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Enrolão, cuidado com ele!

RUY PALHANO
Psiquiatra, Membro da Academia Maranhense de Medicina e Doutor Honoris Causa – Ciências da Saúde – EBWU (Flórida EUA).

Cresci ouvindo o termo enrolão sendo aplicado aos que enganam, mentem e embromam. São pessoas chegadas a complicar e a mentir, em geral estas são sedutoras, confusas e que gostam de enredar, como nos diz Aurélio. São pessoas chegadas às trapaças e a menosprezar sentimentos nobres de sinceridade, solidariedade e afeição aos que com eles se relacionam.

O enrolão sempre existiu ao longo da história e na sociedade, são pessoas por demais carimbadas e conhecidas entre todos. Em geral são frias, insensíveis e desprezíveis. São também despachados e oportunistas. O enrolão, ocorre predominantemente entre homens, muito embora as mulheres também possam sê-la.

O enganador, embusteiro ou enrolão não nasce de repente, pois, semelhantemente a outros traços humanos, este se desenvolve de forma lenta, insidiosa e progressivamente ao longo do tempo. Para o bem da verdade, todos nós temos um pouco deste traço, todavia, a maioria dos humanos não desenvolvem habilidades suficientes para se caracterizarem como tais.

Os primeiros passos no rumo dos embusteiros ocorrem bem cedo, no curso de nosso desenvolvimento, porém só se manifestam de forma franca e mais acintosa na adolescência e no início da idade adulta. É nas relações com outras pessoas que estes traços se tornam mais visíveis, até que eles passam a figurar como um traço marcante em sua personalidade. Geralmente, é do meio para ou fim da adolescência que estes traços são mais pronunciados e prosseguem na vida adulta e além.

Existem aspectos comportamentais comuns entre os enrolões, um deles é serem falastrões e mentirosos, isto é, “são afiados e bons de lábia e de papo”. Apresentam-se com habilidades surpreendentes no sentido de conversarem e convencerem os outros para enganá-los. Geralmente, falam bem e zelam por boa presença e aparência.

São simpáticos, amáveis, agradáveis, até onde podem. Demonstram uma preocupação com expressões, vocabulário e linguística corretas, para causarem uma boa impressão, ressalva-se que esses trejeitos só servem para embromarem. Por serem bons enganadores e trapaceiros, os enrolões, prezam para serem simpáticos, atenciosos e gentis, procurando agradar sempre suas presas. São loquazes e surpreendem as pessoas por suas habilidades.

Porém ao serem desmascarados(as) percebe-se que todo esse estereotipo no linguajar, nas atitudes e em suas ações escondem o vazio de bons propósitos, passando a revelar sua verdadeira intencionalidade, qual seja, a de “passarem a perna” em alguém.

O enrolão é esperto, sagaz, sabido e ardiloso, sabem muito bem onde querem chegar e o que tem que fazer para tirar proveito das pessoas e ocasiões e tudo em seus benefícios. As atitudes que adotam camuflam seus intensões para “dá o golpe” e conseguirem o que querem.

Suas atitudes vão desde a subserviência à obediência exagerada ou a subordinação, até a comportamentos de hostilidade, intimidação e amedrontamento aos outros. Essas armas podem ser utilizadas de conformidade com cada situação e com quem se relaciona.

A definição de uma coisa ou de outra, dependerá da importância e valor atribuído ao que eles querem conseguir. E, tão logo, é definido seu intento não medirá esforços para conseguir executar seus planos. O sorriso amplo, interesseiro, embora fugaz e enganador esconde a cilada que prepara para atrair a alguém.

O famigerado “tapinha nas costas”, é um grande exemplo disso. Abraços efusivos, cumprimentos gentis e pessoalizados, os enganadores sabem muito bem fazê-los. Pode, até no momento seguinte a um cumprimento, um abraço, um sorriso ou mesmo um elogio a alguém, virar as costas e se queixar ou falar mal desta pessoa e fazem isto com maestria.

O cinismo é outra marca do enrolão. Esse termo é aplicado aqui as pessoas incapazes de apresentarem sentimentos profundos, nobres, sinceros e autênticos nos relacionamentos pessoais. Este traço é o que não lhes faltam, pois trata-se de uma característica da sua personalidade ou algo intrínseco, constitucional a sua estrutura.

Os enrolões, comumente, são indiferentes e aparentemente independentes, todavia, no fundo são carentes de liberdade interior, de tranquilidade além de serem arrogantes e petulantes. Todas, condições que eles consideram imprescindíveis para agirem. Para os enrolões, a virtude é a indiferença absoluta, sobretudo aos mais nobres valores humanos.

O resultado das ações do enrolão quase sempre são maléficas às pessoas com as quais se relacionam. Podemos considerar tais pessoas vítimas dos enrolões, pois a relação dele com elas é inspirada no utilitarismo, no proveito, no oportunismo e no cumprimento dos seus planos e metas. Os danos, dependendo da natureza ou extensão deles (golpes) poderão ser graves e fatais ao ponto de atingir certas pessoas pela vida toda. Nesse interregno, há vítimas desses trapaceiros com perdas e danos para toda a vida.

Os recalques emocionais e morais podem ser permanentes e muitos não conseguem superar os danos sofridos pelos enrolões, sobretudo, financeiros, morais, sociais, afetivos e emocionais. Em princípio, os embusteiros querem se dar bem em tudo que fazem sem se preocuparem com as consequências de suas atitudes (condição popularmente conhecida como Lei do Gerson).

Não reconhecem que para se ter as coisas tem-se que lutar para consegui-las, todavia, para eles isso é o de menos, pois sem qualquer esforço querem que os outros consigam as coisas para si. Isto é, não fazem esforço algum ou muito pouco para auferir as coisas.

Por sofismarem e por serem exímios embromadores, agem de forma oportunística e aproveitadora, diante de suas vítimas, sem desprender esforços, afetos e responsabilidades sobre o acontecido. Tiram proveito de tudo que pode e se escondem sob o manto de vítima até a própria pessoa perceber que ele quer dar o bote.

A relação com as outras pessoas são sempre interesseiras e sempre utilizando de artimanhas e trapaças, maculado a confiança e a boa-fé, que os outros. Além do mais, apesar dos danos e do sofrimento que eles causam as outras pessoas, eles não reconhecem isto, pois são indiferentes não esboçando culpas, remorsos ou arrependimentos diante do que fizeram às mesmas, pois são atitudes planejadas, maliciosas e indiferentes. Portanto, tenhamos cuidados para não cairmos nas garras destes enrolões.

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