Carne Fraca: delegado vê indícios de propina a PP e PMDB
Parte da propina paga no esquema desvendado pela Operação Carne Fraca ia para dois partidos políticos, o PMDB e o PP, segundo o delegado Maurício Moscardi Grillo, da Polícia Federal. Em entrevista na manhã desta sexta-feira, ele disse que, embora não fosse possível afirmar para quais políticos o dinheiro era destinado, os autos das investigações “deixam claro” esse vínculo entre o esquema e as legendas.
“Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claro: o PP e o PMDB”, afirmou Grillo.
O ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, Daniel Gonçalves Filho, foi citado pelo delegado como um dos que podem ter alimentado o esquema. Segundo o delegado, é possível presumir que Gonçalves, apontado como um dos líderes do esquema criminoso, tenha ocupado cargos públicos de relevância mediante coleta de dinheiro ilícito a seus “padrinhos”, ou seja, políticos que eventualmente o sustentassem nessas funções.
O esquema revelado pela operação mostra que funcionários de frigoríficos, entre eles alguns ligados às maiores empresas do mercado de carnes no Brasil, como BRF e JBS, corrompiam fiscais do Ministério da Agricultura por aprovações de certificados de qualidade de produtos que não tinham as condições mínimas, por lei, de ser comercializados.
Os delitos vão de produtos vencidos, reembalados e com rótulos adulterados, até adulterados, com carnes residuais que deveriam ser descartadas.
Havia uso de materiais como papelão e restos diversos em comidas preparadas e produtos enlatados, como salsichas, entre outros. Na divulgação da operação, a PF não individualizou as condutas de cada frigorífico.
Procuradas pelo site de VEJA, a empresa BRF declarou que “está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas”. Em nota, a JBS afirmou que a empresa e “suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e comercialização de alimentos no país e no exterior” e que “apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas”.
Em nota, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), afirmou que “o que as apurações da Polícia Federal indicam é um crime contra a população brasileira, que merece ser punido com todo o rigor. Neste momento, toda a atenção é necessária para separarmos o joio do trigo.”
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