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O olhar de ouro de Meireles Junior – alquimista da luz

MARIA CLÁUDIA BAIMA
Jornalista, maranhense e amante de tudo que é belo.

Se o artista é bom na sua arte, ser admirado é uma consequência natural. Mas se, além de admirado, o artista é querido e prestigiado faça chuva ou faça sol, aí a conversa é outra. Esse é o caso do fotógrafo Meireles Júnior, que lançou, recentemente, a segunda edição do livro “Joias da Arquitetura Civil Portuguesa – Casario de São Luís do Maranhão”. Na noite do evento, a chuva não brincou. O aguaceiro pedia um sofá e um bom filme na tela. Só que não. Nem acreditei quando vi a lotação da sala de eventos do belo casarão do Sesi, na praça João Lisboa. Claro que a surpresa durou pouco, pois quem conhece Meireles sabe que tudo que ele produz é categoria ouro.

A inspiração que Meireles encontra nas curvas e retas da arquitetura maranhense – seja divina ou humana, é infinita. Ele admite isso quando diz, em seu livro de 2008, que o Maranhão é um patrimônio de imagens. Esse olhar ilimitado e meio drone que ele tem para as nossas belezas faz com que uma noite chuvosa seja apenas um detalhe diante da possibilidade de encontrá-lo, ouvir suas histórias envolventes, apreciar a beleza tecida nos mínimos detalhes da produção e sentir a energia fina que permeia as pessoas que o admiram e o têm como amigo querido. Sim, Meireles cultiva amizades com a mesma maestria que captura a perspectiva mais essencial das formas. Minha percepção é de que, ao buscar o belo em tudo que vê, ele mantém essa mesma atitude com todos os seres – humanos ou não, animados ou não. Se o objeto é capturável, sua máquina obedece.  Se não é, seu coração se encarrega do serviço.

Para fazer nascer o “Joias da Arquitetura Civil Portuguesa – Casario de São Luís do Maranhão”, Meireles Junior atravessou o Atlântico e perscrutou as cidades portuguesas de Lisboa, Porto, Braga, Sintra, Guimarães, Coimbra e Fátima, a fim de “conhecer o passado e refletir sobre o futuro”, como ele escreve na apresentação do livro. Lembrei-me do Sankofa – símbolo africano adrinka que representa o retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro. Tudo a ver. Assim ele investigou as origens do estilo pombalino de construção, presente em muitos casarões da terra de Gonçalves Dias.

O nome desse estilo é uma homenagem a Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal, que liderou a reconstrução de 85% de Lisboa, após o grande terremoto de 1755. Esse estilo reflete inovações técnicas, urbanísticas e estéticas, combinando funcionalidade e resistência. Madeira, pedra e ferro eram combinados para garantir segurança e economia, resultando na “gaiola pombalina”, uma estrutura até hoje estudada como solução engenhosa. O livro conta tudo direitinho, na voz dos maiores especialistas da área. Se entre os patrícios a causa das gaiolas foi um terremoto, aqui entre nós foi um emaranhado de intrigas políticas e econômicas, envolvendo, inclusive, a expulsão dos jesuítas destas terras.

O que a máquina fotográfica de Meireles Junior tem feito sob seu impecável comando é um legado que privilegia os maranhenses. Com sua obra, temos um registro importante, mesmo para os que não se importam, pois, a força do coletivo é maior. Sem se deter nas agruras do ofício, Meireles faz malabarismo ao ser artista e empresário de si mesmo. Quando a cria está prestes a nascer à espera de patrocínios, começa uma via crucis. Com muita gasolina no tanque, força, foco e fé, entra em cena o intrépido e confiante Meireles. Eu e mais um monte de gente temos certeza de que o universo também se mobiliza, visto que as sincronicidades chegam com fartura. A magia acontece. O livro é impresso. A galera aplaude. A festa rola. Enquanto isso, um novo projeto germina na cabeça e no peito desse poeta da imagem e alquimista da luz. Diga aí, Meireles, qual será a próxima joia?

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