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“Aqui não há lugar para Ex poema”

Blog do JM Cunha Santos

Foi o poeta João Alexandre Júnior o autor da manchete, nos tempos em que jovens poetas, quase sempre sem livros publicados, cultivavam uma página literária no Jornal Pequeno, cerzindo versos disformes que desafiavam o conceito de poesia e as imagens lúdicas da época. Eram versos que sobremaneira irritavam o gosto acadêmico, o arcadismo, o sabor barroco da literatura descompromissada das questões sociais e selecionada pela ditadura militar. “Aqui não há lugar para Ex Poema” foi uma reação da juventude à virulência das críticas, entre gentes famosas que não resistiam ao perfeccionismo parnasiano de Olavo Bilac e Raimundo Correa, contra as coisas e a forma que a juventude queria dizer.

Mas “Aqui não há lugar para Ex Poema” era também uma reação à força bruta do latifúndio, representado pela exposição agropecuária nascente em São Luís, numa época em que o homem do campo era tangido a ferro e fogo do interior do Estado para viver em bolsões de miséria na capital – as chamadas invasões que deram origem a vários bairros em São Luís. Era a resposta de uma juventude inconformada com o apoio do sarneisismo, da ditadura e do Estado que a latifundiários, grileiros e empresas agropecuárias cedia a polícia na condição de guarda pretoriana para o cometimento dessa diáspora violenta e injusta que, sem nenhuma dúvida, contribuiu para o atraso do Maranhão. Os lavradores apanhavam lá e aqui quando chegavam para ocupar terrenos que também já tinham “donos”.

Descortina-se hoje uma polêmica em torno da Expoema e que pela manhã mereceu, inclusive, o mais ensandecido dos discursos do deputado Edilazio Júnior, tratando o governador do Estado de caloteiro e outros adjetivos impublicáveis. A essa polêmica, construída mais no monopólio de comunicações do senador José Sarney que em qualquer outro lugar, o governador Flávio Dino deu algumas respostas. Disse que a versão de que o governo acabou coma Expoema é absurda, inclusive porque se trata de evento privado, não governamental. Explicou que o que o governo não concorda é com uma área imensa ficar sendo usada somente uma vez por ano e adiantou que o governo vai, realmente, retomar a área para melhor gerir, garantindo que a Expoema pode e deve se realizar, como já foi esclarecido várias vezes. E declarou que áreas públicas devem ser geridas pelo Poder Público, visando ao interesse público.

Mas quem conhece a história do Maranhão sabe que falar em interesse público para esse pessoal de Sarney é malhar em ferro frio. E que o diga a Operação Lava Jato. O “Aqui não há lugar para Ex Poema” dos poetas do Jornal Pequeno, censurados, proibidos, criticados e perseguidos daquela época, talvez não caiba mais. A ditadura se foi e até onde se sabe diminuiu muito a violência no campo. Além do que temos, hoje, um governo que, de fato, constrói, apoia e patrocina a agricultura familiar. Mas cabe um “Aqui não há mais lugar para o poder de Sarney”.

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