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Crônica de uma noite eterna

Algum dia, quando finalmente houver paz no mundo, não existirão mais poetas. Ninguém precisará de Gandhi, e nesse paraíso inusitado os homens dispensarão até a existência de Jesus. Nessa sociedade conturbada pela discriminação e pelo medo de existir, as guerras não serão mais necessárias, porque, com a mesma velocidade com que se acende uma lâmpada, o homem amará seu próximo como a si mesmo. A desordem mundial, essa que nos abastece de medos e raivas, será desmentida em nome do amor . Ninguém será bonito, ninguém será feio, posto que, acima de todas as coisas, herdaremos um espírito que nos levará ao caminho dos céus.

Aquela nuvem azul que nos fez contemplativos e na qual guardamos todas as nossas esperanças vai por fim ao ódio e a todas as violências. O sonho mágico dos bem-aventurados, aqueles que sofrem, finalmente se cumprirá e nem a morte será mais morte, pois que, acima da condição humana, teremos conquistado o direito de viver. O espírito das leis sumirá no espaço pelo simples fato de que já não haverá mais necessidades de leis. A crônica dos marginais, essa devassidão acumulada da pobreza absoluta, não servirá de desculpa para tanta dor. E, se quiserem acreditar, o homem lobo do homem, como um cordeiro perdidos nas trilhas, só ouvirá a voz de Deus.

Esse choque da civilização hodierna, de crianças famintas num beco sem saída e trucidadas pelas armas da religião e da política, pelo amaldiçoado direito de propriedade, será apenas uma energia, e a única briga será pelo direito de dormir e acordar.

Desculpem-nos por essa gênese futurista, mas a grande verdade é que o mal nunca mais vencerá o bem. Não mais ouviremos falar da perversão humana, de homens matando seus semelhantes em nome de Deus, e aquele abismo em que todos nós caímos em nome do egoísmo se extinguirá.

Será assim, diante dessa crônica de uma noite eterna, que para sempre todas as luzes se acenderão. (Editorial do JP)

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