Contradições de delatores podem livrar Lobão e Roseana na “Lava Jato”
Eduardo Cunha empilhou interrogações na nota que divulgou no sábado para manifestar seu incômodo com o que chama de “seletividade” do procurador-geral da República Rodrigo Janot. “A pergunta que não quer calar é onde estão as demais denúncias?”, anotou o presidente da Câmara. “Onde estão os dados dos demais investigados? Como estão os demais inquéritos?” Janot absteve-se de responder.
Na véspera, a defesa do ex-ministro Edison Lobão endereçara à Polícia Federal um ofício que ajuda a explicar o que sucede. Convidado a submeter-se a uma acareação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que o arrastou para a lama da Lava Jato, Lobão deu-se ao luxo de dizer não. “Meu cliente queria fazer a acareação, mas eu desaconselhei”, disse, ao blog do Josias, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o advogado de Lobão.
Ex-ministro de Minas e Energia, Lobão responde a inquérito no STF ao lado da ex-governadora maranhense Roseana Sarney. O delator Paulo Roberto acusou-o de pedir propina de R$ 2 milhões para usar no financiamento da campanha de Roseana ao governo do Maranhão, em 2010. Segundo ele, coube ao doleiro Alberto Youssef providenciar a entrega da encomenda, em dinheiro vivo. Interrogado, Youssef negou, enfiando dentro do processo uma contradição letal.
Há quatro meses, a PF colocou Paulo Roberto e Youssef frente a frente. Submetidos a uma acareação, mantiveram as declarações de depoimentos anteriores. Youssef não contestou a existência ou não do pedido de Lobão e do repasse a Roseana. Mas ele foi categórico ao reafirmar que não realizara a entrega do dinheiro.
Um dos dois está mentindo. O mais grave é que ambos assinaram acordos de delação. Em troca de favores judiciais, comprometeram-se a confessar seus crimes e entregar os comparsas. Os acordos prevêem o cancelamento dos benefícios caso os delatores sejam apanhados mentindo. Mas não há notícia de anulação. Ao contrário. Paulo Roberto, que estava em prisão domiciliar, acaba de migrar para o regime semiaberto.
Ao convidar Lobão para se contrapor a Paulo Roberto, a PF expôs o seu drama: continua rodando em falso ao redor das contradições dos delatores. Pediu a prorrogação das investigações até o final do ano. As divergências relacionadas a Lobão e Roseana não são as únicas. O ex-diretor da Petrobras e o doleiro apresentam versões diferentes em seis casos. Entre eles o que envolve o repasse de R$ 2 milhões para a campanha de 2010 de Dilma Rousseff, supostamente solicitado pelo ex-ministro petista Antonio Palocci.
Kakay, o advogado de Lobão e Roseana, sustenta que “a acareação já realizada entre Paulo Roberto e Youssef, desmoralizou a delação premiada.” Por quê? “Se a Polícia Federal e o Ministério Público não acreditam nos delatores, a ponto de pedir uma acareação, é porque alguma cosia está errada. Os dois teriam que perder os benefícios. Esse inquérito, para mim, está morto. Não há como oferecer denúncia. E não faria sentido o meu cliente submeter-se a uma acareação com um personagem que precisa sustentar a sua versão, sob pena de perder os benefícios obtidos como delator.”
Na parte que corre no STF, a Lava Jato resultou na abertura de 25 inquéritos. Juntos, envolvem 50 pessoas. Desse total, Janot denunciou formalmente apenas dois encrencados: Eduardo Cunha e o senador Fernando Collor. A descoberta de suas contas secretas na Suíça deve render a Cunha uma segunda denúncia. E nada dos demais investigados. Entre os que permanecem a sombra está o presidente do Senado, Renan Calheiros. Estão também, para irritação do presidente da Cunha, os senadores petistas Lindbergh Farias e Humberto Costa, ambos beneficiados com contradições dos delatores.
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