Mundo em transe
Quando observamos o mundo ao redor, há motivos para se apavorar. No entanto, a profecia bíblica e a linguagem figurada de uma história sobre Davi mostram como esse redemoinho realmente terminará.
Quando eu era criança, sempre tinha medo de tirar a tampa do ralo da banheira quando esta estava cheia. Inicialmente não se vê nada. Quase não se percebe como a água vai baixando. Mas de repente aparece um redemoinho sobre o ralo, a água gira ao escorrer, e quanto mais o fim se aproxima, tanto mais aumenta a sucção. E aí vêm então os ruídos do redemoinho. Era esse barulho que eu temia, principalmente nos últimos milímetros, quando ele aumenta muito. Como criança, eu achava horrível ouvir esses sons.
Há, porém, um redemoinho descendente muito maior, abrangendo o mundo inteiro desde que o pecado entrou no mundo com todas as suas consequências e males (Gn 3), e é bem nos tempos atuais que percebemos como ele gira sem parar arrastando tudo para baixo, e parecendo tornar-se cada vez mais ruidoso e rápido. Os valores bíblicos e suas verdades são simplesmente atraídos para o fundo. Cada vez mais, tudo se inverte e é confundido. Gente desorientada, que não conhece a Bíblia, é sugada por essa força. Tudo parece desagregar-se. Todo o castelo de cartas da organização humana oscila cada vez mais e ameaça desmoronar. Se enumerássemos tudo o que acontece neste mundo, a lista seria muito, muito longa. Resumindo e citando a Bíblia, pode-se dizer que a anomia já está em ação.
A isso ainda se acrescentam os problemas e dificuldades que cada um de nós enfrenta pessoalmente. Para alguns, a situação pode também tornar-se subitamente insuportável, mas na Palavra de Deus temos uma chave para, ainda assim, encontrar um barco estável com uma âncora excelente e segura. Com tudo o que acontece e ainda acontecerá, podemos permanecer tranquilos tanto em relação aos eventos globais como também da nossa própria vida. Sim, o mundo gira no redemoinho, mas ele o julgará.
Examinemos a vida de Davi com suas maravilhosas ilustrações proféticas apontando para o verdadeiro rei e pastor de Israel, Jesus Cristo, em sua primeira e segunda vinda e com isso também ao seu reino messiânico. Quem lê Davi, lê a história sagrada. Sua história, sua pessoa e seu ambiente constituem um importante fundamento para a profecia bíblica, e sua história com todas as suas maravilhosas sombras e imagens também pode nos encorajar pessoalmente e nos deixar admirados.
Vejamos os eventos em torno quando Davi estava escondido na caverna de Adulão. Foi um tempo marcado por fuga e perseguição que aponta profeticamente para o reino de Cristo oculto nos tempos atuais. A angústia e a fuga de Davi e dos seus companheiros é também uma imagem para o povo oprimido de Israel naquele tempo e também no futuro. Depois de se esconder na caverna de Adulão, Davi e seus 300 homens precisaram continuar a fugir de Saul, numa viagem de um deserto a outro, marcada por medo e angústia.
Uma pulga em fuga
Inicialmente, Davi permaneceu no deserto de Zife, para depois ir ao deserto de Maom, mas também ali ele não se sentiu seguro. Também Davi passou por um redemoinho. Em seguida, fugiu com seus companheiros mais próximos para a região do mar Morto, para o deserto de En-Gedi, mais uma região cheia de rochas e cavernas (1Sm 24.1). O mar Morto… Não há como ir mais baixo do que isso.
Acaso você também anda fugindo de um deserto para outro? Chegou ao fundo do poço? Cansado e esgotado? Em medo e aflição? Você se sente intimamente acossado, sem repouso e calma? Talvez você não consiga desligar à noite, acordado na cama e pensando: “Como acabará tudo isso?”
Saul voltara a perseguir Davi com nada menos que três mil homens (1Sm 24.3). Duas vezes Davi disse a Saul: “Atrás de quem saiu o rei de Israel? A quem persegue? A um cão morto? A uma pulga?” (v 14; cf. cap. 26.20).
Aqui brilha de modo maravilhoso a imagem de Jesus Cristo em sua humildade na terra, uma imagem do seu reino oculto. Uma pulga mede cerca de quatro milímetros e é quase imperceptível. Embora não tenha asas, consegue dar grandes saltos graças às suas pernas traseiras, e é considerada um parasita. Acaso o mundo não trata Cristo como um parasita? Como corpo estranho que é melhor eliminar? Foi assim também com Davi. Saul perseguindo uma insignificante pulga.
