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Os destinatários (Parte 1)

Norbert Lieth

Os destinatários a que a carta é dirigida são judeus crentes em Jesus na diáspora. Trata-se, portanto, da parcela judia dentro da igreja, esta que é composta de judeus e gentios (Efésios 2.15-18; Romanos 3.30; 10.12).

Esses crentes viviam na região da atual Turquia, que Paulo foi impedido de visitar em sua segunda viagem missionária (Atos 16.6-8). Isso mostra que Deus de modo nenhum tinha ignorado aquela região, mas que ele distribuiu o ministério de forma variada entre os apóstolos. Como apóstolo para os gentios, Paulo levou o evangelho para a Europa, e Pedro atuou como apóstolo para os judeus mais nessa região. Há várias razões que depõem a favor disso:

1. 1Pedro 1.1

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia” (1Pedro 1.1).

O termo “dispersão”, diaspora em grego, é uma expressão usual para judeus dispersos entre os povos gentios. Se a expressão “na diáspora” se referisse a cristãos gentios, isso não faria sentido, porque os cristãos gentios de qualquer modo viviam entre as nações e muitas vezes eram naturais de lá mesmo. Portanto, não viviam dispersos. É por isso que Paulo não emprega o termo diáspora para os cristãos gentios, mas escreve: “… às igrejas da Galácia” (Gálatas 1.2). “… aos santos e fiéis… que estão em Éfeso” (Efésios 1.1). “… a todos os santos… que estão em Filipos…” (Filipenses 1.1). “Aos santos e fiéis irmãos… em Colossos” (Colossenses 1.2); “… às igrejas dos tessalonicenses…” (1Tessalonicenses 1.1).

Portanto, na primeira carta de Pedro trata-se de uma circular para judeus crentes no Messias no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia, que são localidades na atual Turquia. Da mesma forma, a segunda carta de Pedro também se dirige a judeus (2Pedro 3.1), assim como Hebreus (Hebreus 1.1: “antepassados” = pais de Israel, já que por ocasião da redação da carta os gentios ainda não tinham pais na fé a que se reportar). A carta de Tiago dirige-se expressamente “às doze tribos dispersas entre as nações” (Tiago 1.1), o que presume que estas ainda existiam na ocasião. A carta de Judas é estreitamente ligada à segunda carta de Pedro, e Judas identifica-se como “irmão de Tiago” (verso 1), e o conteúdo da carta é bem judaico. As cartas de João também são judias. Em 1João 2.2, o apóstolo escreve que Jesus é o sacrifício propiciatório para os “nossos pecados” (dos judeus), mas não só para os “nossos”, mas também para “todo o mundo”. Apocalipse foi escrito por João, de modo que também deve dirigir-se primariamente a judeus. Todas as cartas, exceto as de Paulo, dirigem-se a igrejas judias.

1Pedro é uma mensagem de consolo a crentes perseguidos que tiveram de suportar muito sofrimento.

Afinal, temos de levar em conta que os primeiros crentes em Jerusalém foram judeus. Estes foram mais tarde perseguidos e espalharam-se entre os judeus que já se encontravam no exterior. Com isso formaram-se igrejas judias entre as nações (Atos 2.9-11; 8.1-2, 25-26ss; 18.2).

O apóstolo Pedro era expressamente o apóstolo dos judeus, enquanto Paulo era o apóstolo dos gentios. Paulo recebera um ministério apostólico especial como 13º apóstolo enviado aos gentios, enquanto o ministério apostólico de Pedro e dos outros pilares se dirigia aos judeus (Gálatas 2.7-9). Disso resulta que as cartas de Pedro foram dirigidas a judeus.

Como já dissemos, 1Pedro é uma mensagem de consolo a crentes perseguidos que tiveram de suportar muito sofrimento. Com isso se cumpriu literalmente o que Jesus passou a Pedro como missão e promessa: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E, quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lucas 22.31-32).

Pedro tornou-se um consolador dos seus irmãos judeus porque ele mesmo tinha uma fé inabalável – apesar da perseguição.

Os irmãos de Pedro eram antes de tudo seus irmãos étnicos dentre os judeus (cf. Atos 2.29; Hebreus 2.11-12,17). Pedro tornou-se um consolador dos seus irmãos judeus porque ele mesmo tinha uma fé inabalável – apesar da perseguição. Pedro deixara de negar para passar a confessar corajosamente.

Nós também somos chamados a nos consolar mutuamente. “Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos” (1Tessalonicenses 5.14).

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2. 1Pedro 1.14-15

“Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’” (1Pedro 1.14-15).

Esta última citação provém de Levítico 11.44-45 e 20.26 (cf. Hebreus 2.11) e foi uma convocação de Deus ao povo judeu. Portanto, tratava-se de judeus que haviam se adaptado ao ambiente gentio e não viviam mais separados. Ao longo de gerações, eles haviam perdido de vista a aliança de Deus com seu povo. Agora passaram a crer no Messias e foram convocados a lembrar-se do seu chamado.

3. 1Pedro 1.18-19

“Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1Pedro 1.18-19)

Isso se refere aos pais judeus das gerações passadas. Outras passagens bíblicas esclarecem: “O povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles são a glória divina, as alianças, a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas. Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém” (Romanos 9.4-5).

Hebreus 1.1-2 também assume a mesma linha: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo”.

É a esses pais que se referem os escarnecedores mencionados em 2Pedro 3.4, que dizem: “O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação”.

Todas as alianças, legislações e cultos veterotestamentários apontam para a vinda de Cristo na carne.

Em outras palavras, os escarnecedores dizem: “Nada mudou desde nossos patriarcas judeus, tudo permanece sempre igual”. Eles não creem na primeira vinda de Jesus, que mudou tudo, e por isso também não creem em seu retorno. Continuam vivendo a rígida tradição da “antiga aliança”.

E “sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados” (verso 18), revela o estilo de vida de um judaísmo sem o Messias, porque todo o Antigo Testamento torna-se inoperante (nulo) quando não se crê no cumprimento da primeira vinda de Jesus.

Todas as alianças, legislações e cultos veterotestamentários apontam para a vinda de Cristo na carne. Todos os profetas que se dirigiram aos patriarcas judeus olhavam profeticamente para Jesus. Quem não crer nisso, vive no nada.

Os pais dos judeus destinatários da primeira carta de Pedro ainda não criam em Jesus, mas eles – a nova geração – passaram a crer e foram redimidos pelo precioso sangue do cordeiro sem mancha e sem defeito. Trata-se de uma evidente alusão ao cordeiro pascal.

Norbert Lieth nasceu em 1955 na Alemanha, sendo missionário na América do Sul entre 1978 e 1985. Casado, tem 4 filhas. Hoje faz parte da liderança da Chamada da Meia-Noite em sua sede, na Suíça. O ponto central de seu ministério é a palavra profética, sendo autor de diversos livros e conferencista internacional. Ele estará presente no 22º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada
Fonte/ chamada,com

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