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A VIDA DEBAIXO DO SOL

“Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (Eclesiastes 1.3).

            Eclesiastes é, de longe, o livro mais polêmico da Bíblia. Muitos estudiosos questionaram sua canonicidade e outros colocaram em dúvida a autoria Salomônica. Por que este livro foi escrito? Qual foi a perspectiva do autor? Se não entendermos o propósito do autor e sem o filtro da graça, poderemos ficar com a pele tostada, completamente afadigados, debaixo do sol.

Entendemos que Salomão, filho de Davi, é o pregador que escreveu este livro. A palavra “Eclesiastes” tem a mesma origem do vocábulo grego Ecclesia, de onde vem a palavra “igreja”. O pregador está falando a uma comunidade acerca da impossibilidade instransponível do homem encontrar qualquer sentido na vida nas realizações pessoais e nas conquistas deste mundo. Em sua jornada do berço à sepultura, caminhando debaixo do sol, ele só encontra fadigas.   

            Salomão foi o rei mais rico, mais sábio e que granjeou as maiores conquistas pessoais da história de Israel, quiçá do mundo. Sua riqueza era proverbial. Seu profundo conhecimento, nas mais diversas áreas das ciências concedia-lhe o prêmio do homem mais sábio de sua geração. Desfrutou de todos os prazeres que a vida pôde lhe proporcionar. Desde os banquetes mais requintados aos vinhos mais caros. Desde as vestes mais brilhantes às aventuras amorosas mais quentes. Tudo que Salomão fez, recebeu o carimbo da superlatividade. Suas taças cheias de prazer estavam transbordando e ele bebeu todas elas a largos sorvos até à última gota. Não negou a si mesmo nenhum prazer. Porém, tudo que granjeou, tudo que alcançou, tudo que experimentou, tudo que jogou para dentro de seu coração sedento de prazer, debaixo do sol, não pôde atenuar sua ânsia por aquilo que estava acima do sol. Deus havia colocado a eternidade em seu coração e os prazeres efêmeros deste mundo não passavam de vaidade, uma mera bolha de sabão dançando diante dos seus olhos no mar do nada.

Salomão vai fazer uma peregrinação exaustiva pelos caminhos da vida. Vai tocar, sondar e experimentar muitas coisas, as mais altas e as mais baixas, as mais complexas e as mais simples, as mais distantes e mais próximas, as mais táteis e as mais impalpáveis. Mas tudo acima dele, ao redor dele, abaixo dele e dentro dele, debaixo do sol, é marcado pela a ausência crônica de sentido. Definitivamente, o homem não encontra razão superlativa para viver, mesmo quando suas mãos se enchem de riquezas generosas. No seu peito ainda lateja a dor do vazio, mesmo depois de fazer as viagens mais paradisíacas, depois de ostentar as roupas de grifes mais caras e comer nos restaurantes mais bem conceituados do mundo.

Mesmo que os favores desta vida possam abrir largos sorrisos para o homem, a carranca do tédio continuará lhe assustando. Mesmo que ele more em casas palacianas, em apartamentos de luxo, com as paredes adornadas dos quadros mais famosos. Mesmo que seus pés sejam acariciados pelos tapetes mais macios e se banhe sob a aspersão generosa de água morna nos banheiros revestidos das louças mais caras, com torneiras banhadas de ouro. Mesmo que ele durma em camas de marfim, coberto por lençóis de fios egípcios e repouse sua cabeça em travesseiros de pena de ganso, sua alma não repousará sossegada.

Mesmo que sua fama chegue às alturas nefelibatas e seu nome se torne notório entre os homens; mesmo que o mundo se dobre aos seus pés num reconhecimento de sua grandeza majestática, ainda assim, o homem continuará sendo atordoado por um vazio impreenchível, sorvendo o cálice amargo de uma vida fútil, numa maratona enfadonha rumo à vaidade, cujo troféu não passa de uma baforada quente, um vapor que se dissipa, uma bolha de sabão.

Por isso, Salomão com larga experiência, nos toma pela mão e nos leva a reconhecer que o sentido da vida não está debaixo do sol, mas acima do sol. Não está no mundo, mas em Deus. A suma de tudo é temer a Deus e guardar os seus mandamentos; este é o dever de todo homem (Ec 12.13).

Rev. Hernandes Dias Lopes

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