Para Davi, esse redemoinho, o medo e a inquietação não foram fáceis de suportar e sobreviver. Pelo contrário, aquilo mexeu com sua substância e o atraiu tão fortemente para baixo que ele disse que um dia ainda sucumbiria por causa de Saul. Apesar de toda a sua confiança na bondade de Deus nas diversas situações da educação divina (cf. Sl 23.6), Davi pensou que tudo tinha acabado. O redemoinho rugia dentro dele e externamente na realidade com que se defrontava.
“Eis aí o seu mundo, seu ambiente, seu íntimo, talvez presos nesse redemoinho. Você se sente como uma pulguinha, fugindo, insignificante. Há, porém, algo que podemos e devemos fazer: fortalecer-nos no Senhor, nosso Deus.”
Nós também passamos por isso em nossa própria vida. No fundo sabemos que Deus atingirá o alvo com cada um de nós. Sabemos que um dia ele julgará e vencerá o inimigo. Conhecemos sua onipotência e que nada é grandioso demais para ele. Mesmo assim, porém, aqui Davi nos mostra a realidade. A fé nem sempre é constante. Passamos por oscilações, dúvidas e medos. Externamente somos ágeis e capazes de representar bem. Irradiamos então certeza, fé poderosa e confiança. Mas como estará o nosso íntimo? Não enfrentamos também situações que nos fazem dizer: “Pode ser que algum dia eu venha a perecer nas mãos de Saul”? (1Sm 27.1).
A beleza na história de Davi é sua sinceridade perante Deus. Ele revela sua debilidade, mas assim mesmo continua sendo um homem segundo o coração de Deus. Isso é encorajador. Ele também é qualificado assim por ser honesto. Não precisamos fingir nada diante de Deus. Imagine os seus entes queridos sendo fingidos diante de você… Seria insuportável!
O que, então, Davi sempre fez, mesmo na maior angústia? Em certa ocasião, até quiseram apedrejá-lo e “Davi ficou muito angustiado”. Mas o texto prossegue dizendo: “… Mas Davi se reanimou no Senhor, o seu Deus” (1Sm 30.6).
Eis aí o seu mundo, seu ambiente, seu íntimo, talvez presos nesse redemoinho. Você se sente como uma pulguinha, fugindo, insignificante. Você também nada tem a opor à predominância de tudo o que é grande que acontece no mundo. Pode haver irritação com as decisões políticas, ressentimento com as injustiças que observamos diariamente, a interação com as pessoas em geral. Há, porém, algo que podemos e devemos fazer: fortalecer-nos no Senhor, nosso Deus.
Como foi que Davi fez isso?
Falando continuamente com Deus. Ele gritava, desafiava o Senhor, lembrava-o, implorava, agradecia etc. E assim foram surgindo todos esses maravilhosos salmos. Sim, Davi era uma pulguinha fugitiva, temendo pela sua existência. Sua vida parecia estar dentro de um redemoinho, ele se sente à mercê daquilo, mas se fortalecia no Senhor, o seu Deus.
A lança sem uso
Quando Davi estava em En-Gedi, ocorreram duas situações que nos demonstram de forma enfática a razão de ele ser uma imagem do Messias – que é para nós de máxima importância também do ponto de vista da assistência espiritual.
Em duas ocasiões ocorreu de Saul ficar totalmente à mercê de Davi e dos seus homens. Em ambos os casos, porém, Davi abriu mão do poder que teve à disposição naquelas ocasiões. Davi dizia que não queria tocar no rei ungido. Estava convicto de que somente Deus poderia executar a sentença definitiva sobre o rejeitado. Apesar de Davi já ter sido designado como rei de Israel, naquele momento Saul ainda o era.
De certo modo, essa circunstância também pode ser aplicada aos nossos dias. Saul ainda reinava – ainda reina o príncipe deste mundo, Satanás. Mas Cristo, que Davi simboliza, já foi nomeado rei. É Deus que institui e depõe os reis.
A primeira dessas duas situações encontra-se em 1Samuel 24.3-8. Davi e seus homens estavam dentro de uma caverna quando Saul entrou para fazer suas necessidades. Com isso, Saul estava à mercê de Davi, que se encontrava com seus homens no escuro fundo da caverna. Davi, porém, apenas cortou uma ponta do manto de Saul.
