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“A ordem era para matar”, diz lavrador espancado por policiais militares em Bacabal

Do Jornal Pequeno – A ordem era para matar. Essa frase foi dita pelo lavrador José de Ribamar Neves Leitão, conhecido como “Riba”, em um vídeo que circula nas redes sociais no qual ele detalha o que sofreu nas mãos dos cinco policiais militares lotados no 15º Batalhão de Bacabal, que o acusavam de ter furtado carneiros da fazenda da qual ele era funcionário.

O lavrador, que estava desaparecido há sete dias, disse ter sido espancado e revelou ter conseguido fugir durante um descuido dos PMs. Vale lembrar que o tenente Francisco Almeida Pinho, o sargento Gilberto Custódio dos Santos e os soldados Marcelino Henrique Santos Silva, Rogério Costa Lima e Robson Santos de Oliveira foram presos na terça-feira (2), suspeitos pela morte do comerciante Marcos Marcondes Santos, conhecido como “Marquinhos”, encontrado em um matagal, na cidade de São Luís Gonzaga, depois de também ter sido levado pelos militares da porta de seu comércio.

A ação foi flagrada por câmeras de segurança. No vídeo feito no escritório do advogado do lavrador, local para onde foi levado depois de chegar à casa de uma irmã, ainda na madrugada de ontem, “Riba” contou ter deixado a fazenda em que trabalhava, na manhã da segunda-feira (1º), na companhia do sargento Custódio, que o chamou alegando que ambos iriam buscar sementes em uma localidade chamada São Sebastião.

No trajeto, a conversa mudou e o sargento, contou “Riba”, desceu do carro em que estavam e começou a questioná-lo sobre o paradeiro dos carneiros subtraídos da fazenda e, supostamente, vendidos ao comerciante Marcos Santos.

Outro veículo apareceu, e nele chegou o tenente Pinho. “Ele chegou foi logo batendo na minha cara e me empurrando. Pegaram minhas duas mãos, amarraram nas cordas e puxaram para trás. Amarraram meus pés e me derrubaram no chão. O sargento Pinho sentou em cima de mim e o senhor Gilberto agarrado na minha garganta, batendo na minha cara e me chutando”, detalhou o lavrador que revelou, ainda, ter tido água jogada no rosto coberto por uma toalha, na tentativa de que confessasse o furto e a venda dos animais.

“Riba” afirmou ter desmaiado e quando acordou foi colocado dentro da mala do carro. Nesse momento, os policiais tinham como destino a casa do comerciante, que ao ser encontrado foi jogado para dentro do veículo particular e ficou desaparecido até ser achado sem vida por familiares, na terça-feira (2).

MORTE DO COMERCIANTE E A FUGA DO LAVRADOR

José de Ribamar Neves Leitão também deu detalhes de como o comerciante Marcos Marcondes Santos, o “Marquinhos”, como era conhecido, foi morto pelos PMs. Segundo “Riba”, dentro do carro “Marquinhos” foi bastante agredido com socos no rosto e o tempo todo negando as acusações de que havia comprado os carneiros.

“Amarraram as duas pernas dele, derrubaram no chão perto de uma poça. Começaram a jogar água e bater. Um rapaz pulava com os dois pés no peito dele. Queriam que ele falasse, mas não davam chance de ele falar. Molharam uma camisa bem pesada e começaram a bater na cara dele, enquanto estava respirando, ele batia. Até que ele parou de respirar e não resistiu”, explicou.

Com o comerciante já morto, os policiais decidiram que iriam levá-los para a fazenda de “Marquinhos”. O plano, conforme a vítima, era simular que os dois tinham corrido e se escondido no mato, mas no caminho acabaram encontrando a mulher dele e mudaram de ideia.

Da mala do carro, o lavrador afirmou ter escutado o que estava sendo arquitetado pelo tenente Pinho, que sugeriu para os outros quatro segurarem o corpo do comerciante para ele atirar. Depois disso, um deles alvejaria o militar na perna para fingir um confronto. Toda a trama ocorreu e logo depois o alvo passou a ser o próprio “Riba”.

“Os quatro policiais saíram. Pegaram a arma, deram para o Gilberto, o genro do ‘velho’ da fazenda que eu trabalhava, e disseram agora mata, porque ele não pode chegar vivo em Bacabal”, relembrou, dizendo que pediu diversas vezes para não matá-lo, já ajoelhado e com o revólver apontado para sua cabeça.

O lavrador contou que a arma não disparou e ele começou a correr, tendo escutado vários disparos em sua direção. Durante todos esses dias, até chegar na casa de uma irmã, na Vila São João, o lavrador continuou fugindo com medo de ser encontrado pelos policiais e acabar assassinado como o comerciante.

DEPOIMENTO E PROTEÇÃO

Ainda nessa segunda-feira (8), José de Ribamar prestou depoimento na Delegacia Regional de Bacabal, para onde foi levado depois que o secretário de Segurança, Jefferson Portela, e toda a cúpula da pasta chegaram ao município. O pedido da presença do titular da SSP foi feito pelo pai do lavrador.

Além disso, o advogado de “Riba”, Bento Vieira, explicou que será negociado com a polícia o serviço de proteção à testemunha, para garantir a segurança do lavrador enquanto aguarda o fim do processo.

Os cinco policiais permanecem presos no presídio do Comando Geral da Polícia Militar, no bairro do Calhau, em São Luís, após terem prestado depoimento. Todos já foram reconhecidos pela vítima.

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