Bolsonaro em MG: saída para o mar, licença para matar e tumulto
Em uma agenda de cunho eleitoral de dois dias em Belo Horizonte (quinta e sexta-feira), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República em 2018, disse, entre outras declarações polêmicas, que fuzilaria os idealizadores da exposição Queermuseu – que foi encerrada em Porto Alegre após protestos -, prometeu retirar o Brasil de tratados internacionais de direitos humanos, defendeu as mortes pela polícia e reafirmou que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merece ser estuprada por ser “feia” – o caso lhe rendeu uma condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF). De quebra, prometeu dar a Minas Gerais uma saída para o mar.
Bolsonaro deu entrevistas a um canal de TV e a uma emissora de rádio, se encontrou com o prefeito Alexandre Kalil (PHS) e palestrou para estudantes da Universidade Fumec. No aeroporto, discursou de improviso a seguidores. “Nós vamos satisfazer o desejo do mar de ganhar Minas, podem ter certeza disso.” Posteriormente, à Rádio Itatiaia disse que era piada. Ao palestrar para alunos da Fumec, deu a entender que a declaração foi distorcida e afirmou que grande parte da imprensa é “canalha”.
Nós vamos satisfazer o desejo do mar de ganhar Minas, podem ter certeza disso
Ainda à Rádio Itatiaia, Bolsonaro disse que é preciso “dar direito ao policial de matar”. “Se não for assim, esqueça o combate à violência. Violência se combate com energia ou com mais violência ainda”, afirmou. Ele também prometeu que fará um pente-fino no programa Bolsa Família para revogar dois terços dos benefícios. “Gastamos em torno de 29 bilhões de reais por ano com o Bolsa Família. Isso é vergonhoso para nós, porque alguém está trabalhando para sustentar essas pessoas.”
É preciso dar direito ao policial de matar. Se não for assim, esqueça o combate à violência. Violência se combate com energia ou com mais violência ainda
Bolsonaro também foi ao estúdio da TV Verdade, onde chamou a exposição Queermuseu de “excrecência”. A mostra em prol da diversidade LGBT foi cancelada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, após críticas de grupos religiosos e do Movimento Brasil Livre (MBL) por suposto desrespeito religioso e incentivo à zoofilia e à pedofilia. “Tem que fuzilar os autores dessa exposição. Esses caras estão fazendo uma maldade com as criancinhas. É uma força de expressão, mas tem que fuzilar.”
Gastamos em torno de 29 bilhões de reais por ano com o Bolsa Família. Isso é vergonhoso para nós, porque alguém está trabalhando para sustentar essas pessoas
Tumulto em palestra
Na Fumec, houve tumulto entre alunos favoráveis e contrários ao deputado. Ao menos duas pessoas foram presas por terem feito comentários de teor racista e homofóbico. Bolsonaro foi recebido nos corredores da universidade aos gritos de “lixo”. No auditório, criticou seus detratores. “Esses que estão gritando aí fora, qual é o futuro deles no mercado de trabalho? Bolsa Família”, disse. A palestra foi interrompida diversas vezes por pessoas que conseguiam passar pelo controle da entrada e xingaram o pré-candidato. Do lado de fora, estudantes entoaram cantos contra o parlamentar e tocaram músicas, principalmente da cantora Anitta, em alto volume.
Em certo momento, Bolsonaro afirmou que seus opositores tinham “cérebro de ovo cozido”. O público da palestra foi ao delírio e passou a gritar “ovo cozido” para uma pessoa que estava sendo expulsa pelos seguranças.
O deputado distribuiu frases de efeito durante a exposição de pouco mais de uma hora. “A política ambiental está matando o Brasil”, afirmou no início do seu discurso. “Mais do que defender a liberdade de vocês, a arma defende a liberdade do povo”, disse em outra ocasião. “Nós temos que ter uma só nação, que volte a comemorar o dia do papai e o dia da mamãe”, declarou.
Ele ainda defendeu a ditadura chilena de Augusto Pinochet e disse que as eleições no Brasil são fraudadas. “Ninguém aqui tem como provar que não houve [fraude]”. Ao tratar de política externa, Bolsonaro reconheceu que tem “limitações”, mas declarou que “não teria pacto de direitos humanos com ninguém”. Também se mostrou favorável à legalização da maconha para fins medicinais e defendeu a redução da maioridade penal para 14 anos.
Mais do que defender a liberdade de vocês, a arma defende a liberdade do povo
Em outro momento polêmico, Bolsonaro disse que vai “enfrentar” o processo que responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário “porque ela não mereceria”. Ele disse que fez a declaração por ter sido chamado de estuprador. “Respondi, sim, de forma deselegante, sim. Você não merece ser estuprada, você é muito feia. Os atributos estão ali. Quando me chamam de estuprador, eu tenho que rir e achar que tudo bem?”, declarou. (Veja)
Respondi, sim, de forma deselegante, sim [à deputada Maria do Rosário, do PT-RS]. Você não merece ser estuprada, você é muito feia. Os atributos estão ali. Quando me chamam de estuprador, eu tenho que rir e achar que tudo bem?
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