Após perder vaga no STJ, maranhense Ney Bello atribui derrota a veto de Nunes Marques
Preterido para uma das vagas abertas no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o desembargador maranhense Ney Bello atribuiu a derrota à pressão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em mensagem encaminhada a amigos por meio de um aplicativo de mensagens nesta segunda-feira, após a publicação das indicações Messod Azulay e Paulo Sérgio Domingues, o desembargador disse que viu “a vitória sucumbir a um único veto de maneira pessoal que foi acolhido pelo presidente” Jair Bolsonaro.
Embora a mensagem não cite nominalmente Nunes Marques, nos bastidores o desembargador atribui o veto ao ex-colega de tribunal — os dois atuaram juntos no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Interlocutores da disputa na cúpula do Judiciário afirmam que o ministro do Supremo foi categórico e enfático em sua rejeição ao antigo colega de tribunal.
“A vida segue e os amigos construídos na estrada são o patrimônio que verdadeiramente importa. Com as amizades, eu sigo firme. Vida que segue. Infinitamente obrigado”, escreveu Ney Bello na mensagem, que tinha o objetivo de agradecer o apoio recebido por integrantes do Judiciário.
A indicação dos novos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) após quase três meses de espera foi selada neste domingo após uma série de reuniões no Palácio da Alvorada. Para definir os nomes de Messod Azulay e Paulo Sérgio Domingues, o presidente recebeu na residência oficial Nunes Marques e o presidente do STJ, Humberto Martins, que foi acompanhado do ex-presidente e ministro da Corte Francisco Falcão.
A bateria de encontros no Alvorada serviu para que Bolsonaro definisse, sobretudo, uma das duas vagas que estavam abertas. Uma delas já estava garantida para Messod Azulay, que teve como principal apoiador o senador Flávio Bolsonaro.
A disputa foi travada pela segunda vaga: de lado, o desembargador Ney Bello, apoiado por Gilmar Mendes e desafeto de Nunes Marques. Do outro, o nome de Domingues, que passou a ser defendido pelo primeiro ministro indicado por Bolsonaro ao Supremo como contraposição ao ex-colega de Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
O martelo em torno do nome de Domingues foi batido ainda na tarde de domingo, depois que Nunes Marques, Martins e Falcão foram recebidos pelo presidente. Durante o encontro com os integrantes do STJ, Bolsonaro foi informado de que a próxima presidente da Corte, Maria Thereza de Assis Moura, também apoiava o nome do desembargador de São Paulo.
Nesta segunda-feira, Nunes Marques elogiou os indicados por Bolsonaro e disse que são “bons nomes” para integrar o tribunal superior.
Pessoas muito próximas a Bolsonaro ouvidas pelo GLOBO afirmaram que, reservadamente, o próprio presidente se disse impressionado com o acirramento da disputa. Segundo esses interlocutores, o número de telefonemas para “queimar” os candidatos superava, em muito, aqueles dirigidos a apoiar este ou aquele nome. Ainda de acordo com esses relatos, Bolsonaro não tinha reservas em relação ao nome de Bello — tendo prevalecido, finalmente, apenas o veto do ministro do STF.
No STF, a escolha de Bolsonaro tem sido percebida como uma demonstração da força de Nunes Marques junto ao presidente, uma vez que conseguiu derrotar o nome defendido por Mendes, um dos ministros com maior articulação política da Corte. A percepção dos ministros, contudo, não é a de que o primeiro nomeado por Bolsonaro exerça a mesma entre os colegas, e que o embate com o decano do Supremo pode aumentar ainda mais o seu isolamento no tribunal.
Nesta segunda, uma série de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) manifestaram apoio às escolhas de Bolsonaro, que ainda precisam ser sabatinados pelo Senado. No Congresso, aliás, já se fala que as sabatinas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) não devem ser tratadas como prioridade em razão do tempo necessário para os trâmites e pela própria dificuldade de reunir a comissão para as sabatinas neste período eleitoral. (O Globo)
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