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A prioridade não é a vida, dos pobres, claro

Por: Chico Viana

O então governador Mão Santa gracejava quando nos comparava aos avanços do Piauí. Dizia: “Enquanto o Piauí faz transplantes de coração, o Maranhão trata seus pacientes em despacho de encruzilhada”. Afirmação intempestiva e sem fundamento. Por isso, magoou pouco o nosso brio.

Nos últimos anos, pelos menos dez, dói mesmo, e muito, constatar-se que o nosso Estado é realmente um exemplo humilhante de descaso na saúde pública, e se não recorrem à macumba, recorrem ao Piauí, tido e proclamado por muitos maranhenses como o fim do mundo, para atender nossa população. E os gracejos que ouvimos, ou lemos hoje, têm inegáveis fundamentos.

Eis algumas manchetes e comentários: HOSPITAIS DE TERESINA CANCELAM, DEFINITIVAMENTE, ATENDIMENTO A TIMONENSES – Dr. Pedro cansou de ser enganado pelo governo maranhense”. E justifica a medida: “O motivo do cancelamento é muito simples: o Governo Roseana Sarney nunca pagou a pactuação feita em abril, com a Prefeitura de Teresina, para ressarcimento de despesas que tem com a Fundação Municipal de Saúde, na ordem de 13 milhões gastos por mês. POR MÊS, não custa nada repetir, com atendimento de pacientes timonenses e municípios vizinhos”. Leia-se de Codó para lá.

É claro que o acerto não foi para pagar tudo de uma vez, mas aos poucos, e ocorreu que a Secretaria de Saúde não cumpriu o trato e deixou de repassar R$ 1.799 milhão acordado por cada mês de atendimento.

Outra manchete: POVO MORRE À MÍNGUA, E MURAD DÁ CALOTE BOMBAQUIM EM SECRETÁRIOS DO PIAUÍ – Murad, o truculento, ou povo que se dane. Qualquer dúvida,o link;http://www.portalhoje.com/tag/secretario-de-saude-do-maranhao-engana-secretarios-do-piaui-e-nao-aparece-em-encontro-da-crise-da-saude-marennhese.

A revista IstoÉ, de 29/07/2011, aponta um fabuloso esquema de desvio de recursos públicos na matéria “Fraudes em licitações colocam sob suspeita programa de construção de unidades de saúde da governadora do Maranhão, em um negócio de quase meio bilhão de reais”. A revista Veja já havia publicado, em sua edição de 21/03/2011, a verdade cristalina: “Sobra dinheiro, falta saúde no Maranhão. E é justamente nesta área que expomos a mal e a impiedade.

A Comissão de Saúde da Câmara Municipal visitou os Socorrões, e confesso que o íntegro vereador Fernando Lima foi até benevolente no relatório. A situação é pior. Agora, com certeza, não chegou a este estado de calamidade em dois anos e meio da atual administração municipal… vem de anos e anos de descaso, alguns até recentes.

Ora, como pode funcionar bem, sequer razoavelmente, um hospital projetado para atender uma população da capital – cerca de 1 milhão e 50 mil habitantes – e atende uma clientela de 6,1 milhões de maranhenses advindos de 215 municípios – Aí já deduzidos Imperatriz, onde existe um Pronto Socorro Municipal – recebendo por mês R$ 2,9 milhões do SUS e gastando R$ 10 milhões para mantê-los? E o próprio Piauí nos fornece os motivos que podem ser estendidos a todas as unidades de Saúde do Estado. Leiam: “O hospital ‘Alarico Pacheco’, de Timon (um dos seis regionais ainda feitos em 1982, há 29 anos), chegou a ser referência no Governo Jackson Lago, realizando 20 mil procedimentos cirúrgicos por mês (lógico, desde a pequenos procedimentos até cirurgias) “fechou suas portas depois de uma intervenção do secretário Ricardo Murad, colocando uma fundação privada para geri-lo. O resultado é que o hospital passou a atender só clínica materno-infantil, e começa a semana, no mais das vezes, sem nenhum médico”.

Assim é em todos hospitais regionais, uns desativados mesmo. e outros fazendo arremedo de atendimento. Agora me diga: dá para melhorar os Socorrões com o atual espaço físico e equipamentos, atendendo a uma população seis vezes mais do que foi projetado? E, enquanto a situação é grave, o governo estadual e outras instituições colaboram para o colapso final. E não é a primeira vez que isso acontece. Em 1985, um mês antes do carnaval, quando a então prefeita Gardênia assumiu, em sua primeira visita ao Socorrão I (Hospital Djalma Marques), teve que meter o pé em dois palmos de água que inundava o prédio, completamente sucateado e desativado – e era o único do município. E antes do carnaval, 9 de fevereiro, funcionava.

Dias atrás os jornais noticiaram que a despesa da reforma do Ipem, a princípio de 40 milhões, foi aditivada para 100 milhões. Daria para construir outro hospital igual. E também nos veio essa semana a notícia de que, a partir do fim do mês, vai paralisar totalmente, inclusive o parco serviço de atendimento de emergência. Esses pacientes foram para onde? “Para outros hospitais do Estado”, responde o Secretário. Quais, se só existe o Geral, hoje um hospital escola de uma faculdade particular e de pós- graduação? Não bastasse isso, incrementaram sem piedade a demanda dos Socorrões, desativando também o PAM Diamante e da Cidade Operária. O Centro Cirúrgico do Hospital Infantil, mais de ano; o Getúlio Vargas, de onde se valiam os aidéticos complicados e tuberculosos etc… Isso, é claro, sem falar nos 72 hospitais e 10 UPAs orçados em R$ 418 milhões, pagos R$ 241 milhões (até maio), e só entregues um de cada. Mas isso é outro assunto, tema do próximo artigo.

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