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Setembro, um mês de conscientização, acolhimento e esperança

RUY PALHANO
Psiquiatra, Membro da Academia Maranhense de Medicina e Doutor Honoris Causa – Ciências da Saúde – EBWU (Flórida EUA).

Ao longo dos anos, o mês de setembro se tornou um marco importante para a conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Desde 2015, o setembro Amarelo tem sido uma campanha essencial no Brasil e no mundo, promovendo discussões sobre saúde mental, oferecendo suporte a quem precisa e, acima de tudo, salvando vidas. Cada setembro traz consigo uma oportunidade renovada para refletirmos sobre o impacto do suicídio em nossas vidas, nas pessoas ao nosso redor e em nossa sociedade. Tratar esse tema é, sem dúvida, um desafio, pois envolve lidar com a dor, a angústia e o sofrimento de quem já não vê mais uma saída. Entretanto, também é um momento de esperança, solidariedade e ação.

Por muitos anos, o suicídio foi um tema considerado tabu, envolto em preconceito e silêncio. Isso resultou em uma falta de compreensão, de apoio e de políticas públicas adequadas para tratar aqueles que sofrem. Mas o silêncio mata. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo. No Brasil, estima-se que uma pessoa comete suicídio a cada 45 minutos. São números alarmantes e, em muitos casos, poderiam ter sido evitados se houvesse mais diálogo e conscientização.

Uma das principais bandeiras do setembro Amarelo é justamente quebrar esse silêncio. Falar sobre suicídio de forma responsável não é um incentivo ao ato, como muitos pensam. Ao contrário, é uma forma de abrir portas para o acolhimento, oferecer suporte e demonstrar que a ajuda está ao alcance de todos. Muitas pessoas que enfrentam pensamentos suicidas se sentem isoladas, incompreendidas e com medo de serem julgadas. Criar espaços de diálogo e compreensão é essencial para que elas possam se sentir seguras para buscar ajuda.

O acolhimento é uma das palavras-chave no setembro Amarelo. Quando falamos sobre prevenção ao suicídio, é fundamental entender que a sociedade como um todo tem um papel importante a desempenhar. Cada um de nós pode ser uma peça importante na vida de alguém que esteja sofrendo. Às vezes, um simples “como você está?” pode ser o ponto de partida para uma conversa que salva vidas.

É importante, também, desenvolvermos nossa escuta empática. Muitas vezes, diante de uma pessoa em sofrimento, tendemos a minimizar suas dores ou oferecer soluções rápidas, como “vai passar”, ou “seja, forte”. Embora essas palavras sejam bem-intencionadas, elas podem invalidar a experiência emocional de quem está sofrendo. Em vez disso, devemos aprender a escutar de forma ativa, sem julgamentos, e oferecer nosso apoio. Não temos todas as respostas, mas a presença e o acolhimento podem ser a ponte para que essa pessoa busque ajuda profissional.

Um dos pontos mais importantes do setembro Amarelo é reforçar a importância do cuidado com a saúde mental. Ainda existe uma grande resistência cultural em aceitar que nossa saúde mental merece tanto cuidado quanto nossa saúde física. O autocuidado, a busca por terapia, o uso adequado de medicações e o apoio de profissionais de saúde são fundamentais para a prevenção de crises graves.

A depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade e outros problemas de saúde mental estão diretamente associados ao risco de suicídio. Identificar os sinais de que algo não vai bem é o primeiro passo para buscar ajuda. Entre os sinais de alerta estão mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, fala frequente sobre morte ou sobre “não querer mais estar aqui”, entre outros.

No entanto, é importante lembrar que nem sempre os sinais são claros. Muitas vezes, a pessoa pode estar mascarando seu sofrimento. Por isso, é essencial estar atento, oferecer suporte e, principalmente, incentivar o diálogo aberto sobre saúde mental em todos os âmbitos da vida: na família, nas escolas, nos locais de trabalho e na sociedade em geral.

No Brasil, temos algumas ferramentas importantes para a prevenção ao suicídio. O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, oferece apoio emocional gratuito e sigiloso por meio do número 188, disponível 24 horas por dia. Além disso, psicólogos e psiquiatras, tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto da rede privada, são fundamentais no processo de tratamento de pessoas em risco.

É essencial também que as escolas, universidades e empresas desenvolvam programas de apoio à saúde mental. A criação de espaços seguros para que alunos, funcionários e colaboradores possam expressar suas emoções e angústias é uma medida preventiva eficaz. O estigma em torno da busca por ajuda profissional deve ser combatido, e o acesso ao cuidado psicológico deve ser facilitado.

Cada um de nós pode fazer a diferença na vida de alguém durante o setembro Amarelo em todos os meses do ano. Estando disponível para ouvir sem julgar. Às vezes, tudo que uma pessoa precisa é sentir que não está sozinha. Incentive a busca por ajuda profissional. Muitas vezes, a pessoa pode não saber por onde começar. Ajude-a a encontrar recursos, como serviços de psicologia ou grupos de apoio.

Embora o setembro Amarelo seja um momento dedicado à conscientização, é importante lembrar que o cuidado com a saúde mental deve ser constante. Todos os dias, alguém pode estar enfrentando suas próprias batalhas internas. Por isso, que sejamos sempre uma rede de apoio para quem precisa, oferecendo carinho, compreensão e a esperança de dias melhores. A prevenção ao suicídio é uma responsabilidade coletiva, e juntos podemos construir um mundo mais acolhedor e compassivo.

Que o setembro Amarelo de todos os anos continue a ser uma luz que ilumina a vida de quem mais precisa e inspire ações que durem para além desse mês.

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