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Texto do Pr. Moreira Silva, publicado na PG dia 24/12/23

Quando saímos da nossa casa (Deus), passamos a construir a nossa própria realidade, chegando ao ponto de nos tornarmos extremamente narcisistas, no maior nível de individualismo já presenciado na história, tornando-nos a nossa própria referência de certo e de errado. Vivemos numa sociedade que tem espaço para tudo, menos para Deus. Isso tudo nos leva a um futuro de incertezas.
As escrituras relatam o nascimento de Jesus que todos nós já conhecemos por sermos um país considerado cristão. Em Lucas 2:6-7, lemos: “Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”. Nesse momento cumpriu-se a profecia de Isaías, proclamada há mais de 700 anos: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel (que significa Deus conosco)” (Isaías 7:14).
A principal realidade que a manjedoura revela é a intervenção de Deus na realidade humana. Isso levou à maior decisão que o Universo já presenciou, quando Paulo nos diz em Filipenses 2, que Jesus “subsistindo em forma de Deus, não julgou por usurpação ser igual a Deus, mas se esvaziou, assumindo a forma de servo, fazendo-se semelhante a homem, humilhando-se até a morte e morte de cruz”. A Bíblia não apenas revela o seu esvaziamento, mas também o seu deslocamento, de uma maneira voluntária para nos trazer a realidade de Deus para nós, como João nos diz, que andou “cheio de graça e de verdade”. Nesse seu gesto de se revelar para nós, como diz o apóstolo Paulo em Coríntios, ele se tornou “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”. O simples fato de ele estar entre nós denunciava o estado de alienação que a humanidade se encontrava, porque a manjedoura foi o início da trajetória de Deus entre os homens, como já disseram, “ou Jesus Cristo era um mentiroso ou louco, ou era aquilo que ele dizia ser”.
Outra realidade que a manjedoura nos revela é que a partir desse acontecimento o silêncio entre o céu e a terra foi quebrado e nascia na humanidade a esperança de nós voltarmos para nossa casa, do lugar de onde nunca deveríamos ter saído. A terceira realidade revelada é a beleza da simplicidade de Deus. Os valores da sua época estavam invertidos. Os seus contemporâneos, não tendo poder nenhum, brigavam pelo poder. Porém, Jesus tendo todo o poder abre mão dele para nos enriquecer em todas as dimensões, como diz o apóstolo Paulo em Coríntios: “Conheceis a graça do Senhor Jesus, que sendo rico se fez pobre por amor a nós, para que através da sua pobreza nos enriquecesse”.
O propósito da manjedoura é reestabelecer o reino de Deus no Universo, que é a normalidade do propósito para o qual todas as coisas foram criadas. Mas isso teve início na eternidade quando Jesus decidiu num gesto de graça e de solidariedade ter vindo até nós. Era a única possibilidade da humanidade fazer o caminho de volta. Como um amigo meu dizia, a realidade da raça humana era como se todas as pessoas tivessem sido colocadas numa prisão e a chave da prisão tivesse sido lançada para longe. A única possibilidade de tirar todas as pessoas de dentro da prisão seria alguém que estivesse fora da prisão e que possuísse a chave. A manjedoura revela essa esperança da possibilidade da humanidade ser redimida. A crucificação foi o preço pago por Jesus nos representando e nos assumindo, satisfazendo toda a justiça de Deus. Na ressureição foi proclamada a lei áurea da humanidade, depois que Jesus bradou: “está consumado”. A partir daí, foi inaugurado um novo e vivo caminho. Por isso, Jesus é irrepetível na manjedoura, na crucificação e na ressurreição, estabelecendo uma nova realidade entre os homens.

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