CPI do 8/1 vai ampliar exposição de Flávio Dino — e ciúmes de petistas
O bloco da oposição já escolheu seu principal alvo na CPI mista para investigar atos de 8/1: o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Senadores e deputados que antagonizam com o governo Lula pretendem colar no ex-governador do Maranhão a responsabilidade por ter supostamente facilitado a ação de vândalos bolsonaristas que invadiram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro deste ano.
A convocação de Dino para a CPMI é dada como certa. Com isso, o ministro deve ter grande exposição midiática; caso ele se saia bem, pode ampliar o ciúme que membros do governo e da cúpula do PT alimentam desde antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bom de oratória (além de político, é professor universitário), o ministro da Justiça é o membro do primeiro-escalão lulista que mais tem atraído holofotes desde antes da posse do atual governo, em 1º de janeiro. Anunciado para o cargo durante a transição, Dino acompanhou de perto a operação policial que frustrou a tentativa de explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília na véspera do Natal do ano passado.
Duas semanas depois, quando ocorreram os ataques de 8 de janeiro, Dino se colocou como porta-voz do governo Lula e coordenou as primeiras respostas à crise.
Nos meses seguintes, foi convocado pela oposição para duas comissões na Câmara e levou a melhor em ambas as ocasiões. Na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), em 28 de março, viralizou nas redes ao ironizar o deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE). Na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, em 11 de abril, o ministro nem sequer chegou a ser confrontado, já que a discussão mais acalorada concentrou-se entre os próprios parlamentares.
O ministro também ganhou mais protagonismo que os colegas de Esplanada em temas ligados ao governo, como a resposta à onda de ameaças de violência em escolas e creches. Foi o maranhense que tomou a principal medida; em abril, ele editou uma portaria para regular redes sociais e obrigá-las a moderar discurso de ódio em ambientes escolares. A iniciativa de Flávio Dino levou o Congresso a iniciar o debate mais relevante dessa legislatura até o momento: o do PL das Fake News.
Ciúmes
Ninguém do governo ou do PT reclama em público, mas essa onipresença de Dino – que não pertence ao partido do presidente, mas ao PSB (o mesmo do vice, Geraldo Alckmin) – incomoda nomes importantes no entorno de Lula.
Governistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que, para além da exposição que seu ministério tem naturalmente, Dino muitas vezes extrapola seu papel e entra no campo de colegas de Esplanada. A atuação dele na crise da violência nas escolas é usada como exemplo.
Dino é “espaçoso”, na opinião de pessoas do governo, que também citam o comportamento do ministro nas recém-divulgadas imagens do interior do Palácio do Planalto na noite de 8 de janeiro, nas quais ele parece estar cobrando o ministro da Defesa, José Múcio.
Sobre esse episódio, Dino falou com o portal ICL Notícias e garantiu que não houve “nenhum tipo de briga”. “Estávamos debatendo sobre as consequências. Muitos perguntam se eu estava brigando com o ministro Múcio. Jamais. Agora, claro que eu estava tenso, indignado, ajudando a gerenciar uma crise gravíssima, e sou uma pessoa enfática. Estava falando com ênfase”, alegou o ministro.
O que a oposição vai cobrar de Dino na CPMI
O bloco da oposição não deve insistir na tese inicialmente criada pela militância bolsonarista, de que as depredações do dia 8/1 teriam sido fruto de um plano da esquerda para infiltrar manifestantes violentos em atos que deveriam ter sido pacíficos. A ideia é alegar que o governo Lula sabia dos riscos, mas nada fez para impedir as invasões, com o objetivo de tirar dividendos políticos do episódio.
Nessa conjuntura, o ministro Flávio Dino será apontado como grande responsável pela omissão.
A principal arma que os opositores já têm contra o titular da Justiça são documentos que alertaram previamente sobre os riscos de invasão. O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), por exemplo, já mostrou, na Câmara, um ofício assinado pelo atual diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, informando Dino, no início da noite de 7 de janeiro, sobre intensa movimentação nos quartéis, com manifestantes que teriam a intenção de “tomar o poder” e de “impedir a instalação do comunismo no Brasil”.
Já questionado diversas vezes sobre esse informe, Dino tem repetido que procurou, sim, o governador do DF, inclusive para protestar contra mudanças no protocolo de segurança inicialmente acordado. Segundo Dino, porém, Ibaneis teria alegado que a inteligência do governo local não havia alertado para o aumento do risco e que, por isso, as forças de segurança do DF dariam conta da operação.
Reportagem da Folha de S.Paulo revelou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também enviou alertas para o ministério de Dino e para o GSI informando sobre riscos de invasão de prédios públicos e possível conivência da PMDF. O Ministério da Justiça, porém, negou o recebimento desses comunicados.
Ministros “presidenciáveis”
O presidente Lula assumiu seu terceiro mandato presidencial com a promessa de não tentar a reeleição. A iniciativa do mandatário já foi colocada em dúvida, para frear afobações, mas abriu cedo a disputa dentro do governo por sua sucessão. Quando o primeiro-escalão estava sendo montado, todos os veículos de imprensa apontavam nomes que já começavam fortes nessas apostas; Flávio Dino constava nesse rol, mas atrás de colegas que pareciam ter mais bagagem política naquele momento.
Era o caso do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin, que governou São Paulo e esteve em um segundo turno de disputa presidencial (em 2006, quando perdeu para o próprio Lula); do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi ao segundo turno em 2018 (quando perdeu para Jair Bolsonaro) e, na atual gestão, teria muito espaço na mídia, devido aos trâmites para aprovar o arcabouço fiscal e a reforma tributária; e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que ficou em terceiro lugar na última eleição e apoiou a candidatura de Lula no segundo turno.
Dino aparecia nessas listas, mas no pelotão que vinha mais atrás, junto a nomes como o da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o do Desenvolvimento Social, Wellington Dias.
Em cinco meses de governo, porém, o senador maranhense pulou várias casas e tem se mantido como o nome de mais destaque no entorno lulista. A consequência desse sucesso é o ainda discreto ciúme entre os colegas. Como ainda falta muito tempo para a próxima eleição presidencial, porém, esse ciúme não leva a medidas mais drásticas, como fogo amigo ou puxadas de tapete.
Como a CPMI dos Atos Antidemocráticos vai impactar esse processo. A conferir. (Metrópoles)
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