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Como tomar decisões segundo a vontade de Deus?

Como podemos saber, em nossa vida diária ou diante de decisões difíceis, se algo corresponde à vontade de Deus? Diversos conselheiros têm extraído diferentes princípios da Escritura, e com a ajuda deles podemos formular sete perguntas para facilitar a decisão.

O Novo Testamento entende que os filhos de Deus se deixam dirigir pelo Espírito de Deus (Rm 8.14) e, se precisarem tomar uma decisão e lhes faltar sabedoria, devem pedi-la a Deus em fé e sem duvidar, porque ele “a todos dá livremente, de boa vontade” (Tg 1.5).

O assunto poderia ser encerrado com isso. Todavia, na vida diária isso nem sempre é tão fácil. Afinal, não queremos cair em alguma armadilha, decepcionar Deus, cair na conversa do inimigo ou deixar-nos iludir pelo nosso próprio coração enganoso… Basta pensarmos no tema por tempo suficiente para nos lembrarmos de tanta coisa que poderia dar errado! Podemos paralisar toda a nossa vida se nos perdermos num emaranhado de perguntas e questionamentos, preocupações, dúvidas e objeções.

Graças a Deus, a Escritura Sagrada não nos abandona. Podemos extrair muitas indicações da insondável riqueza de Cristo, mas eu quero selecionar sete perguntas passíveis de serem formuladas a fim de que decisões corretas sejam tomadas. Obtive essas perguntas de vários intérpretes da Bíblia e conselheiros e elas também já me ajudaram bastante.

1. MINHA DECISÃO ESTÁ DE ACORDO COM A PALAVRA DE DEUS?

Essa pergunta é a mais simples e serve de base para toda decisão. O ensino do nosso Senhor e dos seus apóstolos determina e proíbe certas coisas, e estas estão claramente definidas. G. K. Chesterton comparou os mandamentos divinos e suas proibições com uma cerca em torno de um playground no alto de uma montanha. As crianças podem brincar livre e alegremente e pular e correr à vontade enquanto permanecerem dentro do cercado. Se, porém, treparem por cima da cerca para olhar se também poderiam se divertir do lado de fora, a coisa fica perigosa.

Assim é a vida do cristão. O Espírito de Deus nunca nos induzirá a fazer algo contrário à vontade de Deus revelada na Bíblia e em sua igreja, porque aquilo prejudicaria a nós mesmos e ao próximo. Não importa o quanto suas emoções são fortes, Deus nunca chama você para um “caso”, ele nunca o chama a negligenciar seu cônjuge e seus filhos, a enganar seu empregador, a irritar seu vizinho ou a cometer qualquer maldade.

2. MINHA DECISÃO PROMOVERÁ O MEU AMOR?

O amor a Deus e aos homens é o maior mandamento de Deus. O que é o amor? Eis aí uma boa definição: “Trata-se de desejar o bem daquele com quem interajo”. Nesse caso, o amor não é um morno sentimento, mas uma atitude do coração, uma decisão.

Isso significa que, se numa questão da nossa vida nos perguntarmos qual seria a vontade de Deus, perguntaremos também com toda honestidade: se eu escolher esta ou aquela via, isso aumentará o meu amor a Deus e aos homens? Esse caminho me permitiria amar melhor não só com palavras, mas também com obras e em verdade? Ou meu amor esfriará?

À medida que levarmos a sério esse princípio do amor, ele também nos guarda de cairmos em delírios e de cometer loucuras. Paulo, por exemplo, escreve: “Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente” (1Tm 5.8).

Se eu achar que devo fazer alguma coisa, mas aquilo me impede de cuidar da minha família ou faça com que eu negligencie o trabalho pelo qual sou pago, posso presumir que isso não é vontade de Deus porque fere o princípio do amor. Isso também é muito importante quando se trata de questões aparentemente piedosas. Convém lembrar que, quando o nosso Senhor Jesus menciona o mandamento supremo, ele sempre coloca o amor ao próximo no mesmo nível que o amor a Deus, já que o nosso próximo reflete a imagem de Deus. É como João escreve: “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4.20).

Por mais piedosa que pareça, uma causa não pode estar de acordo com a vontade de Deus se por causa dela eu negligenciar minhas obrigações e incumbências, prejudicando o meu próximo. É claro que não somos videntes e nem perfeitos, mas, se encararmos honestamente a questão do amor e a manejarmos em oração, o Espírito Santo, que é um Espírito de amor, também nos dará os impulsos corretos.

3. MINHA DECISÃO PROMOVERÁ MEU CRESCIMENTO NA SANTIFICAÇÃO?

Paulo diz que “a vontade de Deus é que vocês sejam santificados” (1Ts 4.3). Se estivermos diante de uma decisão ou um dilema e não soubermos o que Deus quer, a pergunta pelo amor também será acompanhada desta: poderei santificar mais a minha vida por meio disso? Ou a proposta é um obstáculo para a minha santificação? Confirmo com isso a salvação da minha alma ou me coloco em risco? Serei mais santo ou menos?

