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Hernandes Dias Lopes – TRÊS TIPOS DE ESPIRITUALIDADE

 

INTRODUÇÃO

1. O homem é um ser religioso

O homem é um ser religioso. Desde os tempos mais remotos, ele tem levantado altares. Há povos sem leis, sem governos, sem economia, sem escolas, mas jamais sem religião. O homem tem sede do Eterno. Deus mesmo colocou a eternidade no coração do homem.

Cada religião busca oferecer ao homem o caminho de volta para Deus. As religiões são repetições do malogrado projeto da Torre de Babel.

2. O homem é um ser confuso espiritualmente

Só há duas religiões no mundo: a revelada e aquela criada pelo próprio homem. Uma tenta abrir caminhos da terra ao céu; a outra, abre o caminho a partir do céu. Uma é humanista, a outra é teocêntrica. Uma prega a salvação pelas obras; a outra, pela graça.

O cristianismo é a revelação que o próprio Deus faz de si mesmo e do seu plano redentor. As demais religiões representam um esforço inútil de o homem chegar até Deus através dos seus méritos.

3. O homem é um ser que idolatra a si mesmo

A religião que prevalece hoje é a antropolatria. O homem tornou-se o centro de todas as coisas. Na pregação contemporânea, Deus é quem está a serviço do homem e não o homem a serviço de Deus. A vontade do homem é que deve ser feita no céu e não a vontade de Deus na terra. O homem contemporâneo não busca conhecer a Deus, mas sentir-se bem.

A luz interior tornou-se mais importante do que a revelação escrita. O culto não é racional, mas sensorial. O homem não quer conhecer, quer sentir. O sentimento prevaleceu sobre a razão. As emoções assentaram-se no trono e a religião está se transformando num ópio, um narcótico que anestesia a alma e coloca em sono profundo as grandes inquietações da alma.

Marcos capítulo 9 oferece-nos uma reposta sobre os modelos de espiritualidade:

I. A ESPIRITUALIDADE DO MONTE – ÊXTASE SEM ENTENDIMENTO – (9.2-8)

Pedro, Tiago e João sobem o Monte da Transfiguração com Jesus, mas não alcançam as alturas espirituais da intimidade com Deus. Há uma transição bela entre o capítulo 8 de Marcos e este capítulo 9; no anterior Cristo falou da cruz, agora ele revela a glória. O caminho da glória passa pela cruz.

Que monte era este? A tradição diz que é o Monte Tabor;[1] outros pensam que se trata do Monte Hermon. Mas, a geografia não interessa, diz Adolf Pohl, já que não se pensa em peregrinações. A fé no Senhor vivo que está presente em todos os lugares faz com que montes sagrados entrem em esquecimento.[2]

A mente dos discípulos estava confusa e o coração fechado. Eles estavam cercados por uma aura de glória e luz, mas um véu lhes embaçava os olhos e tirava-lhes o entendimento.

1. Os discípulos andam com Jesus, mas não conhecem a intimidade do Pai – (Lc 9.28,29).

Jesus subiu o Monte da Transfiguração para orar. A motivação de Jesus era estar com o Pai. A oração era o oxigênio da sua alma. Todo o seu ministério foi regado de intensa e perseverante oração.[3] Jesus está orando, mas em momento nenhum os discípulos estão orando com ele. Eles não sentem necessidade nem prazer na oração. Eles não têm sede de Deus. Eles estão no monte a reboque, mas não estão alimentados pela mesma motivação de Jesus.

2. Os discípulos estão diante da manifestação da glória de Deus, mas, em vez de orar, eles dormem – (Lc 9.28,29).

Jesus foi transfigurado porque orou. Os discípulos não oraram e por isso foram apenas espectadores. Porque não oraram, ficaram agarrados ao sono. A falta de oração pesou-lhes as pálpebras e cerrou-lhes o entendimento. Um santo de joelhos enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. As coisas mais santas, as visões mais gloriosas e as palavras mais sublimes não encontraram guarida no coração deles. As coisas de Deus não lhes davam entusiasmo; elas cansavam seus olhos, entediavam seus ouvidos e causavam-lhes sono.

