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Ex-guerrilheiro das Farc fala a cristãos no Brasil

Portas Abertas

 

Até o dia 7 de fevereiro Jasar visitará igrejas no Brasil para contar seu testemunho e como passou de perseguidor a cristão perseguido

Durante quase toda sua vida, Jasar* viveu dentro da guerrilha colombiana. Aliciado aos 8 anos de idade pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC – principal grupo guerrilheiro colombiano, ele viu sua infância e juventude passar na selva, enquanto crescia como soldado da guerrilha. Aos 17 anos já liderava mais de 3 mil homens, 300 deles sob o seu comando direto e 32 que o acompanhavam sempre no pelotão. “Todos éramos iguais, acreditávamos que o ser humano nascia, crescia e morria, por isso não havia espaço para mais nada que não fosse a nossa filosofia. Não existia qualquer outra ideologia, espiritualidade ou crença. Quando saíamos nas ruas era para perseguir e matar. Como todo guerrilheiro, detestei os cristãos e acreditava que eles eram todos espiões, além disso, eu também achava que eles não serviam para nada: não nos davam informações, não deixavam que levássemos seus filhos, não nos obedeciam e ainda serviam a um Deus que eu não acreditava. É por tudo isso que os cristãos são vistos como inimigos dos guerrilheiros, por isso eles são perseguidos e mortos”, conta Jasar.

“Um dia, porém, um cristão me ameaçou com a Bíblia, que era a arma dele. Mesmo com metralhadoras em sua cabeça, ele teve coragem de dizer ‘se você me matar, saiba que Jesus Cristo vai continuar vivendo’. Foi uma discussão entre um homem material e um homem espiritual”, lembra ele.

Jasar respondeu ao cristão: “Deixe de ser mentiroso, Deus não existe. Mas o homem continuou a ‘atirar’ em mim com aquela ‘arma’. Ele disse ‘se você me matar, terá que pregar em meu lugar, porque Deus tem um grande plano para sua vida, do qual você não poderá escapar’. E aquela foi a minha primeira experiência com Deus. Eu mandei o homem ir embora e os guerrilheiros não entenderam nada. Eu disse a eles que não matei porque me faltou vontade, mas a verdade é que eu tinha sentido muito medo e uma força de Deus que vinha daquele homem”, diz. Depois disso, Jasar passou a ser perseguido pela voz do cristão em sua mente, o tempo todo, e então seus planos nunca mais deram certo e ele ficou tão perturbado que acabou sendo preso, torturado e ameaçado pelo comando das Farc.

Tempos depois, ele se converteu, largou a guerrilha e passou a ser fortemente perseguido por seus antigos companheiros. Não só ele, como toda sua família.

Jasar não deixou seus ideais sociais. Ele continua apoiando a comunidade que sempre perseguiu na selva e é muito crítico quando se trata do que a guerrilha colombiana se transformou, de crítica ferrenha ao governo e ferramenta para a transformação ideológica comunista, para ferramenta de uso de narcotraficantes.

Hoje, ele continua exercendo uma liderança, só que espiritual na selva e ajudando os cristãos que tanto perseguia no passado. Sob forte ameaça, procura apoio em organizações cristãs, como a Portas Abertas que mantém um centro de apoio infantil, que recebe crianças e adolescentes vítimas de perseguição religiosa na Colômbia, inclusive sua filha, Lorena*.

Apesar do tratado de paz assinado pelas Farc e o governo da Colômbia no final de 2016, o que teoricamente transformou o grupo em um partido político após um pacto com o governo colombiano, dissidentes das Farc e da ELN – Exército de Libertação Nacional – continuam agindo no país, e estão fortemente armados, organizados e ainda perseguindo comunidades que vivem e sobrevivem da selva e, principalmente, crianças. Em um estudo levantado entre setembro de 2016 e novembro de 2017 (anos que seguiram o tratado de paz), mais de 18 mil crianças foram recrutadas por esses grupos guerrilheiros que ainda subsistem na Colômbia. De acordo com relatório da ONU de 2021, as guerrilhas continuam aliciando crianças e, em um ano, foram mais de 5 mil crianças, com menos de 16 anos, alistadas pelos grupos guerrilheiros.

