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Caso dos Meninos Emasculados e sua real elucidação (Parte I)

SEBASTIÃO UCHOA*

A sequência da presente narração (não me familiarizo com a expressão “narrativa”, em face dos significados deturpados dados à palavra ante o péssimo momento político por que ainda atravessa o país) dos caminhos investigativos realizados pela Polícia Civil do Maranhão que levaram à identificação, localização e prisão do maior serial killer da história criminológica do Brasil, podemos assim dizer, corresponde à necessidade de uma imprescindível reparação da verdadeira e única verdade das investigações iniciais que levaram em definitivo à prisão do único responsável pelos bárbaros assassinatos em série de crianças e adolescentes no estado do Maranhão, mais precisamente na Ilha de Upaon-Açu, na década de 90 até o ano de 2003; e, acredito, nos casos semelhantes, para não dizermos iguais, ocorridos na cidade interiorana de Altamira, estado do Pará.

Nos idos de 1998, estávamos na Academia Nacional de Polícia – ANP, fazendo o Curso de Formação de Delegado de Polícia Civil no Distrito Federal, fruto de um convênio entre o então governo do Maranhão e o governo federal, uma vez que o Maranhão ainda não dispunha de uma Academia que pudesse formar numerosos policiais simultaneamente. Isso se deu em meio a uma reestruturação orgânica da força policial civil no estado, que agonizava diante do chamado “crime organizado” que se instalou no Maranhão, conforme levantamentos históricos no caso dos roubos e mortes de caminhoneiros nas estradas do estado, por um longo período de impunidade subjacente.

Na realidade, foi a primeira turma de delegado de Polícia Civil formada na Academia da Polícia Federal em Brasília.

Na citada oportunidade, realizaram-se várias provas em diferentes disciplinas, tanto teóricas quanto práticas, além da exibição de educação policial a exemplo do clássico “Cidadão X”. Esse filme retrata um grave assassinato em série ocorrido na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), cujas ideologias em antíteses com as dos Estados Unidos (E.U.A), no auge da Guerra Fria, impedia-se de se unir os esforços a fim de identificar, localizar e prender um assassino em série naquelas paragens. As vítimas eram crianças barbaramente assassinadas e seus corpos, depois de abusados sexualmente, eram jogados em áreas ermas, geralmente próximas a estações ferroviárias.

Recomendo assistirem ao referido filme, pois é uma verdadeira aula de perseverança de um investigador no campo da psiquiatria forense. Ao desenhar o perfil do assassino, baseado no estudo dos cadáveres, lesões, locais de descarte, entre outros elementos, um psiquiatra forense conseguiu entender o mundo subjetivo da psicopatia de um ser humano que ali praticava aqueles delitos, e para tanto traçou um perfil criminológico de quem cometia aqueles assassinatos em série diante das peculiaridades do modus operandi e assinaturas (expressões técnicas do mundo das investigações policiais).

Tomamos conhecimento ainda que longinquamente acerca do sumiço de crianças no estado do Maranhão, mas sem muitos detalhes. Não me recordo se ainda tivera conversado com o colega de turma, hoje amigo pessoal, o delegado Sindonis Sousa Cruz, sobre minha vontade de investigar os casos de desaparecimento e morte de crianças no estado do Maranhão. Palavras realmente têm força, hoje chego a essa conclusão.

Tomando posse no cargo de delegado de Polícia Civil na capital maranhense, muitos dos novos delegados foram lotados nos mais diversos municípios do Maranhão. No fundo, um verdadeiro investimento do então governo estadual com diversas linhas de desembolsos financeiros que abrangeram desde a contratação de novos funcionários até a reestruturação de delegacias e órgãos periciais que ainda estavam em face de edificações no estado, até chegarem ao estágio de excelência do que são hoje em relação ao passado.

Períodos passaram com lotações no interior, vindo para a capital a fim de assumir a chefia da Casa de Detenção ante diversas rebeliões ocorridas no então Complexo Penitenciário de Pedrinhas, até no ano de 2000 conseguir lotação na Delegacia Regional de Pinheiro. Nesta passando cerca de dois anos e poucos meses salvo engano. Recebendo então convite para assumir o primeiro Centro Integrado de Defesa Social-CIDS, área Leste, hoje Seccional Leste, que cobre toda a área do Grande Maiobão, Paço do Lumiar, Raposa e São José de Ribamar.

Numa das oportunidades de frequentar o então núcleo de convivência espírita Lar Pouso da Esperança sito no bairro da Cohab, fui indagado pelo líder espiritualista Moab José, acerca de quem “matava as crianças no Maranhão?” e se “será possível que a Polícia não elucidaria isso?” (acho que nem ele mesmo se recorda desse diálogo). Nessa ocasião, respondi-lhe que um dia iríamos identificar e prender o tal assassino, mas tais palavras saíram de minha boca intuitivamente, pois pouco sabia de detalhes dos casos, salvo o filme assistido em Brasília e algumas poucas conversas ouvidas durante o Curso de Formação Profissional, conforme já pontuado.

Ao assumir o CIDS/Leste, resolvi montar um Curso de Capacitação Comunitária para lideranças de toda área de abrangência acima declinadas, tendo dentre algumas disciplinas, preservação de local de crime (já que os locais onde os corpos das crianças emasculadas eram desovados, geralmente eram mexidos por curiosos), noções de psicopatologia forense, combate a incêndio, drogas ilícitas e seus efeitos nefastos nas comunidades, entre outros temas.

Poucas pessoas sabem o grande vestígio em linha subjetiva deixado pelo assassino, que quando de sua última investida facínora, acabara por permitir e se concluir preliminarmente que se tratava da mesma pessoa que dera sumiço à criancinha acima, diante de um olhar diferente a algo que estava fixado no poste que ficava (não sei se ainda se encontra ainda no local) defronte a casa do mártir que preciso ser assassinado para que a Polícia pudesse chegar ao matador em série tão procurado.

Nesse ínterim, some uma criança de 4 a 5 anos no bairro Jardim Tropical, cuja investigação com vista a identificar e prender o responsável, foi realizada pela Delegacia da Cidade Operária, tendo como titular, à época, o hoje delegado aposentado Nilvan Viera. Contudo, sob acompanhamento à distância pelo mencionado CIDS/Leste, sob a minha responsabilidade naquele período, já que estava investido no cargo de Supervisão de Área Integrada.

Nesse contexto, iniciou-se a saga das primeiras investigações que nos levaram a identificar, localizar e finalmente prender o único matador em série ligado ao epitetado “Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão”, qual seja, a pessoa do já condenado judicialmente em diversas vezes, Francisco das Chagas. No entanto, poucas pessoas sabem o grande vestígio em linha subjetiva deixado pelo assassino, que quando de sua última investida facínora, acabara por permitir se concluir preliminarmente que se tratava da mesma pessoa que dera sumiço à criancinha acima citada, diante de um olhar diferente a algo que estava fixado no poste que ficava (não sei se ainda se encontra ainda no local) defronte à casa do mártir que precisou ser assassinado para que a Polícia pudesse chegar ao assassino em série tão procurado.

Inéditos detalhes com verdadeiras narrações de fáceis compreensões e reflexões serão esposados nos próximos capítulos. É só aguardar sem ansiedade, pois tudo servirá para uma reeducação em Segurança Pública na acepção mais ampla possível do quão somos todos responsáveis reais pela Segurança Pública de uma polis a partir da proteção de nossos entes queridos próximos e da família como um todo, sobretudo.

*Advogado do Escritório Uchoa & Coqueiro, delegado de Polícia aposentado e ex-secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão.

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