Pastor evangeliza na prisão viciado que lhe deu 37 facadas: “Ele precisa de um Salvador”
Às 3 da manhã, em agosto de 2009, o pastor Kevin Ramsby acordou com o som de um vidro quebrando no andar de baixo de sua casa em Detroit (EUA). Era muito comum que usuários de drogas entrassem em propriedades vazias para consumir entorpecentes.
“Como pastor do centro da cidade, interagi com muitos drogados, traficantes e membros de gangues ao longo dos anos. Eu entendia os perigos de viver e ministrar nesta comunidade, mas também sabia que era um campo missionário para o qual Deus havia me chamado”, disse Ramsby à AG News.
Naquele dia, Ramsby estava sozinho em casa. Depois de terminar uma longa semana evangelística nas proximidades de Highland Park, na região metropolitana de Detroit, sua esposa e filhos foram visitar parentes em outro estado.
“Acendi as luzes, bati uma raquete de tênis nas paredes e gritei: ‘Esta é a minha casa! Sai daqui!’ Quando cheguei ao pé da escada, um homem me apunhalou no abdômen com uma faca de 25 centímetros da minha própria cozinha”, relata o pastor.
Ramsby caiu para frente e a faca o perfurou ainda mais, criando um ferimento de dezoito centímetros. Quando viu as pupilas dilatadas e o olhar vago daquele homem, percebeu que “ele estava doidão de crack”.
“Ele afundou a faca no meu corpo novamente e gritou: ‘Onde estão as chaves e o dinheiro?’ Não consegui falar enquanto o homem vasculhava a casa e voltava para desferir mais golpes. Ele me esfaqueou 37 vezes antes de finalmente perder o interesse e me deixar sangrar no chão da cozinha”, conta o pastor.
Esperando morrer a qualquer momento, Ramsby lembra que começou a orar: “Implorei a Deus que protegesse minha família e não os deixasse ficar amargurados por causa do meu assassinato. Pedi a Ele que fosse um pai para meus filhos quando crescessem sem mim. Ao terminar de orar, comecei a perder a consciência.”
Jornada de cura e perdão
Ramsby acordou uma semana depois no hospital, cercado pela família e amigos. Ele passou por uma jornada de recuperação física, mas também emocional.
“Eu gostaria de poder dizer que acordei de um coma com o perdão brotando em meu coração. Na verdade, o medo e a raiva esmagadora que senti ao lembrar do ataque foram tão angustiantes quanto minhas feridas físicas”, afirma.
Ramsby confessa que chegou a declarar “eu perdoo” por um sentimento de obrigação cristã, mas sabia que não era sincero. “Cada dia era uma lembrança de algo que [aquele homem] havia roubado de mim: minha saúde, meu senso de segurança, as finanças da minha família, a inocência de meus filhos, meu ministério”, conta.
“Eu fantasiei sobre caçar o homem. Eu pensei em suicídio. Mas em meio à turbulência, senti o chamado do Senhor: ‘Kevin, você foi muito perdoado’. Confessando minha incapacidade de superar o ódio, convidei Jesus para trabalhar em meu coração”, acrescenta o pastor.
Encontro com o agressor
Três anos após o ataque, Ramsby compareceu ao julgamento de seu agressor. “Eu estava nervoso ao entrar no tribunal, mas também estava confiante no que Deus havia feito em minha vida”, afirma.
Ramsby surpreendeu o tribunal quando se recusou a compartilhar o depoimento da vítima, mas em vez disso — inspirado pela história de José, que perdoou seus irmãos e exaltou a Deus — ele escolheu compartilhar uma “declaração de vida”.
O pastor Kevin Ramsby e o agressor, Wesley McLemore, na sentença. (Foto: ClickOnDetroit.com)
“Expliquei que agora era um homem melhor por causa do ataque. Eu tinha me tornado um melhor marido, pai e pastor. A dor me deu a oportunidade de me tornar mais semelhante a Jesus”, disse na ocasião.
O homem recebeu uma pena de prisão de 18 a 40 anos. Ramsby diz que hoje está livre para viver sua vida sem o fardo da falta de perdão.
Nos últimos 8 anos, o pastor conta que conversou com o agressor através do e-mail da prisão. Isso o fez mudar sua visão sobre aquele homem: “Eu o via apenas como um monstro que me custou tudo — um viciado inútil que pensava que uma droga era mais importante do que minha vida”.
“Agora o vejo como um homem que se mudou para o outro lado do país para se reconectar com uma filha distante, apenas para enfrentar a rejeição dela. Vejo um homem que voltou às drogas para lidar com uma dor que não estava preparado para enfrentar. Até vejo um homem que não está totalmente ciente do que fez à minha vida e à minha família. E então eu ouço Jesus dizendo: ‘Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem’ (Lucas 23:34). E quando me permito ouvir essas palavras, vejo um homem que precisa de um Salvador, assim como eu”, acrescenta.
Ramsby fundou o Fight To Forgive (“Lute Para Perdoar”), um ministério evangelístico criado para levar as pessoas ao perdão e à reconciliação por meio de Jesus. “Minha missão é levar as pessoas a um Deus que cura e restaura”, explica.
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