Na segunda situação, Saul dormia ao relento, cercado e defendido por seus carros (1Sm 26.5-12). O interessante nessa história é que Davi, o mais forte, chegou junto de Saul, mais fraco porque estava dormindo. Novamente isso se encaixa muito bem na perspectiva da história sagrada. Também a primeira vinda do Messias a esta terra, ao domínio do príncipe deste mundo, foi a entrada do mais forte na noite de Israel e no mundo das nações. E assim será também quando o Senhor retornar.
“É claro que podemos orar ‘Senhor, volta logo’, mas sempre conscientes de que o plano e a data são de Deus. Por isso, espere pacientemente junto com ele, nossa cabeça.”
Saul estava deitado em meio ao seu povo, entre seus carros. Abisai, filho de Zeruia, queria acompanhar Davi na invasão do acampamento de Saul. Os dois encontraram Saul dormindo, tendo ao seu lado sua lança e um jarro de água. Eles levaram consigo ambos os objetos. A lança acabou não sendo usada, embora oferecesse a chance ideal de acabar com Saul. Abisai bem que gostaria de ter feito uso da lança, mas novamente Davi recusou-se a agredir Saul.
O que teríamos nós dito se tivéssemos sido aquele acompanhante íntimo de Davi? Afinal, seus amigos estavam sendo perseguidos do mesmo modo que ele. Suas mulheres e filhos também corriam perigo. Será que não teríamos reagido do mesmo modo que Abisai? Faríamos uso da lança se pudéssemos?
Você precisa fazer isso agora!
Em ambas as situações fica claro que a mentalidade de Davi era completamente oposta à dos seus homens. Eles estavam irados e não conseguiam compreender o comportamento de Davi.
Qual teria sido a consequência se Davi tivesse matado Saul? Levaria à imediata aclamação de Davi como rei. Não teria sido muito bom? O redemoinho para ele, os seus e todo o reino se acalmaria. E não teria também sido assim se Cristo, ao vir aqui à terra, tivesse assumido literal e imediatamente o seu reinado? Em vez disso, poupa-se o inimigo, renuncia-se ao poder, estende-se a vida em miséria e angústia. Por isso se espalhou a indignação em torno de Davi. Continuariam a se esconder em cavernas e atrás de rochas, continuaria o nervosismo e a perspectiva de serem perseguidos. A isso correspondeu a reação dos homens quando toparam com Saul na caverna: “Então eles disseram a Davi: ‘Hoje é o dia do qual o Senhor lhe falou: Eis que eu entrego o seu inimigo nas suas mãos, e você fará com ele o que bem quiser’…” (1Sm 24.4).
Você precisa fazer isso agora!
Mas Davi não aproveita esses “agendamentos” da tomada do poder. Pode-se dizer que os seguidores de Davi viviam na bela expectativa da iminência do futuro reino de Davi. E essa é uma ilustração da problemática quase insuportável de todo o mundo e da história sagrada. Quando finalmente será o momento de Cristo assumir seu reinado? Quanto demorará ainda, Senhor? Onde estás? Está na hora! Senhor, estás dormindo?
Podemos lembrar-nos dos “filhos do trovão” que quiseram fazer chover fogo do céu (cf. Lc 9.54). É hora de assumires o poder! Esse intervalo desanimador se caracteriza pela invisibilidade de Deus e de Cristo enquanto perguntamos impacientes: “Quando se cumprirá o tempo? Quando, afinal, o Senhor virá?”.
Quando o tempo se cumpriu, Deus enviou seu filho pela primeira vez. E quando se cumprir novamente, será pela segunda vez. “Veja, este é o dia!”, exclamaram os homens de Davi – o dia da eliminação do rei Saul. E, sim, o dia em que nosso Senhor governará, restaurará, restabelecerá e julgará está determinado. O dia em que todos os inimigos estarão prostrados sob os pés de Jesus e a morte estará definitivamente vencida (1Co 15). Ele está determinado. Mas… Quando Deus quiser.
Até agora o Senhor Jesus está sentado à destra de Deus Pai, aparentemente oculto, do ponto de vista humano supostamente inerte, esperando aquele dia, conforme diz a Bíblia (Hb 10.13). Nós estamos esperando com ele e faremos isso diretamente junto com ele após o arrebatamento – cabeça e membros unidos esperando o dia do seu retorno em glória. Na terra acontecerão muitos horrores, mas nós permaneceremos como seus membros, com ele, a cabeça, ainda ocultos. E tudo isso no momento estipulado por Deus.
