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Cuidado quando formos “procurados” de alguma forma

SEBASTIÃO UCHOA*

A vida tem mistérios que nos são postos à prova pela diferença na forma de ser ou se comportar, que somente no silêncio da reflexão por uma atitude tomada que a gente, caso possuamos de fato sensibilidade espiritual aguçada, é que cai a ficha de que nada nos acontece à toa. No fundo, alguém ou alguma Força nos testa vinte e quatro horas, diante dos fatos colocados à nossa frente, para refletirmos algo diferente do lugar comum muito vil num modelo de apego social tão exagerado e cínico que se vive hoje nos quatro cantos do planeta Terra, no chamado tempo holístico muitas vezes de singela reprodução semântica, vulgarmente coloquial.

No momento recente, conversando com uma amiga sobre a postura de um ex-assessor, num determinado episódio, veio-me à cabeça um acontecimento (dentre outros vivenciados) acerca de um determinado cidadão oriundo da cidade de Fortaleza, estado do Ceará, que tivera vindo à São Luís do Maranhão a procura de um irmão, de forma que passados os dias e o dinheiro acabado, procurou a Secretaria de Ação Social do Município de São Luís, isto há doze anos, com vista  a conseguir recursos para comprar a passagem de volta à sua terra natal, já que se encontrava em condição de rua em todas as acepções, segundo ele informou aos policiais civis lotados na Superintendência de Policia Civil da Capital.

Jogaram aquele ser humano para todos os lados em setores diversos, mas não resolveram a questão da passagem de ônibus para a sua volta, que tanto ele rogou à gestão da edilidade de então, chegando ao ponto final de uma pseuda resolução sugestiva para que procurasse a Superintendência de Policia Civil da Capital-SPCC, a fim de tentar resolver aquele grave problema social, pasmamente.

O pobre homem ficou na antessala aguardando o superintendente da época, neste caso, este signatário, até que “atendido” pelo então assessor da pasta, este informou que não era assunto de polícia e que voltasse à Prefeitura, para tentar conseguir a pretensão almejada.

Não recordo o policial que, instantaneamente, me narrou acerca da situação daquele homem naquele instante, mas de imediato informei ao assessor que não dispensasse aquele cidadão, pois “por trás dele poderia ter mensagem de teste do Pai, a fim de ver até onde estaria nossa humanidade para resolver aquela situação”. Senti que ele ficou reticente…

Chamei um grande policial conhecido como Bira, hoje também aposentado, e lhe entreguei meu cartão de crédito com senha, para que levasse aquele homem ao terminal Rodoviário de São Luís, comprasse a passagem e ainda deixasse R$ 30,00 (trinta reais) para que ele pudesse se alimentar, já que o ônibus para a cidade de Fortaleza só sairia no dia seguinte, mais precisamente às 10h.

De pronto, o cidadão foi levado ao referido terminal rodoviário, mas algo tocou no coração do mencionado policial no sentido de levar aquele homem ao programa de televisão matutino do saudoso apresentador Silvan Alves, que tinha ampla audiência e alcance periférico fantástico, com vista a fazer uma matéria como tentativa derradeira para que fossem encontrados os familiares daquele cidadão. E assim foi feito!

O resultado foi instantâneo na manhã seguinte, ou seja, ligaram para o policial informando que tinham telefonado para a produção do programa, dizendo se tratar de parente do mencionado homem. De pronto, o policial foi à Rodoviária e concretizou o encontro entre aquele ser humano e o seu familiar, assim como providenciou o estorno da compra da passagem e foi uma alegria para todos os lados. Precisava ouvir a alegria do policial Bira repassando o desfecho diferente daquela “missão”…

Chamei o então assessor da SPCC e lhe disse, com voz educativa de evangelização pela prática na acepção, de que precisamos tomar muito “cuidado quando formos procurados de alguma forma”, por quaisquer circunstâncias na vida, por alguém ou por algo que nos bate à porta de nossa senda e rápida caminhada por estas bandas chamado Terra, pois poderemos estar num ambiente de teste permanente naquilo que se professa e na coerência pelo que se faz, especialmente quando nos apresentamos de alguma forma em estarmos vinculados a um credo de linha realisticamente cristã, sobretudo. Ficou reflexivo, não sei se assimilou, e mesmo assim, nada melhor que respeitar a opção adotada na também caminhada de vida que cada um fazemos, em trilha de crescimento espiritual, independentemente do tipo de fé que se opte a adotar. E a vida seguiu.

No fundo, recordei-me do saudoso Chico Xavier, quando recitava que fora da caridade não há salvação. Mas ousaria a acrescer mais um lembrete dele mesmo de que precisamos sempre orar, mas vigiar nossas atitudes, e me parece máxima esplêndida de que realmente a caridade é mais que uma atitude, é uma simples obrigação, sobretudo sem toques de trombetas que tanto a reduz ao vazio das inúmeras hipocrisias sociais, que assistimos nos mais diversos setores das relações humanas em tempos mais que atuais, mediante discursos tão voláteis e débeis de veracidade práticas.

Os sorrisos e tons de voz sem alma, no rosto das pessoas que assim conduzem suas vidas, são facilmente perceptíveis no dia-a-dia desse complexo entranhado das relações humanas de tamanha superficialidade, que não é de agora que são acentuados, já que vem desde à época em que o homem saiu da condição de caçadores exploradores à condição de sapiens com o uso da inteligência no manejo social, em busca de concretizar apenas interesses individuais em detrimento do coletivo, pontual e historicamente registrando esta assertiva, respeitando as diversas variáveis.

E é vivendo que vai se aprendendo muito mais que tudo passa, e tudo fica, mas se ficará dentro de cada um de nós mais aquilo que se pode levar quando do teste em passagem, possamos ser aprovados em consciência de paz de espírito no feito como se pôde fazer diante das condições que se podia fazer. Assim, oremos, mas nos vigiemos sempre para fazemos o melhor e partirmos em paz, na sensação de apenas deveres terem sido cumpridos, AMÉM!

*Advogado do Escritório Uchoa & Coqueiro, delegado de Polícia aposentado e ex-secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão.

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