Dia do Gordo: um não à gordofobia!
A data é para combater a gordofobia e as cobranças sociais por padrões estéticos
A modelo plusize e ativista corporal do ‘Amor Próprio’ Patrícia Muniz, de 24 anos, relatou que já ouviu vários comentários preconceituosos e os que mais impactavam eram os dos seus próprios familiares. “Pensam que por serem mais próximos podem ou devem falar o que vem à mente. Então, bastou uns quilos a mais e apareceram os ‘fiscais de corpo’ e chegavam com seus comentários gordofóbicos: ‘tão linda, só falta emagrecer’, ‘é só parar de comer besteira que tu perde rapidinho’, ‘se continuar assim, ninguém vai te querer’! E por aí vai… ainda usavam algumas expressões preconceituosas veladas de preocupação, sendo que ninguém, absolutamente ninguém nunca questiona a saúde de um magro”, enfatizou.
Patrícia pesava entre 70 a 80 quilos e já era considerada acima do peso, segundo o Índice de Massa Corpórea (IMC). Neste contexto, sempre houve o anseio pelo corpo magro – atrelado a uma imagem de beleza, saúde e bem estar – segundo Muniz.
“O que ninguém sabia era que sem saúde mental, a saúde física não integraria quase nada. Nesse processo, eu me privei de ir à praia usando biquíni, quase não comia em festas, com medo de ser julgada ou virar alvo de piadas. Eu passava horas tentando me vestir com roupas que disfarcem as gorduras do braço, costas ou qualquer área que me desagradasse. Eu fazia dietas e tentava com exercícios físicos na academia, mas nunca durou mais de 2 meses por não gostar dessas atividades”, pontuou.
Essa pressão externa existiu até os 22 anos, segundo Patrícia. Depois, tudo se tornou mais leve, quando houve a aceitação. Hoje ela leva a importância do amor próprio e o empoderamento a outras mulheres. “A aceitação é um processo libertador. Foi o momento, que passou um filme na minha cabeça de tudo que eu já fiz e deixei de fazer em nome dos padrões e rótulos deixados por uma cultura da magreza. O quanto já quiseram que eu odiasse meu corpo e me sentisse infeliz. Sabendo eu que, no fundo, existia muito amor, e esse foi o começo do meu amor próprio”, ressaltou.
Tudo isso resultou em Patrícia a busca do seu reconhecimento total, das suas origens, uma nova forma de ver sua história de vida, que trouxe diversas conquistas, entre elas o terceiro lugar no concurso Plus Simpatia 2019. Agora sua voz tem vez. “Compartilhei essas experiências na minha rede social, comecei a ver o Instagram como uma plataforma que estreitasse esses laços e que me ajudasse a chegar nas outras pessoas, sobretudo, mulheres. Na rede social eu trabalho aceitação corporal, amor próprio, falo das minhas inúmeras vivências, denuncio e milito dentro do meu nicho que é contra qualquer tipo de preconceito contra as pessoas gordas, gordofobia ou body shaming, que é quando você torna o corpo de alguém uma vergonha, uma chacota, e isso independe dele ser gordo ou não. Empoderei minha existência e levantei minha voz, não aceito mais nenhum desrespeito”, concluiu.
Hoje, 10 de setembro, é o Dia do Gordo. A data é uma forma de combater a gordofobia, conscientizar a sociedade sobre a importância do respeito às pessoas gordas e um convite à empatia para acolher todos, independente do peso. A psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Lopes, explica que a gordofobia é o ato de julgar uma pessoa gorda como alguém inferior, desprezível ou repugnante simplesmente pelo tamanho do seu corpo. Ela ressalta os cuidados com os julgamentos, pois falar sobre o corpo de alguém não acrescenta em nada em relação à sua saúde mental, pelo o contrário faz é prejudicar seu estado emocional. “Alguns quadros de sobrepeso nem sempre podem ser apontados como falta de saúde em uma pessoa, que pode ter um ótimo funcionamento metabólico de seus sistemas corporais, assim como o sobrepeso não está associado somente ao ato de comer compulsivamente, pode ser um estresse, uso de medicamento, uma vida sedentária, ansiedade e até problemas hormonais”, exemplificou.
A especialista destacou que pessoas gordas vítimas de preconceito devem se defender. “Jamais deixar ninguém fazê-las se sentirem mal por sua aparência, enfrentar de forma assertiva aqueles que apontam só por puro prazer em machucar”, enfatizou. Lopes acrescentou que as pessoas precisam valorizar e praticar as palavras respeito e empatia. “Se a pessoa está satisfeita com sua forma física, você não tem o direito de distorcer ou de ser invasivo na vida do outro só porque é a sua ideia de corpo perfeito”.
O nutricionista e professor do Centro Universitário Estácio São Luís, Marcos Macedo, acrescentou que ter uma vida saudável não é ser somente magro, pois há pessoas magras com problemas de colesterol e até mesmo com doenças crônicas. Vários fatores contribuem para ser saudável, como alimentação, atividade física, dormir bem, o estilo de vida. “Inclua diariamente na sua rotina frutas e vegetais, evite o consumo de preparações fritas, beba no mínimo 3 litros de água por dia, pratique exercícios de forma regular, consuma bebidas alcoólicas de forma ocasional, aprecie o sabor das refeições, durma de 6 a 8 horas regularmente, sorria sempre que possível e não tente ser igual a outra pessoa, procure sempre o melhor que você pode ser”, pontuou.
Separamos três palavrinhas para você excluir do seu vocabulário e dar adeus à gordofobia:
“GORDICE”
Essa expressão tem os dois pés na gordofobia, então você deveria parar de usá-la agora. É usada para referenciar pratos e guloseimas cheias de calorias, reforçando a ideia de que todo gordo é uma pessoa que se abastece de comidas pouco saudáveis, cheias de gordura, açúcares e afins. E não é verdade. São tantas as variáveis que fazem uma pessoa engordar, que é pura gordofobia pensar automaticamente que uma pessoa gorda é uma máquina de comer.
“ESTOU ENORME DE GORDA”
Em geral, essa expressão é dita por uma pessoa magra, que engordou um ou dois quilos, ou mudou um número para cima do manequim. É triste e completamente gordofóbico, pois a ênfase nos quilos a mais é como se estivesse feia ou deslocada.
“VOCÊ É LINDA(O) DE ROSTO”
Essa frase é muito utilizada para elogiar uma pessoa gorda. Ninguém olha uma pessoa magra e diz que “é linda de rosto”. Somos lindos de rosto, de corpo, por dentro e por fora. Não importa o tamanho que se tenha. Então se você acha que está elogiando ao dizer essa frase, você está bem enganado.
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