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Antes de vencer disputa com Renan, Davi Alcolumbre já havia derrotado o grupo político de José Sarney

Antes de vencer disputa com Renan Calheiros, senador do DEM já havia derrotado o grupo político de José Sarney

Apoiado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Davi Alcolumbre (DEM-AP) desafiou o então todo-poderoso Renan Calheiros (MDB-AL) e, após dois dias de duros embates em plenário, venceu a eleição para a presidência do Senado . Mas esta não foi a primeira vez que o senador colocou em dificuldades um cacique do MDB.

Davi Alcolumbre recebeu 42 votos, contra apenas cinco de Renan Calheiros, que contava com o apoio de José Sarney e abandonou a disputa durante a votação. Sua candidatura foi beneficiada pela desistência de outros senadores contrários ao emedebista – Simone Tebet (MDB-MS), Major Olimpio (PSL-SP) e Alvaro Dias (PODE-PR) anunciaram em discursos na tarde deste sábado que não concorreriam.

Para tentar viabilizar o voto aberto para a presidência da casa – movimento considerado prejudicial a Renan Calheiros, mas que acabou derrubado pelo presidente do STF, Dias Toffoli – Alcolumbre se antecipou aos rivais e ocupou a cadeira da presidência do Senado no início da tarde de sexta-feira. Um ato aparentemente banal, sentar à cadeira garantiu o êxito da manobra que levou à aprovação de voto aberto e deu a ele o controle do Senado em um dia crucial. Uma de suas medidas foi exonerar Luiz Fernando Bandeira de Melo Filho, secretário-geral do Senado e aliado de Renan.

Por sugestão do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alcolumbre sentou-se na cadeira da presidência às 14h45m, quinze minutos antes do início da sessão de posse dos senadores eleitos, e só abandou o posto depois das 22h15m, quando terminou a segunda e mais tensa sessão do dia. Aliada de Renan Calheiros (MDB-AL) — que tenta presidir o Senado pela quinta vez — a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) até tentou, com apoio de outros senadores, desalojar Alcolumbre. Mas o senador do Amapá resistiu no posto até o fim.

Com 41 anos de idade, Alcolumbre é um dos mais jovens senadores em atividade. O senador iniciou carreira política em 2000, quando se elegeu vereador de Macapá. Dois anos depois, se elegeu deputado federal. Após completar três mandatos na Câmara, se elegeu senador. Nas eleições para o Senado em 2014, Alcolumbre também provocou surpresa ao derrotar o ex-senador Gilvam Borges. Um dos caciques do então PMDB, Borges contava à época com o apoio de ninguém menos que o ex-presidente José Sarney, um dos políticos mais influentes do país.

A trajetória política do senador não sofreu avarias nem mesmo depois que ele entrou no radar da Operação Miquéias, da Polícia Federal. Em 2013, Alcolumbre, então deputado federal, foi investigado por supostas ligações com o doleiro Fayed Trabouli, num escândalo sobre desvios de dinheiro de fundos de pensão.

Quando as informações sobre os supostos vínculos dele com o doleiro vieram à tona, Alcolumbre confirmou, ao GLOBO, que manteve algumas conversas com Fayed.  Os dois tinham sido apresentados um ao outro no cafezinho da Câmara. O senador negou, no entanto, que tem tratado de assuntos financeiros.

— Falamos sobre política e economia. Falei das forças políticas do meu estado. Ele me perguntou se Sarney era bom para o Amapá porque ele não é de lá — disse Alcolumbre, na época.

As investigações da Operação Miquéias foram barradas no Supremo Tribunal Federal (STF). Relator do caso, o ministro Marco Aurélio Mello decidiu anular interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no período. Sem os embaraços da investigação, Alcolumbre candidatou ao Senado no ano seguinte, 2014, e derrotou Gilvam Borges, apoiado por Sarney.

Ano passado, o senador se candidatou ao governo no Amapá, mas acabou ficando em terceiro lugar. Com a derrota, o senador voltou ao Senado e passou a buscar um cargo ainda mais alto. Com o apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Alcolumbre decidiu concorrer com Renan à presidência do Senado.

O apoio do ministro provocou fissuras no governo e forçou Lorenzoni a sair da linha de frente da disputa. Na sessão desta sexta-feira, o senador do DEM acabou beneficiado pelo movimento de senadores que não querem a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado.

Alcolumbre tem posições políticas consideradas flexíveis. Ele está no DEM, mas já foi do PDT. Nas eleições passadas se aliou a políticos de vários partidos, entre eles o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), considerado um dos expoentes da esquerda no Senado.

Coube a Randolfe, aliás, apresentar um dos primeiros requerimentos de voto aberto para escolha do presidente do Senado. Exatamente como queria Alcolumbre.

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