Em conexão com isso, o amor perguntará: será que por meio disso também promoverei a salvação dos parentes que me são confiados e o próximo que Deus colocou ao meu lado? Será que minhas decisões empurrarão a mim e aos meus próximos para longe de Deus ou nos aproximarão dele? – Claro, no que depender de mim.

Repito: não somos videntes e muitas vezes nem santos na vida prática, mas se de qualquer modo esse propósito estiver presente, estaremos de acordo com o Espírito Santo em nós, o qual nos representa perante Deus Pai com suspiros inexprimíveis. Estaremos então numa posição que corresponde à natureza do Espírito Santo. Afinal, é por isso que ele se chama assim.

Tal como o amor, a santidade não é nenhum sentimento abstrato, mas uma decisão. Assim como decido querer o bem para o meu próximo, também me decido a fazer tudo com o objetivo de me tornar mais semelhante ao meu Senhor Jesus e de me aproximar dele. Isso é santificação. Não se trata da nossa própria perfeição, mas daquilo que queremos em nosso coração e para o que nos estendemos – a despeito de toda a nossa debilidade.

4. MINHA DECISÃO COMBINA COM O MODO COMO DEUS CONDUZIU MINHA VIDA ATÉ AGORA?

Paulo diz: “Entretanto, cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe designou e de acordo com o chamado de Deus” (1Co 7.17). Deus nos chama por meio das circunstâncias, do próximo que ele põe no nosso caminho, do nosso próprio caráter, das nossas capacidades e debilidades, nossos talentos, nossa condição familiar, a situação geral da nossa vida.

Isso não quer dizer que não possam ocorrer mudanças espetaculares na nossa vida, mas o nosso Deus não é Deus de desordem. Ele não nos conduz em contradição com tudo que anteriormente determinou nossa vida cristã. Um exemplo bobo: Deus não requererá de um pai de sete filhos que de repente se torne um eremita solitário. Sim, podemos buscar o impossível, porque para Deus tudo é possível. Entretanto, permanece o princípio de não ignorarmos aonde Deus já nos conduziu ao longo dos anos na vida com ele, e que condição ele nos atribuiu, porque isso é sabedoria.

5. MINHA DECISÃO SERÁ CONFIRMADA?

Não devemos confundir confirmação com sucesso exterior, porque então os evangelistas da prosperidade e charlatães religiosos poderiam reivindicar para si o cumprimento contínuo da vontade de Deus, e Jesus precisaria ter dito na cruz que fracassara. De modo nenhum!

Também não se trata sempre de sinais espetaculares como para Gideão – ainda que isso possa acontecer. Não, “confirmação” significa em parte aquilo que Paulo também experimentou – vemos como o Espírito Santo o impediu de pregar em determinadas regiões e como em vez disso ele foi conduzido a outros lugares (cf. At 16). O propósito de Paulo sempre foi bom, ou seja, pregar o evangelho, mas por meio das circunstâncias, de obstáculos ou de portas abertas, Paulo recebia negações ou confirmações divinas para suas decisões.

Não é vergonha nenhuma cumprir todos os princípios espirituais e testar algo, mas ainda não receber confirmação porque Deus tem algo melhor em vista. Paulo experimentou isso e foi direcionado.

“As confirmações podem ser sutis. Muitas vezes também serão algo que só você e ninguém mais consegue perceber.”

As confirmações podem ser sutis. Muitas vezes também serão algo que só você e ninguém mais consegue perceber. Paulo, por exemplo, recebeu um sonho. Nem tudo precisa correr de forma livre e desimpedida, nem todos precisam concordar imediatamente com você. Não, justamente as boas e louváveis decisões na vida muitas vezes vêm acompanhadas de pesadas provações.

6. MINHA DECISÃO TRAZ PAZ COM DEUS?

Deus é um Deus de paz, não de desordem e nem do caos ou da intranquilidade. “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida”, diz Paulo, “mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).

A paz é um fruto do Espírito. Se estivermos diante de uma decisão e nos perguntarmos se aquilo seria a vontade de Deus, faremos bem em observar também se a paz de Deus nos preenche nessa questão.

Paulo escreve: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6). Aplicado ao tema deste artigo, esse versículo diz que devemos orar insistentemente quando queremos reconhecer a vontade de Deus em determinada matéria. Quando, então, nessa oração o nosso coração ficar cheio de alegria e da “paz de Deus, que excede todo o entendimento” (v. 7), isso pode ser considerado um bom sinal.