Até o dia 7 de fevereiro  Jasar compartilhará seu testemunho com a igreja no Brasil. Saiba onde ele estará e seja edificado pelo testemunho de quem conhece a perseguição de perto. 

 Perseguição a Cristãos na Colômbia

A Colômbia é o 30º país na Lista Mundial da Perseguição Religiosa 2022, que classifica os 50 países que mais perseguem cristãos no mundo.

Embora haja um número significativo de cidadãos que são considerados ateus ou agnósticos, a Colômbia continua sendo um país eminentemente cristão. Apesar de ser um dos 10 países dominados pela maioria católica no mundo, isso não significa que não haja discriminação e perseguição no país. A perseguição ocorre particularmente entre as comunidades indígenas e em áreas abandonadas pelo governo, mas onde as unidades de guerrilha e o tráfico de drogas são dominantes.

Líderes de comunidades indígenas que percebem os cristãos como querendo impor a sua visão de mundo e assumir o seu território também estão perseguindo os cristãos.
A perseguição contra as comunidades da igreja é particularmente violenta quando vem de grupos criminosos que se sentem ameaçados quando os cristãos se opõem ao reinado do medo que estão tentando impor à sociedade. Eles fazem ameaças de morte aos cristãos (e suas famílias) envolvidos em atividades evangelizadoras. Muitos cristãos são obrigados a pagar um “imposto de proteção” como uma espécie de seguro contra assalto ou morte.

Tal violência é particularmente evidente quando ex-membros das gangues se convertem ao cristianismo. Há também perseguição violenta nas comunidades indígenas, onde as igrejas cristãs são vistas como ameaçando a existência de costumes étnicos e visão de mundo. Nas situações acima mencionadas, os cristãos são impedidos de congregar livremente e compartilhar sua fé e – devido à ausência de funcionários da autoridade do Estado – estão sujeitos ao constante risco de ataque daqueles que possuem poder local.

Perseguição contínua

Em 2021, ocorreram protestos na Colômbia, em parte contra a corrupção e as medidas controversas do governo. Líderes de igrejas estavam entre os que apoiaram os manifestantes, e isso levou a ameaças e violência. Além disso, houve um pequeno aumento na perseguição enfrentada pela comunidade geral e uma pequena queda em incidentes de violência, mas a perseguição não teve uma mudança significativa na Colômbia no último ano. A violência permanece alta, com sete cristãos mortos por causa da fé entre janeiro e setembro de 2021.

Segundo Jasar, no início de janeiro de 2022, um líder religioso foi morto pela guerrilha na Colômbia e dois desapareceram, supostamente sequestrados por grupos guerrilheiro que atuam na região.

Quem persegue os cristãos na Colômbia? 

O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra os cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos na Colômbia são: corrupção e crime organizado, opressão do clã, intolerância secular.

Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores de hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos na Colômbia são: grupos paramilitares, redes criminosas, oficiais do governo, partidos políticos, líderes de grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, parentes, grupos religiosos violentos, cidadãos e quadrilhas, grupos de pressão ideológica.

Quem é mais vulnerável à perseguição na Colômbia? 

Os cristãos que se converteram de uma religião indígena são os mais vulneráveis à perseguição em algumas áreas da Colômbia. Cristãos — e principalmente os líderes de igreja e suas famílias — correm mais em risco em áreas dominadas por gangues de guerrilheiros e cartéis de drogas. Além disso, a crescente intolerância secular significa que os cristãos estão cada vez mais vulneráveis a hostilidade, abuso verbal e discriminação por falar sobre certas questões.

Você pode ajudar

Para saber mais e ajudar aos cristãos perseguidos tanto da Colômbia, como em mais de 60 países em que a Portas Abertas atua, acesse o link e faça a diferença.

*Nome alterado por motivos de segurança

FONTE/ PORTAS ABERTAS

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