A Primavera Maranhense
Antônio de Lisboa Machado Filho*
“Em setembro, quando chega a primavera, no Maranhão é bonito de se ver o arvoredo com seus galhos bem floridos … oh, como “é lindo” as flores do ipê(…)”
Estes versos, da bela toada do Boi de Palha, orgulho do folclore da Cohab, revelam todo o esplendor desta época do ano, que se renova, em sua beleza floral, encantando a todos nós, ano após ano, cobrindo de amarelo, roxo e outras cores mais a flora do nosso Estado.
Tão mais bela que a nossa riqueza natural, dádiva de Deus aos Maranhenses, é a vontade de mudança, a ânsia por renovação, o espírito de inquietação que, já há algum tempo, vem consumindo corações e mentes das pessoas sensatas deste Estado – dos menos alfabetizados, dos intelectuais, dos explorados conscientes e inconscientes, dos politizados aos apolíticos, dos homens, das mulheres, das crianças, adolescentes, idosos, índios, afrodescendentes, homo afetivos, estudantes, operários, trabalhadores em geral, profissionais liberais, professores, religiosos, movimentos sociais, enfim, de todos os que sonham com um Maranhão de oportunidades para todos, e não para poucos.
Nessa seara, o que percebo é o lento, gradativo, progressivo – mas avassalador – desejo de que o Estado entre em uma nova era, uma era de resgate de várias gerações perdidas, uma era de ruptura com o estado de letargia que, há meio século nos consome, que jogou o Maranhão, irresponsavelmente, num marasmo que nos tornou referência nacional em atraso, pobreza, miséria, analfabetismo, concentração de renda, descaso, abandono, ineficiência da máquina pública, desvio de recursos, piores indicadores sociais do País, comparável a um Haiti, nação mais retrógrada de todas as Américas – a quem já não devemos mais quase nada. E nem mesmo a Bangladesh, Sri Lanka, Iraque – à exceção da guerra –, como também ao Afeganistão. Falo de um Maranhão de verdade, comparável, sim, a nações que travam suas próprias guerras sociais todos os dias, onde morrem, ainda em vida, inúmeros seres humanos, como aqui acontece todo santo dia!
E não é tão distante buscarmos Países do Oriente Médio para ilustrarmos o momento que vivemos. A bem da verdade, lá os Povos sempre viveram debaixo do relho de seus ditadores sanguinários, que sempre posicionaram seus interesses pessoais mesquinhos acima dos interesses da coletividade. E aqui não tem sido diferente. Só que os bravos Povos daquela sofrida região do mundo, não mais suportando o escravagismo em que viviam, subverteram a ordem instituída e, mesmo ao custo de muito sangue derramado, redigiram uma nova página na sua história, preterindo ditadores longevos como Ben Ali, da Tunísia, Hosni Mubarack, do Egito, Muammar Khadafi, da Líbia, e fragilizando outros, como Abdullah Saleh, do Iêmen e o temido Bashar Al Assad, da Síria. A coragem foi o sangue daqueles Povos, que se insurgiram contra seus algozes, reservando-lhes os grilhões do passado vergonhoso, sofrido e nada saudoso de sua própria história. Este movimento, denominado de A Primavera Árabe assegura àqueles bravos homens e mulheres de todas as gerações a vivência do orgulho de terem lutado contra tudo o que lhes oprimia. Para eles, derrotar o passado, que insistia em se perpetuar, representa assegurar um presente que lhes permita construir um novo futuro. E isso é belo. Digno de ser seguido por todos aqueles que vivem oprimidos, onde quer que seja.
E nós? Como nos posicionamos diante desses fatos que estão mudando o mundo e inserindo os Povos no terceiro milênio? Vamos continuar no segundo, atrelados à metade do século XX, perdidos na Idade Média Maranhense? Ou vamos dar continuidade a um processo que teve início em 2006, quando o nosso Povo exerceu, soberanamente, o direito de dizer não, nas urnas, ao passado que nos priva de vivermos a nossa primavera? Viver novos tempos, em que nos seja garantido e assegurado o direito de escolhermos o futuro que queremos viver significa oportunizar às pessoas deste Estado que possam escolher seu próprio destino, que possam renovar suas esperanças, que possam semear seus sonhos e colher nova realizações, tornando mais vívidas as cores das flores de nossos arvoredos com seus galhos bem floridos, que enfeitam os belos campos do Maranhão, de cujo Povo pobre – filho de um Estado rico –, há décadas, para a satisfação da vontade de terceiros, se vem subtraindo o direito de viver a sua própria primavera e de construir um novo amanhecer.
*Advogado, professor de Direito, Atualidades e Língua Estrangeira.
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