Adversários de Lula e Bolsonaro miram 49% de indecisos no Datafolha
Enquanto a última pesquisa do Instituto Datafolha mostra a preferência do eleitorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 41% das intenções de voto, e pelo presidente Jair Bolsonaro, com 23%, articuladores de candidaturas de centro tentam se apegar aos números de indecisos para justificar a viabilidade da terceira via. Faltando cerca de um ano e meio para a eleição presidencial, quase metade dos eleitores diz que não sabe em quem votar quando o entrevistador não lhe apresenta os nomes de quem deve concorrer.
De acordo com o Datafolha, 49% dos eleitores não disseram o nome de nenhum candidato na pesquisa espontânea. O número é semelhante a de levantamentos feitos em momentos semelhantes de eleições passadas pelo menos instituto. Os indecisos eram 52% no fim do primeiro semestre de 2017 e 50%, no mesmo período de 2013. Analistas acreditam que há espaço para uma eventual candidatura de centro crescer entre jovens e desempregados, grupos atingidos diretamente por restrições da pandemia do coronavírus e a crise econômica.
Entre os desempregados que desistiram de procurar trabalho, 63% não souberam citar o nome de nenhum eventual candidato quando questionados sobre em quem pretendem votar e o entrevistador não apresentou a lista de quem deve concorrer. O índice supera a metade também entre donas de casa (56%), estudantes (55%) e desempregados que procuram emprego (53%), de acordo com o levantamento. A região Sul tem o maior percentual de indecisos: 56%.
Por outro lado, o voto está mais consolidado entre quem tem mais estabilidade financeira. Há 35% de indecisos entre empresários, 38% entre funcionários públicos, 44% entre aposentados e 47% entre assalariados sem registro. Moradores do Nordeste, reduto eleitoral de Lula, são os menos indecisos (42%). A região é a que dá maior rejeição a Bolsonaro.
Falta de nome
O ex-ministro Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, diz que a pesquisa mostra que o candidato com potencial para arrebatar votos que não vão para Bolsonaro nem para Lula ainda não foi posto em jogo. Nem Sergio Moro nem Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Doria (PSDB) ou João Amoêdo (Novo) atingiram 1% de citações na pesquisa espontânea. Na estimulada, quando a lista de possíveis candidatos é mostrada ao entrevistado, nenhum deles passou de 7%.
Kassab afirma ser muito cedo para confiar em números, mas diz enxergar algumas tendências, como a de um possível enfraquecimento de Bolsonaro que daria lugar a um candidato do chamado “centro” num eventual duelo com o PT.
— O termo derretimento é agressivo porque o presidente está no governo e pode ter a oportunidade de se recuperar. Mas é evidente que se o Bolsonaro tiver uma continuidade na sua fragilização, pode acontecer de ele ficar de fora do segundo turno e um candidato de centro enfrentar a esquerda — declarou.
O ex-ministro tem dito que o PSD terá candidato próprio à presidência da República, mas, em alguns estados, filiados à sigla gostaria de ter o apoio do PT.
Presidente do PSDB paulista e secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi afirma que os 49% de indecisos na pesquisa espontânea é um resultado esperado faltando mais de um ano para a eleição e rechaça que os nomes do centro tenham dificuldade em serem lembrados.
— As pesquisas (a esta altura) são um pouco de recall, reconhecimento. Conforme a eleição se aproximar vamos ter uma fotografia mais fidedigna do quadro eleitoral. Difícil dizer se Lula e Bolsonaro estarão no segundo turno. O que a gente observa é que Bolsonaro vem, dia após dia, perdendo não só popularidade como credibilidade — diz Vinholi.
Ele defende que João Doria será o nome que vai aglutinar as forças do “centro”, fortalecido pela questão das vacinas. Críticos do governador paulista lembraram que ele alcançou apenas 3% no Datafolha, embora tenha conquistado visibilidade ao antagonizar com Bolsonaro publicamente e tenha possibilitado, no estado, a produção da vacina CoronaVac pelo Instituto Butantan. Na pesquisa espontânea, o governador não alcançou 1%.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirma esperar dois movimentos para que seu correligionário, Ciro Gomes, possa ocupar um espaço maior do eleitorado. O ex-ministro tem 6% de votos na pesquisa estimulada.
O primeiro é um eventual crescimento na desaprovação de Bolsonaro. Além disso, Lupi diz considerar que a intenção de votos em Lula é alta devido à exposição positiva após a anulação de sua condenação na Lava-Jato pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o pedetista, Ciro consegue se mostrar forte apesar dessa situação.
— Apresentar 6% (de intenção de votos), depois da volta do Lula e durante um governo de poderosa máquina, é muito consistente. Essa quantidade enorme de gente, de 49% de indecisos, que não citam nome e ainda não tem definição, mostra a busca por uma alternativa. E trabalharei para que ela seja o Ciro — diz Lupi. O Globo
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