Conhecer os tempos e os momentos não era da alçada dos amigos de Davi e também não o é dos discípulos de Jesus (cf. At 1.7). Assim, os amigos de Davi, que lutam com ele e são seus companheiros mais próximos, formam uma imagem profética da criatura expectante e sofredora, e também uma imagem da insistência dos discípulos de Jesus. Afinal, está na hora de agir!
É claro que podemos orar “Senhor, volta logo”, mas sempre conscientes de que o plano e a data são de Deus. Por isso, espere pacientemente junto com ele, nossa cabeça. Sejam os profetas, que procuraram pelos momentos exatos do cumprimento da profecia bíblica (1Pe 1.10-12), ou aqui no caso de Davi, o lema sempre será “através do sofrimento até a glória”. Também com Cristo foi assim.
A barra do manto e a cruz
Como foi quando Cristo estava aqui na terra? Sua mensagem era de que o reino estava próximo. Os seus já estavam aquecendo os motores. Cristo porém, abriu mão dos seus recursos de poder. Será que isso foi fácil para o Senhor? Sabemos que ele chorou com outros porque sua compaixão é grande. Os milagres que ele operou mostraram ser pequenas amostras da sua grandeza. Eram sinais do seu reino, um aperitivo para o que viria.
Assim, também aquela ponta do manto de Saul na mão de Davi foi um aperitivo da vitória total. Desde a cruz, Cristo tem a ponta do manto de Satanás na mão. A tentação para Davi, de apenas se apressar no uso da lança – não só a ponta do manto, mas bem mais – foi certamente imensa. Imaginemos então como foi isso para Cristo. Na carta aos Hebreus lemos: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa se compadecer das nossas fraquezas; pelo contrário, ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Ou: “Embora fosse Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8).
“Cristo não buscou a qualquer custo ser igual a Deus. Ele esvaziou a si mesmo e tornou-se homem sujeito à lei. A maior prova da sua renúncia – a ponta do manto – foi a cruz.”
No que, afinal, consistiu a tentação de Jesus? Não teria sido a atração por simplesmente lançar mão do poder de uma vez? Mudar tudo num único lance, antes do momento determinado? Se para Davi foram dois momentos, houve para Cristo dúzias a mais nos quais ele poderia ter feito aquilo. Ele seria poupado da cruz. Era disso que se tratou a tentação do Senhor no deserto (obs.: Davi também estava no deserto): “[O diabo lhe] disse: Eu lhe darei todo este poder e a glória destes reinos, porque isso me foi entregue, e posso dar a quem eu quiser. Portanto, se você me adorar, tudo isso será seu” (Lc 4.6-7).
Tudo aquilo o Pai havia prometido a Cristo, mas o Diabo disse: “Eu lhe darei isso antes dele!”. Vez após vez, o Senhor foi desafiado a se apresentar. Lembremos daqueles zombadores: “Desça da cruz!”, “Ajude a si mesmo!”, “Outros ele ajudou, mas a si mesmo não!”. Ele teria podido requisitar doze legiões de anjos…
Como deve ter sido difícil para o Senhor, que poderia ter revelado sem problemas o seu poder, mas não o fez. Do Cordeiro para o Leão de Judá bastaria um pequeno passo. Seus próprios irmãos também o desafiaram: “Então os irmãos de Jesus se dirigiram a ele e disseram: ‘Deixe este lugar e vá para a Judeia, para que também os seus discípulos vejam as obras que você faz. Porque, se alguém quer ser conhecido, não pode realizar os seus feitos em segredo. Já que você faz essas coisas, manifeste-se ao mundo’. Acontece que nem mesmo os irmãos de Jesus criam nele. Então Jesus lhes disse: ‘O meu tempo [ou seja, o momento determinado por Deus] ainda não chegou, mas para vocês qualquer tempo é oportuno’… Depois que seus irmãos tinham ido à festa, Jesus também foi, não publicamente, mas em segredo” (Jo 7.3-6,10).
Cristo não buscou a qualquer custo ser igual a Deus. Ele esvaziou a si mesmo e tornou-se homem sujeito à lei. A maior prova da sua renúncia – a ponta do manto – foi a cruz. Se Cristo tivesse cedido em algum ponto, ele não teria chegado à cruz, mas ele se manteve fiel ao momento determinado. Nem sequer o grande terror no jardim do Getsêmani conseguiu dissuadi-lo. Ele respeitou a supremacia da vontade do Pai. Mantendo-se distante do seu poder, calado, preso, limitado em sua liberdade de ação, impotente e fraco, ele se apresentou mesmo aos seus discípulos amargamente decepcionados. Ele, o Ungido de Deus.