É importante a conexão entre oração e paz, porque a oração é a expressão viva do nosso relacionamento com o Pai celeste. Sem oração, podemos fabricar uma paz natural e passageira que, conforme o caso, pode até ter consequências fatais. Por um lado, por meio de meditação e autonegação; por outro, por constante distração com entretenimentos. Se, porém, nos apresentarmos a Deus em oração e buscarmos a sua comunhão e se estivermos sintonizados com a sua vontade, a paz sobrenatural virá independente das circunstâncias.

Por exemplo: preciso resolver ou decidir uma determinada questão. Oro e rogo a Deus a respeito disso, peço por sabedoria e pela orientação do seu Espírito e, enquanto faço isso, tenho intimamente alegria, paz e sossego… e isso cada vez que oro por essa questão. Se esse for o caso, posso presumir pela fé que é realmente o Espírito de Deus que está me conduzindo nessa direção, e não o do adversário. Quando oramos, nem o Diabo e os demônios, nem o nosso próprio orgulho podem nos roubar a paz. Inversamente, se eu orar por determinado assunto e sempre estiver intranquilo ao fazê-lo, reclamando e me irritando, devo supor que o Espírito de Deus não está me conduzindo nessa direção.

“Nossas emoções muitas vezes são como uma montanha-russa. Às vezes estamos totalmente tranquilos, outras totalmente perdidos – e isso pela mesma causa! Por isso a oração regular é tão importante.”

Aí, porém, a prática torna-se crítica se não distinguirmos a oração da nossa vida íntima em geral. Nossas emoções muitas vezes são como uma montanha-russa. Às vezes estamos totalmente tranquilos, outras totalmente perdidos – e isso pela mesma causa! Por isso a oração regular é tão importante. Jesus promete que o nosso Pai celestial dá o Espírito Santo a todos os crentes que o pedirem (Lc 11.13). Mas, bem, precisamos pedir.

7. MINHA DECISÃO ESTÁ COM O MEU CORAÇÃO?

Suponhamos ter duas vias possíveis diante de nós. Oramos por isso e, vejam só, a paz de Deus, que excede todo o entendimento, domina o nosso coração em ambas as direções. Por quê? Porque nesse caso ambas as vias são boas. E agora?

Paulo escreve: “Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor. Toda a Lei se resume num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Gl 5.13-14).

Você é livre! Agostinho disse certa vez: “Ame e faça o que quiser”. É verdade. A vida cristã é a vida de quem é livre. Não há uma via só, de modo que, se você tropeçar alguma vez ou também cometer um só errinho, terá errado o seu destino e entalado no beco sem saída. Não, o salmista promete: “Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração” (Sl 37.4).

Considerar as primeiras seis questões, especialmente as três primeiras, significa aplicar na prática o “deleite-se no Senhor”. E aí vem então a chave maravilhosa e libertadora para quem é crente: nessas circunstâncias recebemos o que o nosso coração deseja, já que o nosso coração se inclina para a vontade, o amor, a santidade e a paz do Espírito Santo. Com isso, nosso coração também desejará a coisa certa para nós.

Isso não quer dizer que não possamos cometer equívocos, que nunca tropeçaremos e tenhamos de nos levantar novamente, que nunca teremos dificuldades ou que agora a vida será um passeio. Significa, porém, que como cristãos realmente não precisamos viver apavorados e em pânico. Deus está a nosso favor, não contra nós. Mesmo se forem questões desagradáveis e difíceis, ele nos dará para isso o querer e o realizar (Fp 2.13). Basta buscarmos sinceramente a sua vontade, porque o fruto do Espírito Santo é alegria e paz (Gl 5.22). Então, se pudermos dizer “sim” às primeiras seis perguntas, o nosso “sim” a uma determinada decisão não será uma armadilha, mas uma confirmação.

Conclusão

O Diabo quer nos convencer de que Deus é o grande estraga-prazeres, o sádico que nos tortura, o tirano que nos obriga a correr por aí sem sossego. Aquele para quem nada do que fizermos estará certo. Aquele que esconde sua vontade diante de nós e depois nos acusa se errarmos ou fracassarmos. Mas isso não é verdade.

A vontade de Deus não é só para os iniciados, os especialmente iluminados ou para aqueles que já atingiram a perfeição. Por amor ao seu nome, ele quer conduzir todos os seus filhos, mesmo os mais frágeis, por um bom caminho, e com prazer e sem acusações. Essas sete perguntas não são nenhuma garantia de que nunca mais erraremos, e mesmo sem elas temos a certeza de que em comunhão com Cristo nunca seremos separados do amor de Deus. Com essas perguntas e baseados na Palavra de Deus, porém, temos à mão uma ajuda para aplicar na prática a sabedoria que Deus nos quer conceder de qualquer modo.

René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.

FONTE/CHAMADA.COM

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