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O poder de uma influência positiva

Daniel Lima

Em meu último artigo (“Duas mulheres, dois legados”), vimos a primeira parte da história do rei Joás de Judá, descendente de Davi. Essa história é tão dramática, que filmes e livros modernos parecem simplórios diante de sua trama. Estudamos duas mulheres que tiveram um impacto enorme na vida de todo um reino, uma negativamente (Atalia) e outra positivamente (Jeoseba). A história de Joás, no entanto, continua, aliás, a história do seu reinado começa no capítulo 23 de 2Crônicas.

Após ser escondido por seis anos e criado pelo sacerdote Joiada e por sua esposa Jeoseba, o príncipe que havia crescido escondido assume o trono. Aos sete anos de idade ele foi conduzido ao trono por Joiada, por meio de uma estratégia onde o menino rei foi reconhecido e a rainha usurpadora foi morta. Uma vez mais, a história de Joás é cercada de tramas e de momentos intensos. Sem dúvida, tendo o rei apenas sete anos, o verdadeiro poder era de Joiada. Nesse momento, começa a ficar claro seu caráter. Com um rei imaturo, seu filho de criação, em um estado de emergência, seria mais do que natural que ele assumisse o poder, como a avó do menino havia feito. No entanto, ele usa a situação para estabelecer um legado espiritual. Em 2Crônicas 23.16-17 lemos: “Joiada fez uma aliança entre si mesmo, todo o povo e o rei, para serem eles o povo do Senhor. Então todo o povo entrou no templo de Baal e o derrubaram, despedaçando os altares e as imagens de Baal. Matã, o sacerdote de Baal, foi morto diante dos altares”.

Joiada usa a situação para estabelecer um legado espiritual.

A influência restauradora desse sacerdote continuou de modo marcante na vida do jovem rei. Ele deve ter funcionado por um tempo como regente, mas, é claro, lemos no relato que Joás logo assumiu sua função, muito antes da maioridade. No entanto, um verso nos dá uma pista tanto importante quanto trágica. Em 2Crônicas 24.2b lemos: “Joás fez o que era reto aos olhos do Senhor todos os dias do sacerdote Joiada”. O autor de Crônicas faz, no início do relato de cada reinado, uma observação a respeito de se o rei fez o que o Senhor aprova ou o que o Senhor reprova. Nesse caso, ele fez o que o Senhor aprova, mas somente enquanto durou a influência de Joiada.

Uma vez morto seu mentor, Joás deixou-se influenciar por outros líderes em Judá que se curvaram diante dele (2Crônica 24.17). O texto não deixa claro se foi mera bajulação ou algum tipo de adoração. O fato é que o rei passou a ouvi-los. Acredito que a segunda opção é mais provável, pois, a partir dali, Joás permitiu o retorno da idolatria. A mesma idolatria que ele, sob a influência de Joiada, havia combatido. A ira de Deus se acendeu contra ele e o Senhor enviou seu irmão de criação, Zacarias, filho de Joiada e Jeoseba, para adverti-lo de seu pecado. A reação de Joás é tão dramática quanto foram vários momentos de sua vida. Por ordem do rei, Zacarias foi apedrejado no próprio pátio do templo. O próprio autor de 2Crônicas – Esdras, segundo a tradição judaica – acrescenta em seu texto no verso 22: “Assim, o rei Joás não se lembrou de como Joiada, pai de Zacarias, tinha sido bondoso com ele, e acabou matando o filho dele…”.

A razão de Joás ter abandonado seu caminho de retidão é um tema interessante e serve de alerta a cada um de nós. Já foi dito que “aquilo que trouxe você até aqui, não poderá levá-lo até onde você deve chegar”. Isso é muito aplicável à nossa vida espiritual. Muito embora minha caminhada com Deus se baseie naquilo que tenho vivido até aqui, essas experiências não me levarão aonde devo ir; preciso renovar minha experiência com Deus a cada dia. Nesse sentido, as palavras de Jesus em João 15.5 servem como um alerta diário e não como uma memória de algum tempo passado: “… Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada”.

Muito embora minha caminhada com Deus se baseie naquilo que tenho vivido até aqui, preciso renovar minha experiência com Deus a cada dia.

No entanto, é também muito interessante verificar que Joiada tinha cerca de noventa anos quando Joás assumiu o trono e veio a falecer com 130 anos! Em uma idade em que ele poderia se afastar da vida política, ele continuou a ser uma influência. Existem homens e mulheres que se agarram a uma posição muito além do tempo que deveriam. Ao final, se tornam déspotas e um peso indesejado (como Atalia). Existem outros que se “aposentam do privilégio de influenciar outros que ainda estão na ‘linha de frente’”. Graças a Deus existem outros que, até o final da vida, são uma influência benéfica. Minha oração por mim e por você é que sejamos assim, influenciando positivamente aqueles ao nosso redor até o final da vida!

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.

 

Fonte/ chamada.com

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