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Texto do Bispo Mário Porto – PG do dia 03/11/23

A cultura da honra não é apenas uma formalidade religiosa

Bispo Mário Porto

Destacamos, de maneira eloquente, o princípio da honra, ancorado no mandamento bíblico “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na Terra que o Senhor teu Deus te dá” (Livro de Êxodo, Capítulo 20, Versículo 12). Este preceito, muitas vezes encarado como uma mera formalidade, carrega consigo profundas implicações no modo como nos relacionamos com nossos progenitores e, por extensão, com o divino.

A compreensão desse mandamento está intrinsecamente ligada ao relacionamento que mantemos com nossos pais ao longo da vida. A frase comumente usada, “Seu modo de agir não honra os pais que você tem”, ressalta como as expectativas parentais podem moldar nosso estilo de vida. No entanto, questionamos se essa é a essência da honra contida nos dez mandamentos, instigando-nos a uma profunda reflexão sobre a cultura da honra.

Explorando as raízes hebraicas, observamos que os termos “Glória” e “Honra” compartilham uma mesma expressão, indicando uma ligação intrínseca entre esses conceitos. Mas como se materializa a tarefa de honrar alguém? Será a honra algo que atribuímos às pessoas ou simplesmente reconhecemos nelas?

O exemplo bíblico de honrar pai e mãe, exposto no livro de Malaquias (Capítulo 1 e versículos 6 e 7) destaca a incompatibilidade entre honra e desprezo. O respeito pelos pais é equiparado à reverência ao Senhor dos Exércitos, lançando luz sobre a natureza da verdadeira honra.

A análise profunda se estende ao livro de Deuteronômio (Capítulo 5, Versículo 16), em que Moisés, em sua despedida, conecta a honra aos pais à promessa divina de dias prolongados e prosperidade na Terra. Esse vínculo entre honra e herança destaca a importância da perpetuação desse mandamento de geração em geração.

Em suma, apresentaremos cinco reflexões inescapáveis sobre a honra aos pais. Primeiramente, a honra implica em seguir os planos previamente estabelecidos por eles, especialmente quando esses planos visam refletir a graça de Deus. O exemplo negativo dos filhos de Arão é apresentado como uma advertência contra a falta de alinhamento com os desígnios divinos.

A segunda reflexão ressalta que honrar é sinônimo de tratar com dignidade, destaca-se a profunda conexão entre honrar e tratar com dignidade. Essa essencial qualidade é ilustrada por meio do exemplo marcante do acompanhamento de Samuel a Saul em busca da presença divina. Entenda que tratar alguém com dignidade transcende meras formalidades ou cortesias superficiais. Enfatizamos que honrar é atribuir um valor intrínseco à pessoa, reconhecendo-a como detentora de uma dignidade inalienável. Esse entendimento enriquece a prática da honra, transformando-a em um ato de respeito genuíno, independentemente das circunstâncias. A jornada de Samuel com Saul nos convida a contemplar como a honra se manifesta no âmbito prático. A dignidade, neste contexto, revela-se na paciência de Samuel, na sua orientação e na busca conjunta pela presença divina. Trata-se de uma relação não apenas de mestre e aprendiz, mas de um intercâmbio que reflete a nobreza intrínseca ao ato de honrar.

Dessa forma, ressaltamos que honrar não é apenas um dever, mas uma oportunidade para cultivar relacionamentos que transcendem formalidades, nutrindo a dignidade e promovendo uma busca compartilhada por algo maior. Ao tratar com dignidade, a honra torna-se não apenas um princípio a ser seguido, mas uma fonte de enriquecimento humano e espiritual.

A terceira reflexão sobre honrar pai e mãe assume uma dimensão crucial ao admoestar contra a noção equivocada de que honrar os pais possa significar a conivência com iniquidades, sublinhando, assim, a imperatividade da integridade. Honrar os pais, nesse contexto, não é um pretexto para fechar os olhos diante de práticas ou comportamentos iníquos.  A verdadeira honra não se coaduna com o encobrimento de transgressões ou injustiças perpetradas por aqueles que nos deram a vida. A integridade, neste contexto, é apresentada como um alicerce essencial da honra legítima. A honra verdadeira não é cega, mas é temperada pela responsabilidade moral de se opor a ações que contrariam os princípios divinos ou morais.

A quarta reflexão condena veementemente o desprezo aos pais, reforçando que a verdadeira honra não pode coexistir com atitudes de menosprezo. Desprezar os pais não apenas contradiz o princípio fundamental da honra, mas também mina a base de relacionamentos saudáveis e prósperos. O respeito pelos pais é uma pedra angular na construção do caráter e da ética. Imagine um edifício sólido sendo construído, representando a vida de um indivíduo. Cada tijolo desse edifício é um ato de honra e respeito aos pais. Se permitirmos que o menosprezo se infiltre, esses tijolos começam a desmoronar, comprometendo a estrutura inteira. É vital entender que a verdadeira honra vai além de meras palavras; ela se manifesta em atitudes e tratamento respeitoso.

O exemplo dado nesta reflexão destaca a importância de construir um relacionamento saudável e digno com os pais. Em vez de menosprezar, a honra exige que reconheçamos a dignidade intrínseca de nossos pais como seres humanos. Isso significa ouvir, entender e, quando necessário, discordar com respeito, sem menosprezar sua posição ou desvalorizar suas contribuições.

Por fim, a quinta e crucial reflexão sublinha que honrar pai e mãe implica em agir com integridade perante Deus e as pessoas. A integridade, nesse contexto, é a qualidade de ser íntegro, de agir com retidão, transparência e honestidade, especialmente diante das autoridades divinas e humanas. Ao honrar pai e mãe, não se trata apenas de cumprir um mandamento moral, mas de viver uma vida que reflete o respeito pelas leis divinas e valores éticos. A integridade é a cola que mantém unidos os tijolos da honra, garantindo que cada ato de respeito aos pais seja genuíno e alinhado com princípios elevados.

Encerrando conclamo os leitores a aplicarem essas reflexões em suas vidas. A cultura da honra não é apenas uma formalidade religiosa, mas uma postura transformadora que permeia todos os aspectos da existência. Ao praticarmos a verdadeira honra, não apenas cumprimos um mandamento divino, mas também contribuímos para a construção de relações saudáveis e sociedades mais compassivas.

Que cada leitor, ao refletir sobre essas palavras, encontre inspiração para cultivar a honra em seus relacionamentos, proporcionando, assim, não apenas dias prolongados, mas dias plenos e repletos da benevolência divina. Que a cultura da honra seja a semente que floresce na terra fértil de corações dispostos a praticá-la, transformando vidas e comunidades.

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