A conexão Miami
Ficaram as lagostas, os bacalhaus, os salmões, vinhos, champagnes, e foram-se os comensais. Ficaram as dívidas, o déficit na segurança pública, o déficit na educação, na saúde, e os bólidos cortaram o ar partindo do Maranhão para os Estados Unidos. Ficaram os cofres vazios, os estudantes no chão, as obras inacabadas, as superfaturadas, e eles partiram, coloridos, ricos, felizes, distraídos para a platinada Miami.
Na terra de todos os ricos, nem sentem saudades do povo empobrecido que ficou aqui; nem querem saber como será feito para recuperar o Estado, devolver sua dignidade, colocar o Maranhão nos trilhos do desenvolvimento, do progresso, por fim à pobreza absoluta, reativar a agricultura desprezada, cortar gastos estratosféricos com propagando oficial. Só querem passear, viver uma vida de primeiro mundo e, quem sabe, até esquecer o reinado que tomaram e solaparam no Maranhão.
É hora de caminhar na cidade das águas, de nadar, de surfar na temperatura agradável das águas cristalinas do Oceano Atlântico, de sonhar na areia, estarrar-se no Metropolitan sem nenhuma preocupação com denúncias, discursos, jornalistas, promotores, juízes, cada vez mais convencidos do “Direito Divino dos Reis”.
Nessa terra mágica, ninguém os incomodará se acaso se alimentarem de lagostas e iguarias importadas; ninguém os acusará de dar sumiço em banheiros e estradas vicinais, pois que habitam agora um mundo de mármore, sem cheiro de pobreza, sem crianças, sem escolas, sem hospitais entupidos, sem essa proliferação de pacientes acusando o governo de não trabalhar.
Chegaram, finalmente, ao balneário dos príncipes, onde as águas não são sujas e os coliformes descem para onde têm que descer. Viver em Miami, longe de São Luís, longe de Brasília, o mais distante possível da Justiça Federal. Quem sabe até se candidatarão aqui e aqui também se tornarão reis e rainhas, nessa terra sem protestos, sem atos públicos, sem policiais revoltados e professores brigando por melhores salários e lavradores querendo mais apoio à agricultura familiar.
A “Conexão Miami” torna-se, assim, o sonho de liberdade de quem nunca esteve disposto a governar, mas sempre esteve disposto a ficar rico até não caber mais.
Sem coroa, nem cetro, mas ainda com grande parte do tesouro é, porém, melhor não esquecerem que aqui também ficaram suas dívidas com a Justiça, que o que receberam das lavanderias ainda pode ser cobrado. Miami Beach, na proximidade dos paraísos fiscais, talvez não seja um refúgio tão seguro quanto julgam, pois, apesar da distância, essa cidade também está no caminho da Interpol.
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