Carteirada resolve?
Por: José Reinaldo Tavares
O deputado Gastão Vieira resolveu encampar uma tese antiga da oligarquia para tentar explicar os péssimos indicadores sociais que caracterizam os seus governos e envergonham o Maranhão. A tese é a de que os moradores da área rural vivem muito bem, apenas não usam dinheiro em suas transações diárias.
Assim, para o deputado, esses indicadores – só encontrados nas nações mais atrasadas do mundo e que geralmente são administradas por ditaduras – não são verdadeiros, embora realisticamente expostas nas pesquisas do IBEG e da Pnad, e não expressam a realidade da vida dessas pessoas. Essa tese simplista e mistificadora tem por base a mesma argumentação que levou o ex-presidente José Sarney a dizer que casas de taipa cobertas de palha e sem banheiro e nem água encanada era o que o povo dessas áreas queria, pois era lúdico e assim preferiam viver.
Toda essa argumentação existia quando ainda tentavam explicar a pobreza do Maranhão que, na verdade, é fruto da ação de governos descomprometidos com a solução para esses graves problemas: ou seja, governos da oligarquia.
A tese é tão estapafúrdia que basta conhecer o que divulgou o IPEA semana passada em São Luís, quando afirmou que entre 2004 e 2009 o Maranhão tirou da extrema pobreza 47% das pessoas que sofriam nessa faixa no estado. Foram mais de 800 mil pessoas que passaram a ter uma vida melhor nesse período por causa das políticas adotadas pelo meu governo e o de Jackson Lago no período. E observem que no Brasil inteiro foi de 42% a redução e no Nordeste, com estados mais similares ao nosso, foi de 40%. Nenhum estado teve um avanço maior do que o Maranhão. Foi a época em que o PIB passou de 15 bilhões de reais para 32 bilhões e a renda individual triplicou. E a área rural era a mesma! Como culpá-la pela inércia de governos descomprometidos com o nosso futuro? Se o deputado estivesse certo, como explica o que aconteceu entre 2004 e 2009? Vai dizer que foi o governo federal que ajudou? Em um momento que Sarney conseguiu isolar o governo federal do Maranhão?
Vou ajudar o senhor deputado: foi o afastamento da condução do governo pelas elites oligárquicas. Portanto, esta é a solução para o Maranhão: afastá-los definitivamente do governo. Só assim, deputado, veremos outro Maranhão, capaz de rapidamente mudar esse quadro que a revista Veja chamou muito apropriadamente de “Sarneyquistão”. Carteirada não vai resolver!
Atalhos também não.
As estatísticas do IBGE espelham a realidade que qualquer político conhece. Basta entrar na grande maioria desses povoados para ver o atraso e a privação de tudo quanto é infraestrutura social e o abandono do local. O ensino é precário e geralmente não consegue nem vencer o analfabetismo. Ao se entrar nas casas e visitar as famílias e conversar um pouco com elas, conhece-se e estarrece-se com uma luta pela vida que começa pela alimentação de cada dia.
Isso é o que tem que ser vencido, para que tenhamos indicadores sociais melhores. Era isso que fazíamos no meu governo e que Jackson Lago continuou em parte. Essa política comprometida com a população mais pobre do estado é que levou à melhoria espetacular dos indicadores sociais do Maranhão, resultados melhores do que qualquer outro estado brasileiro conseguiu no período… No entanto, a volta de Roseana Sarney ao governo levou ao abandono e/ou paralisação de todas essas políticas.
O deputado Gastão Vieira é reconhecidamente um homem inteligente, tanto que há alguns anos, em um momento achou que estava em um estado livre e disse em entrevista que o grupo a que pertencia era culpado pela pobreza do Maranhão em grande parte. Estava coberto de razão, mas esse grupo não o perdoou e ele passou a fazer parte do “livro secreto” do clã, em que são apostados os nomes daqueles que não merecem confiança total e, portanto, algumas portas do poder estão eternamente cerradas para si. Ele também conhece profundamente essa realidade que descrevi de nossas áreas rurais. Com efeito, ele deveria, em nome de sua inteligência, abandonar essas teorias e se concentrar em fazer seu grupo adotar (ou executar) as políticas públicas certas para mudar a realidade atual de pobreza. Mas, sabemos, é quase missão impossível!
E desta forma a educação vai despencando, como sempre acontece nos governos de Roseana. Como ela sabe que alguma coisa terá que fazer, pois estados vizinhos e com indicadores semelhantes, como o Piauí, já estão nos deixando longe, para trás, a pajelança começa a ferver.
Claudio de Moura e Castro, consagrado educador e consultor da educação, que escreve uma coluna quinzenalmente para a revista Veja, já esteve aqui chamado por ela. Esse é o repertório a que Roseana sempre lança mão… Naquele terrível governo concluído em 2002, que deixou 159 municípios sem ensino médio, ele também foi chamado. E tivemos o tele-ensino de segundo grau como alternativa sugerida. No entanto, ao ser concretizada, a iniciativa se revelou um terrível fiasco que nos atrasou muito na educação.
Agora já estão falando em alguma coisa parecida, alguma solução ‘mágica’. E lamentável falar isto, mas talvez se avizinhe um novo fiasco… No entanto, trabalho dedicado, foco, envolvimento das famílias, apoio, isto nem pensar. Para eles, isto dá muito trabalho, resultados a médio e longo prazo, e o mais importante, não gera bons filmes de propaganda tão ao gosto do governo. Impensável!
E assim vamos assistindo de camarote ao governo tenta tornar mais conhecido o seu Chefe da Casa Civil, o ex-prefeito de São Jose de Ribamar, Luís Fernando, enviado-o para fazer seminários no interior do estado, a fim de discutir o momento atual. Tais eventos produzem boas fotos no jornal, mas a missão acaba por se chocar com interesses dos deputados nessas regiões, gerando reclamações. No dia a dia ele se movimenta ao largo dos problemas e omissões do governo e não passa ao público uma imagem positiva. Desse jeito, Lobão o engolirá” com facilidade, pois é muito mais próximo da classe política.
E a ação do governo é tão ruim que até os acessos à nova Rodoviária de Imperatriz, feitos recentemente, estão afundando e a capa de asfalto, de tão mal feita, sumiu.
Não tem jeito…
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