Com participação de Sarney, Bolsonaro conversa pela primeira vez com Alberto Fernández
Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, conversaram nesta segunda-feira pela primeira vez desde a eleição do argentino, há pouco mais de um ano. A conversa ocorreu por videoconferência e contou também com a participação do ex-presidente José Sarney.
A reunião foi anunciada pelo governo argentino, em nota divulgada no domingo, e não constava na agenda de Bolsonaro. Os dois têm um histórico de acusações mútuas.
Bolsonaro estava no Palácio da Alvorada, acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha. Já Sarney participou da sua casa. A conversa durou cerca de 45 minutos.
De acordo com comunicado divulgado pelo governo argentino, Fernández disse na reunião que é o momento de “abandonar diferenças do passado e encarar o futuro com as ferramentas que funcionem bem entre nós”. O presidente argentino defendeu uma cooperação na área ambiental, um ponto que pode causar atrito com o Brasil.
Também segundo o governo argentino, Bolsonaro disse que as Forças Armadas dos dois países tem uma “integração excelente” e defendeu parcerias contra o narcotráfico e outros tipos de crimes transcionais. O brasileiro ainda ressaltou que o Mercosul “é nosso principal piar de integração”, mas pediu uma reforma para tornar o bloco “mais ágil e menos burocrático”.
Data lembra encontro histórico
A conversa foi marcada para esta segunda-feira em celebração ao Dia da Amizade Argentino-Brasileiro, data que marca o encontro entre Sarney e os ex-presidente argentino Raúl Alfonsín em Foz de Iguaçu, em 30 de novembro de 1985. Por isso o ex-presidente brasileiro foi convidado a participar.
O encontro entre Sarney e Alfonsín difundiu a ideia da integração econômica e política do Cone Sul, conforme os dois países deixavam para trás seus períodos ditatoriais. O encontro é considerado um primeiro passo importante para a fundação do Mercosul.
Antes da reunião, o chanceler argentino, Felipe Sóla, destacou a data em sua conta no Twitter. “Os governos mudam, mas a amizade entre Argentina e Brasil é indestrutível”, escreveu.
Troca de acusações
A relação entre Bolsonaro e Fernández foi marcada por vários momentos de tensão até aqui. Antes da vitória do argentino, Bolsonaro repetiu muitas vezes que torcia pela reeleição de Mauricio Macri. Na mesma época, Fernández, por sua vez, visitou Lula na prisão, em ato considerado provocativo pela direita brasileira.
Após a vitória, houve tentativas de moderação do discurso, mas o brasileiro não compareceu à posse do vizinho, quebrando uma tradição de décadas. Em março, os dois chegaram a marcar um encontro na posse do presidente uruguaio Luis Alberto Lacalle Pou, mas Fernández acabou não indo ao Uruguai, por um compromisso. Depois, no mesmo mês, os dois se evitaram em reuniões virtuais sobre pandemia de coronavírus, realizada entre países da América do Sul.
Apesar de tentativas de aproximação — no decorrer do ano, Bolsonaro recebeu o chanceler argentino, Felipe Solá, e o embaixador do país no Brasil, Daniel Scioli —, as críticas não cessaram. O presidente brasileiro frequentemente vincula o governo vizinho ao socialismo e já criticou diversas vezes a gestão de Fernández durante a pandemia. O Globo
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