O essencial me basta

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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Com o passar do tempo, descobri que preciso de tão pouco para o meu bem viver.
Percebi, recentemente, que nunca fui bom em nada. Nunca fui o primeiro em coisa alguma. Nunca fui o bonito da rua, o inteligente da turma, o sedutor com as moças.
Nem jogar bola sei; não sei fazer poesia, não sei cantar, nem mesmo assobiar. Coisas triviais para muitos. Por tempos, pensei ser um fracasso ambulante.
Nasci sem talentos, – admiro os que nasceram ou desenvolveram algum.
Até pouco tempo não tinha confiança em mim mesmo. A timidez foi uma companheira constante. Deixei passar tantas coisas que desejei, pelo simples fato de ser tímido e/ou inseguro. Perdi promoções no trabalho; perdi oportunidade diversas; perdi amores. A insegurança é um açoite que nos pune sem dó e nem piedade. A insegurança castra sonhos, trava a vida. Não a faz avançar.
O tempo foi desenhando seu curso, e no ocaso da vida fui destravando, me reinventando. Não sei dizer onde virei a chave. Só sei que hoje, descobri um mundo novo dentro de mim.
Nem sempre encontro palavras certas para descrever o que sinto. Há coisas que eu não consigo dizer.
Sou errante do tempo, aprendiz nessa estrada incerta que trilho diariamente.
Às vezes sou maré cheia, um braço de rio, um rio inteiro, um mar de ilusões.
Outras vezes sou puro deserto, solo rachado, miragem, sol do meio dia.
“Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – Será arte?”, escreveu o poeta maranhense Ferreira Gullar.
Há inúmeras contradições no meu ser.
Houve um tempo em que eu pensei ser incapaz de “ganhar” o mundo, “voar” alto, até o infinito a perder de vista.
O tempo mostrou que eu sou capaz de romper barreiras, ultrapassar fronteiras, ir até onde os meus sonhos puderem me levar. Hoje, no silêncio da noite, quando olho onde cheguei, vejo que a vida levou-me para muito longe.
A vida foi, aos poucos, me moldando, abrindo uma janela para escapar as minhas frustrações, minhas limitações, minhas impossibilidades, minhas inseguranças. Foi me mostrando que eu não preciso “ganhar” o mundo, já que existe um mundo inteiro dentro de mim. E, tudo bem que não seja perfeito. Então pergunto, há alguém perfeito no mundo? De repente, sem cantar, nem assobiar, me peguei tendo mais jeito com as palavras do que com o caminhar.
Como não posso retroagir e nem conjugar o tempo e os sentimentos, sigo a lógica pretérita que tudo siga em frente, acompanhando o fluxo incessante do tempo.
Tudo bem que seja disperso, na maioria das vezes sem foco, com andar torto, e gostar de coisas simples. Contudo, descobri que existe um mundo inteiro dentro de mim, um mundo só meu. E, isso é maravilhoso. Descobri, somente agora, no outono da vida, ter a segurança de realizar desejos e sonhos que estiveram tão perto e ao mesmo tempo distantes.
O bom disso tudo é saber que preciso de tão pouco para acalmar a mente e seguir em frente, com entusiasmo e alegria de viver.
Quão bom saber que não preciso de drogas lícitas e ilícitas para suportar a dureza da vida; nem preciso de grandes coisas para estar bem.
O essencial me basta. O pouco que consegui juntar é suficiente para deixar-me feliz.
Não preciso me drogar para ser um gênio; não preciso ser um gênio para ser humano. Mas preciso de um orgasmo para ser feliz, e assim, saciar minha fome de vida.
Portanto, caro leitor, amiga leitora, se me permite um pequeno conselho: “Ouse, arrisque, não desista jamais e saiba valorizar quem te ama, esses sim merecem respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém nunca precisou de restos para ser feliz.” Clarice Lispector
A vida quer da gente é coragem.
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