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Formação Espiritual: Processo

Daniel Lima

Todo cristão já teve uma experiência de um encontro especial com Deus. Pode ter sido em sua conversão, pode ter sido em um momento de oração, de adoração, ou mesmo ouvindo uma pregação. São momentos em que a Palavra toca fundo seu coração, revelando aspectos que estavam até então encobertos ou adormecidos. Você reage com temor, ciente ao mesmo tempo – e com igual intensidade – tanto de sua limitação e pequenez quanto do amor e poder de Deus. Você sai destes momentos transformado em seu interior, além de tomado por uma nova convicção de um pecado a ser abandonado, uma nova e inspiradora compreensão da graça de Deus, ou então com um novo nível de admiração pelo Senhor que o inspira a uma nova consagração. Espero com sinceridade que você tenha tido muitos momentos assim em sua jornada com Cristo.

No entanto, a realidade é que essa não é nossa experiência rotineira. Há períodos em que temos encontros assim com frequência. Há também períodos em que nossa caminhada é mais fruto da firmeza de nossa fé do que pelo frescor de nossas experiências com Deus. Em tempos como estes, em que encontros e experiências assim se espaçam, muitos começam a temer. Temer terem perdido o ritmo ou o rumo. Temem até mesmo estar esfriando na fé. Deixe-me compartilhar com você uma definição sobre crescimento ou formação espiritual que tem me consolado e orientado com frequência: “Formação espiritual é o processo de ser formado à imagem de Cristo, em favor dos outros”. [1]

Eu gosto muito dessa definição por sua simplicidade e profundidade. A primeira característica é que formação espiritual é um processo. Ninguém espera, ao colocar seu filho de um ano no berço certa noite, que ele vai amanhecer no dia seguinte já sabendo andar, se trocar, tomar banho, ler e escrever. Ao mesmo tempo, com frequência somos surpreendidos ao ver os “saltos” de desenvolvimento que crianças podem apresentar. O que ocorre é que a criança em desenvolvimento está acumulando uma série de aprendizados quase imperceptíveis e, de repente, ela reúne todas as habilidades aprendidas e apresenta um comportamento, para nós, inesperado.

Na vida espiritual ocorre algo semelhante. Temos saltos de crescimento e períodos que nos parecem longos em que não percebemos qualquer transformação. Acredito que nestes momentos Deus pode estar trabalhando em conceitos e aprendizados interiores que eventualmente resultarão em mudanças perceptíveis. Um exemplo clássico disso é a vida de Pedro. Pedro é ousado durante boa parte dos evangelhos, mas fica claro que ele fala muito mais do que faz. Ele repreende o mestre quando este fala de sua morte (Mateus 16.21-23), dorme quando Jesus pede que vigiem (Mateus 26.36-46) e, por fim, após prometer morrer por Jesus, o nega três vezes na mesma noite (Mateus 26.69-75). Ao mesmo tempo, pouco dias depois, ele se levanta corajosamente para pregar a uma multidão (Atos 2.14). O derramamento do Espírito Santo fez toda a diferença.

Formação espiritual não se resume a uma série de encontros maravilhosos com Deus. Inclui também o correr com perseverança.

Também percebemos alguns encontros transformadores na vida de Paulo, mas igualmente períodos de contínua obediência. Ele relata sua experiência de conversão (Atos 22.6-21), relata também a experiência de ser levado ao céu (2Coríntios 12.2-6), assim como outros encontros pessoais com o Senhor (Atos 16.6; 20.22-23). Contudo, sua descrição em Filipenses 3.12-14 é de um processo contínuo de esquecer-se do que ficou para trás e continuar rumo ao alvo. Paulo parece descrever seu crescimento, sua formação espiritual, como um processo longo de obediência e perseverança, com alguns encontros surpreendentes.

Em Hebreus 12.1-2, o autor, inspirado pelo Espírito Santo, afirma:

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.

Quero destacar a expressão “corramos com perseverança”. Formação espiritual não se resume a uma série de encontros maravilhosos com Deus. Inclui também o correr com perseverança. Enquanto corremos com perseverança, nossa fé é fortalecida, nossas convicções se tornam mais fortes, nossa dependência e expectativa do Senhor, aprofundadas. Entre uma experiência maravilhosa e outra, nós somos chamados a caminhar pela fé.

Como você tem visto sua formação espiritual? Você pode apontar para alguns momentos maravilhosos de intimidade com o Senhor e consequente transformação? Amém, louve a Deus por esses momentos. Ao mesmo tempo, não desanime nos longos períodos que parece que nada acontece. Minha oração por você e por mim mesmo é que, neste processo longo da nossa formação espiritual, sejamos encontrados fiéis.

Nota

  1. M. Robert Mulholland, Invitation to a Journey: A Road Map for Spiritual Formation (Downers Grove, IL: IVP Books, 1993), p. 15.
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
Fonte/ chamada.com

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