Interação e Fidelidade
Este é o quarto artigo que escrevo buscando explorar como um cristão pode manter-se fiel ao longo de sua vida e ministério (“Identidade e Fidelidade”, “Intimidade e Fidelidade” e “Integridade e Fidelidade”). Entendo que há pelo menos quatro áreas interrelacionadas a se cultivar para se preservar a fidelidade ao longo do tempo: Identidade, Intimidade, Integridade e Interação. Neste último artigo da série quero falar sobre interação, ou seja, nossos relacionamentos, e fidelidade.
A fé cristã é relacional. Não é possível, exceto em circunstâncias extremas, imaginar uma vida cristã em isolamento ou à parte de nossos relacionamentos. Jesus definiu com clareza esse princípio conforme registrado em Marcos 12.28-31:
Chegando um dos escribas, que ouviu a discussão entre eles e viu que Jesus tinha dado uma boa resposta, perguntou-lhe: “Qual é o principal de todos os mandamentos?”. Jesus respondeu: “O principal é: ‘Escute, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e com toda a sua força’. O segundo é: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo’. Não há outro mandamento maior do que estes”.
O cerne da mensagem cristã é justamente o conceito de que Deus busca reestabelecer um relacionamento rompido pelo ser humano. O próprio conceito bíblico da Trindade aponta para a natureza relacional de nosso Deus. Como consequência direta, somos chamados a mantermos relacionamentos saudáveis por onde formos. Não só com outros cristãos, mas com todos que entrarmos em contato. É óbvio que nem todos os relacionamentos serão profundos. Na verdade, uma fração pequena dos nossos relacionamentos nos permitirá profundidade devido a circunstâncias, tempo e disposição, entre outros fatores. No entanto, sejam profundos ou superficiais, somos chamados a exalar o doce perfume de Cristo em todos os relacionamentos (2Coríntios 2.14-15).
O próprio conceito bíblico da Trindade aponta para a natureza relacional de nosso Deus.
É exatamente por isso que seguir a Jesus inclui necessariamente a participação em uma comunidade de fé. Repetidamente, somos exortados a nos submetermos à comunhão dos irmãos, à instrução de líderes e às pressões de uma igreja. Tendo participado de igrejas por mais de cinquenta anos e pastoreado por quase trinta, conheço de perto os problemas, decepções, políticas e mesmo traições que ocorrem nesse contexto. Ao mesmo tempo, conheço o amor, o sacrifício, o investimento pessoal, o ensino e a ministração mútua que tanto abençoaram minha vida. Basta olharmos o texto de Hebreus 10.25 para ganharmos um pequeno vislumbre da instrução bíblica:
Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima.
Dois alertas, no entanto, são necessários com respeito a interações. A instrução bíblica não é que tenhamos qualquer tipo de relacionamento. Na verdade, existem relacionamentos que devem ser corrigidos ou mesmo evitados. Infelizmente, seguindo um evangelho distorcido, vários cristãos afirmam que “todo amor é válido”, justificando assim uma série de relacionamentos que ofendem a Deus. Alguns princípios que devem guiar nossas interações:
- Evitar más companhias em geral (1Coríntios 15.33), pois estas vão afetar hábitos e costumes saudáveis que desenvolvemos mediante muita disciplina.
- Afastar-se de pessoas que, afirmando serem cristãs, mantêm comportamento imoral sem arrependimento. Essas pessoas negam por meio do seu procedimento o poder de Deus em quem afirmam crer (1Coríntios 5.9-11).
- Qualquer pessoa que seja mais importante para nós do que nosso relacionamento com Deus. É muito comum que relacionamentos legítimos cresçam em importância em nossas vidas. Como cristãos, somos chamados a tomar cuidado com essa relação, pois não só é uma forma de idolatria, como também impede nosso crescimento em Cristo (Lucas 14.26).
A instrução bíblica não é que tenhamos qualquer tipo de relacionamento. Na verdade, existem relacionamentos que devem ser corrigidos ou mesmo evitados.
Antes de concluir, deixe-me propor que você estude em sua Bíblia a frase “uns aos outros”. Essa frase é usada mais de trinta vezes no Novo Testamento e nos dá uma lista de excelentes princípios sobre o tipo de relacionamento que nos ajuda em nossa caminhada de fidelidade. Por fim, eu gosto muito da passagem de Hebreus 12.1-2:
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus…
O argumento do autor é que a “grande nuvem de testemunhas” nos estimule a nos mantermos fiéis. Minha oração é que a nuvem de homens e mulheres fiéis ao nosso redor nos estimulem a prosseguirmos rumo a Jesus. Além disso, convido você a, junto comigo, fazermos parte dessa nuvem para aqueles ao nosso redor.
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