Daniel Lima – Mantendo-se em Pé
Eu não sei o que é pior: ver um líder se afastar da Palavra e pouco a pouco causar estrago no corpo de Cristo, ou ouvir de repente de um líder que este vem vivendo uma vida dupla, o que também gera estrago no corpo… Semana passada ouvi de mais um líder cristão, contratado por uma igreja e que vinha servindo de forma aparentemente fiel, que teve de ser afastado devido a uma vida de adultério. Ao longo dos anos de seu casamento, ele vinha mantendo um relacionamento adúltero metade do tempo… Para completar o estrago, esse adultério era conduzido com uma jovem líder da igreja onde ele ministrava.
Diante de mais uma história dessas, encontro em meu coração duas reações: (1) temor de Deus e gratidão por ele ter me preservado de uma tragédia assim. Paulo é muito claro ao afirmar em 1Coríntios 10.12: “Por isso, aquele que pensa estar em pé veja que não caia”. Pela graça e misericórdia de Deus eu tenho sido poupado desse pecado. Não digo isso com qualquer arrogância ou orgulho, mas com a certeza de que fui preservado. Por isso e por ter certeza de que não sou melhor do que esse pastor, tenho um grande motivo de gratidão a Deus.
A segunda reação é (2) procurar saber que fazer para ser preservado. Entendo e sou grato pela graça de Deus, mas ao mesmo tempo entendo que temos sim nossa parte nessa e em outras tentações. O texto acima continua (1Coríntios 10.13): “Não sobreveio a vocês nenhuma tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar; pelo contrário, juntamente com a tentação proverá livramento, para que vocês a possam suportar”. É evidente então que a famosa desculpa de “não pude fazer nada” ou então “foi mais forte do que eu” simplesmente não é verdade. Deus providencia o escape e não permitirá que sejamos tentados além do que podemos suportar.
“Não sobreveio a vocês nenhuma tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e… juntamente com a tentação proverá livramento, para que vocês a possam suportar”.
Essa segunda reação me leva a tentar alistar dicas ou sugestões para jovens pastores e líderes que estejam comprometidos com uma vida íntegra diante de Deus. Anos atrás, o conhecido professor e escritor Howard Hendricks, por meio de uma pesquisa entre os que haviam deixado o ministério por falha moral, descobriu que eles tinham em comum as seguintes características: (1) não tinham uma vida devocional regular; (2) se envolveram sexualmente com alguém próximo, em geral alguém que trabalhava na mesma igreja ou organização cristã; (3) não tinham alguém a quem prestavam contas de sua vida e suas lutas e (4) não acreditavam que isso poderia acontecer com eles.
Com base nestes dados e naquilo que tenho visto ao longo de mais de trinta anos de ministério, deixe-me esboçar algumas sugestões muito práticas:
- Cuide de sua vida devocional. Todos temos períodos de mais intimidade e de mais distanciamento espiritual. Cuide para que o distanciamento não seja sua rotina. Não tenho um conselho mais importante: cuide de sua vida com Deus por meio de oração, leitura bíblica e reflexão pessoal.
- Tenha temor de Deus e desconfie de si mesmo. Na verdade desconfie de seu próprio autocontrole. Anos atrás ouvi de um líder com quase oitenta anos: “Eu administro as situações, pois tenho medo de minhas reações”. Paulo deixa claro que conhece sua própria capacidade de pecar:
Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, sou escravo da lei do pecado. (Romanos 7.24-25)
- Dê passos muito claros para ter um amigo próximo que conhece o estado do seu coração e até mesmo quais as tentações presentes em sua vida no momento. Esse tipo de relacionamento não é fácil de construir e creio que é difícil manter, mas me aventuro a dizer que é uma salvaguarda muito importante na vida de todo líder.
Não tenho um conselho mais importante: cuide de sua vida com Deus por meio de oração, leitura bíblica e reflexão pessoal.
- Estabeleça limites muito claros para seus relacionamentos com o sexo oposto. Nesse quesito já fui muito acusado de legalismo, no entanto sou grato por estabelecer limites que me alertam para a situação perigosa na qual eu possa estar entrando. Limites não impedem você de pecar, mas servem como um alarme de perigo. Quando falo de limites falo de evitar um relacionamento com alguém do sexo oposto onde se gaste muito tempo sozinhos, se tenha segredos e sonhos (ainda que ministeriais) ou se crie um espaço “só de vocês”.
Minha oração por esse jovem pastor é que ele se quebrante diante de Deus e busque a restauração que Deus tem para ele, para seu casamento e, quem sabe, até para seu ministério. Minha oração por mim e por você é que estejamos buscando com todas as nossas forças os “escapes” que Deus tem para as tentações que certamente nos atingirão. Que ao final da carreira possamos dizer como Paulo em 2Timóteo 4.7: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.
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