Quando Davi se esgueirou para o cercado de Saul, ele foi acompanhado por alguém que queria muito ir e também respondeu imediatamente à pergunta de Davi: Abisai, um filho de Zeruia. Abisai significa adequadamente “pai da vontade” e da força de vontade. Zeruia, a mãe de Abisai, era irmã de Davi. O seu nome também é significativo: inimigo do Senhor. Se aplicarmos esse relato a Jesus, isto nos lembra de Pedro que, por exemplo, foi o primeiro e único a querer se aproximar de Jesus andando sobre a água.
Abisai quis matar Saul. Você precisa fazer isso agora! Não só a borda do manto, mas o poder! Pegue a lança! É compreensível do ponto de vista humano, mas naquela situação Abisai se revelou literalmente como filho de Zeruia, como inimigo de Deus ou, figuradamente, como inimigo da cruz. Porque também Pedro disse ao Senhor quando este anunciou sua iminente morte na cruz: “Que Deus não permita, Senhor!”. Também aqui sua reação era bem compreensível do ponto de vista humano. Em sua expectativa da iminência do reino, ele exigiu: Não a cruz, mas o poder!
Em resposta, Jesus lhe diz: “Saia da minha frente, Satanás!”. Com isso, ele quis dizer: “Afaste-se de mim, adversário” (este é o significado da palavra “Satanás”), como adversário do plano de Deus. Não creio que Jesus se referisse ao próprio Diabo. Afinal, este nem queria impedir a crucificação de Jesus, tanto que até se apossou de Judas para entregar o Senhor. Pedro, por sua vez, quis demover o Senhor, razão por que nessa situação ele foi chamado de adversário dos planos de Deus.
Consideremos o que implica concordar com a renúncia ao poder – tanto para os amigos de Davi como também para os discípulos de Jesus. É claro que a aceitação da cruz traz consequências. Também os discípulos queriam atacar, bater e lutar. Basta lembrar de Pedro e da orelha de Malco. No entanto, uma imediata apropriação do poder e uma efetivação impaciente do poder são princípios terrenos. O que, ao contrário disso, caracteriza um crente fiel e maduro é saber esperar pelos momentos de Deus em sua história sagrada. Se nos anteciparmos, isto significará que não confiamos que Deus determinará os momentos bons e corretos.
Significa, sim, confiar: deixar que ele atue e entregar-se a ele. Por essa concordância com a caminhada com Cristo, o Senhor prometeu aos seus discípulos a participação no reinado durante o milênio: “Vocês são os que têm permanecido comigo nas minhas tentações. E eu confio a vocês um reino, assim como o meu Pai confiou a mim, para que comam e bebam à minha mesa no meu Reino; e vocês se assentarão em tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Lc 22.28-30).
O que representa isso para a nossa vida? Primeiramente, temos de levar em conta que nós não somos os discípulos do Senhor. Somos o seu corpo. E para nós, como membros no corpo de Cristo, isto significa que, se ele é nossa cabeça e nós o seu corpo, e se ele espera pacientemente à direita de Deus por seu retorno, cabe a nós esperar e suportar tudo junto com ele. Mesmo após o arrebatamento, a espera com ele continuará. Aguardemos o momento de Deus.
Podemos ter certeza de que virá um dia em que ele será o Juiz! Ele julgará, ajustará os seus planos e julgará com justiça. E se nos submetermos a essa vontade de Deus e decidirmos esperar com Cristo, essa postura já ajustará muitas coisas em nossa vida. Teremos tranquilidade e paz, serenidade apesar do redemoinho.
Davi acabou tornando-se rei, e sob o seu governo se formou um reino de paz em pequena escala. Quando Cristo retornar em glória junto conosco como seus membros, ele dará fim ao redemoinho. Ele criará um mar calmo no meio do tumultuado mar dos povos. Essa expectativa pode ajudar-nos a sossegar, a viver segundo a nossa fé e a crescermos na Palavra e no conhecimento dele mesmo.
Portanto, quando essa profecia bíblica se cumprir, a atração do redemoinho para baixo se reverterá, como vemos também na história de Davi. Com esta conclusão desejo encerrar com uma aplicação a nós: “… [Saul] foi para casa, mas Davi e os seus homens foram ao lugar seguro” (1Sm 24.23).
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