriam sido pagos entre novembro de 2012 e setembro de 2013, restando ainda na planilha R$ 15 milhões de saldo.
Na segunda-feira, “Italiano” foi identificado por Fernando Barbosa, executivo da Odebrecht, como sendo o ex-ministro Antonio Palocci, durante audiência com o juiz Sérgio Moro. A defesa de Palocci nega. Na semana passada, em depoimento ao TSE, Marcelo Odebrecht teria confirmado também que “pós-Itália” era o ministro Guido Mantega. O empresário teria dito que, juntos, Itália e pos-Itália teriam recebido R$ 300 milhões. (O Globo)
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