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Vale a pena viajar tanto?

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.           
Instagram: @Luiz.Thadeu                   
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E-mail: [email protected]

Em uma trip pelo mundo, após visitar Portugal, Holanda, Islândia e Polônia, desembarquei na Ásia; estou em Baku, Azerbaijão, 153° país visitado. É madrugada, faz 8°. Vou de táxi para o hotel, e vejo as luzes da cidade.

Algumas pessoas me perguntam por que viajo tanto, ainda mais que me locomovo com muletas. Respondo sempre, por que gosto, e foi a maneira que encontrei para superar os cinco anos que fiquei preso em casa ou a leitos hospitalares, após o grave acidente de carro que sofri em julho de 2003.

Esses dias, reli a crônica da jornalista gaúcha, Martha Medeiros, que talvez explique um pouco o que penso. Pensei nas muitas horas em aeroportos, voos atrasados, poltronas desconfortáveis, alfândega, imigração, coisa chatas e evitáveis para quem viaja.

“O que faz uma pessoa ficar enlatada em um avião por 11 horas, desembarcar num lugar desconhecido, comer e beber pagando uma exorbitância em euros, para então voltar para casa percorrendo as mesmas cansativas 11 horas, agora com um monte de dívida no cartão? Parece irracional, mas a morte é mais irracional ainda: irá nos tirar de cena a qualquer minuto, contra a nossa vontade. Como se rebate essa afronta? Com irracionalidades como o amor, o êxtase, as surpresas. Atravessamos a famosa faixa de pedestre de Abbey Road, escutando Beatles nos fones de ouvido, porque a morte está à espreita, é assim que a combatemos. Nos emocionando. Nos divertindo. Encontrando os mesmos amigos uma, duas, mil vezes, para reforçar o afeto. Se apaixonando, para andar na corda bamba. Assistindo a uma ópera, mesmo preferindo o rock. Lutando pelo bem-estar dos outros e participando de movimentos pacifistas, para deixar um mundo melhor lá adiante, quando não estivermos mais aqui. Criando arte, trilhando montanhas, fazendo filhos, não evitando os livros que nos fazem chorar, não fugindo de nada que nos faça sentir. A morte é absurda, fominha, violenta? Contra-atacamos com um entusiasmo afrontoso”, escreveu Martha Medeiro, em sua coluna semanal em O Globo.

O que leva uma pessoa ficar “enlatada”, de acordo com um texto de Martha Medeiros, por uma série de razões, como a sensação de aprisionamento em longos voos, o desconforto de um lugar desconhecido e as dívidas financeiras criadas para viajar. Ela utiliza essa expressão para descrever as contradições e o absurdo de certas experiências, como a própria jornada de viagem que, apesar de tudo, é vista como uma forma de viver a vida plenamente e encontrar um antídoto para o medo.

A expressão é utilizada em um contexto que descreve a experiência de ficar confinado em um avião por muitas horas, como se estivesse em uma lata.

A pessoa viaja para um lugar desconhecido, gasta muito dinheiro, para depois retornar ao ponto de partida com as mesmas dificuldades, mas com o acúmulo de dívidas.

Apesar do “absurdo” e do “desconforto”, viajar é visto como um ato de viver plenamente, para os que gostam, um antídoto para o medo da vida e uma forma de desafiar a rotina. Viajar é sair do lugar comum e descobrir novos mundos.

A crônica sugere que a vida é o que acontece entre o nascimento e a morte, e que a experiência da viagem, com seus desconfortos e prazeres, é uma forma de viver o “meio”. Para mim, viajar é ter o prazer de cruzar a soleira de casa, sair de minha zona de conforto, desbravar um mundo novo, conhecer lugares, encontrar pessoas, viver experiências, degustar sabores, sentir odores, que jamais experimentaria, se não saísse de casa. Somos seres de transição, estamos sempre mudando, buscando novos caminhos, novos motivos para ressignificar nossa existência.

Voltando ao texto, ele fala sobre as irracionalidades da vida.  E é verdade — viver é um desatino, e concordo com o poeta, também gaúcho, Mário Quintana, quando diz que “Viajar é renovar a roupa da alma”. A minha, apesar dos desconfortos das viagens, está sempre nova. E, mais, todo viajante se torna um bom contador de histórias. Do Azerbaijão, vou voar para mais novos destinos.

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