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D.Maria, o ataque dos criminosos e o ataque criminoso

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Por Abdon Marinho (advogado)

Em face dos últimos acontecimentos, lembrei-me de D. Maria. Aos que não lembram, D. Maria é aquela simpática senhora, comerciante em um dos bairros da capital, que, em uma das inúmeras peças publicitárias do governo, elogiava a nossa segurança. Seria interessante saber o que pensa neste momento em que a cidade, modelo em segurança, encontra-se sitiada pelo crime e o governo, não apenas se mostra inerte, como parece temer os criminosos, embora diga o contrário.

Em poucos dias quase duas dezenas de veículos foram incendiados causando prejuízo aos seus proprietários, veículos do estado incendiados no pátio de uma delegacia, agência bancária apedrejada, um fórum atingido por disparos e o clima de terror espalhado por toda a ilha.

Em meio as ações criminosas e a boataria que se espalhou como um rastilho de pólvora, uma ausência se fez sentir mais que nunca. Os ataques dos criminosos começaram no sábado, apenas na segunda-feira, num evento privado de empresa de refrigerantes, foi que se ouviu uma lacônica, Inconsistente e despropositada manifestação da governadora.

A impressão que fica é que não tem ninguém no comando do Estado. Não é compreensível que a capital e sua região metropolitana seja atacada e a governadora não apareça para, formalmente, explicar o que está fazendo e tranquilizar a população. É como se estivéssemos, todos, à própria sorte ou azar, como preferir. Não chamou uma coletiva, não colocou uma nota nos rádios e emissoras de televisão. Não venha dizer que a legislação eleitoral veda. Não é verdade, a situação de emergência permite, é uma das exceções previstas na lei. E nada mais excepcional do que a situação que se apresenta.

Lembro que nos ataques passados perguntei a mesma coisa: se havia governo no Maranhão. Novamente a pergunta se impõe. Como é que o governo se esconde e não aparece para tranquilizar a população? Dizer que vai enfrentar com todas as forças o ataque dos criminosos? O governo prefere o silêncio institucional.

Vejam que até os criminosos lá do “solticidio” de Pedrinhas, emitiram uma nota em áudio dizendo as razões do seu ataque à população civil” e ameaçando com mais ataques. Já o governo…

Diante do ataque dos criminosos, aliados do governo, bajuladores de todos os matizes, sem ter o que dizer ou como justificar a inação governamental, passaram a insinuar e difundir, na terra de ninguém, que se tornou a internet, que os responsáveis pelo que vem acontecendo, desde a utilização da porta giratória de Pedrinhas, ao uso dos meios de comunicações pelos presos até os incêndios de veículos, depredação de bancos e atentados, seria culpa dos oposicionistas.

Sobre isso – e para ficar no campo da ficção, como, aliás, eram aquelas peças publicitárias –, alguns, num comportamento capaz de causar inveja ao fictício blogueiro Téo Pereira, papel impagável de Paulo Betti, não têm o pudor de cruzar a linha do crime, como se, durante o período eleitoral, pudessem atacar a honra alheia. O ataque criminoso, insinuado nos blogues disseminados nas redes sociais, constitui mais um exemplo de política que já deveria ter sumido na história, mas que no Maranhão, graças a cumplicidade de muitos, teima em resistir.

Não é concebível, ainda que no campo ficcional, que se atribua responsabilidade pelo caos dos presídios ou a violência generalizada, ainda que fazendo a pergunta clássica da investigação criminal (a quem interessa o crime?), a oposição, pois ao se admitir isso, estará se admitindo toda a falência do Estado.

D. Maria talvez não tenha se dado conta ao elogiar o sistema de segurança no começo do ano, que estava se dizendo de acordo com com os quase mil assassinatos ocorridos no ano anterior, 2013, na região metropolitana da capital. Apenas para se ter uma ideia, não faz 15 anos esse número estava na casa dos duzentos homicídios e ainda assim era um número alto se comparado a outros centros urbanos do mundo.

O fato, diria a D. Maria, é que a violência vem crescendo a cada ano sem que as autoridades se deem conta ou apresentem um plano consistente de combate. Continuam sem plano algum. Outro dia fiquei intrigado com o fato dos detentos conseguirem escavar túneis produzindo montanhas de areia e ninguém da vigilância perceber. Um amigo me alertou que muitas áreas do presídio a segurança não consegue alcançar, não tem segurança para chegar a todos os locais.

Então estamos acertados que é normal a segurança do presídio não possui segurança para cumprir seu papel e vigiar os presos. Outra coisa que intriga é o material com que é feito essas celas. Como é que presos sem picaretas conseguem escavar suas celas? Será que as celas são em terra nua? Como, se gastam milhões todos os anos na construção e manutenção destas unidades? Vamos além, como é que se nomeia alguém para o cargo de diretor do presídio e é o próprio a operar a porta-giratória da cadeia? Nomeia-se sem qualquer investigação prévia, sem buscar os antecedentes, sem verificar o preparo? Se é assim, tornaram a administração, o cabaré da mãe Joana, casa é pouco para o desmantelo. Um outro mistério diz respeito a quantidade de telefones que entra no presídio. Será que ninguém investiga isso? Não há revista? São os agentes que facilitam? Não há controle na sua atividade? Com todos os recursos tecnológicos da atualidade não conseguem monitorar isso? Será que no presídio funciona uma central telefônica e não avisaram a patuleia aqui do lado de fora, presa em suas casas enquanto a bandidagem toma conta das ruas?

Esses fatos são todos de responsabilidade do governo estadual. O mesmo governo que D. Maria elogiou pelos “bons serviços” prestados. Logo, também responsável pelo que vem acontecendo. Faz tempo que eu, que não sei de nada, venho alertando para o descontrole na área de segurança pública. A violência aumentando e o governo insistindo no mesmo modelo fracassado e nas mesmas pessoas. E acham que fizeram um serviço tão bom que o ex-secretário achou-se confortável para disputar um mandato de deputado federal pelo Maranhão, provavelmente, tendo como plataforma a segurança pública. Os programas de humor perdem esse talento.

Assim, D. Maria, o ataque dos criminosos se confunde perfeitamente com o ataque criminoso que tentam impingir as pessoas alheias ao sistema de segurança. Talvez o ataque dos criminosos e o ataque criminoso tenham a mesma origem.

Deveriam nos poupar de mais esse insulto à a inteligência dos cidadãos.

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