3. Os discípulos experimentam um êxtase, mas não têm discernimento espiritual – (9.7,8).

Os discípulos contemplaram quatro fatos milagrosos: a transfiguração do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e Elias, a nuvem luminosa que os envolveu e a voz do céu que trovejava em seus ouvidos. Nenhuma assembléia na terra jamais foi tão esplendidamente representada: lá estava o Deus triúno, Moisés e Elias, o maior legislador e o maior profeta. Lá estavam Pedro, Tiago e João, os apóstolos mais íntimos de Jesus.[4] Apesar de estar envoltos num ambiente de milagres, faltou-lhes discernimento em quatro questões básicas:

Em primeiro lugar, eles não discerniram a centralidade da Pessoa de Cristo (9.7,8). Os discípulos estão cheios de emoção, mas vazios de entendimento. Querem construir três tendas, dando a Moisés e a Elias a mesma importância de Jesus. Querem igualar Jesus aos representantes da Lei e dos Profetas. Como o restante do povo, eles também estão confusos quanto à verdadeira identidade de Jesus (Lc 9.18,19). Não discerniram a divindade de Cristo. Andam com Cristo, mas não lhe dão a glória devida ao seu nome (Lc 9.33). Onde Cristo não recebe a preeminência, a espiritualidade está fora de foco. Jesus é maior do que do Moisés e Elias. A Lei e os Profetas apontaram para ele.

Warren Wiersbe diz que tanto Moisés como Elias, tanto a lei como os profetas tiveram seu cumprimento em Cristo (Hb 1.1-2; Lc 24.25-27). Moisés morreu e seu corpo foi sepultado, mas Elias foi arrebatado aos céus. Quando Jesus retornar, ele ressuscitará os corpos dos santos que morreram e arrebatará os santos que estiverem vivos (1 Ts 4.13-18).[5]

O Pai corrigiu a teologia dos discípulos, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi” (Lc 9.34,35). Jesus não pode ser confundido com os homens, ainda que com os mais ilustres. Ele é Deus. Para ele deve ser toda devoção. Nossa espiritualidade deve ser cristocêntrica. A presença de Moisés e Elias naquele monte longe de empalidecer a divindade de Cristo, confirmava que de fato ele era o Messias apontado pela lei e pelos profetas.[6]

Em segundo lugar, eles não discerniram a centralidade da missão de Cristo. Moisés e Elias apareceram para falar da iminente partida de Jesus para Jerusalém (Lc 9.30,31). A agenda daquela conversa era a cruz. A cruz é o centro do ministério de Cristo. Ele veio para morrer. Sua morte não foi um acidente, mas um decreto do Pai desde a eternidade. Cristo não morreu porque Judas o traiu por dinheiro, porque os sacerdotes o entregaram por inveja nem porque Pilatos o condenou por covardia. Ele voluntariamente se entregou por suas ovelhas (Jo 10.11), pela sua igreja (Ef 5.25).

Toda espiritualidade que desvia o foco da cruz é cega de discernimento espiritual. Satanás tentou desviar Jesus da cruz, suscitando Herodes para matá-lo. Depois, ofereceu-lhe um reino. Mais tarde, levantou uma multidão para fazê-lo rei. Em seguida, suscitou Pedro para reprová-lo. Ainda quando estava suspenso na cruz, a voz do inferno vociferou na boca dos insolentes judeus: “Desça da cruz, e creremos nele” (Mt 27.42). Se Cristo descesse da cruz, nós desceríamos ao inferno. A morte de Cristo nos trouxe vida e libertação.

A palavra usada para “partida” é a palavra êxodo. A morte de Cristo abriu as portas da nossa prisão e nos deu liberdade. Moises e Elias entendiam isso, mas os discípulos estavam sem discernimento dessa questão central do Cristianismo (Lc 9.44,45). Hoje há igrejas que aboliram dos púlpitos a mensagem da cruz. Pregam sobre prosperidade, curas e milagres. Mas, esse não é o evangelho da cruz, é outro evangelho e deve ser anátema!

Em terceiro lugar, eles não discerniram a centralidade de seus próprios ministérios – (9.5). Eles disseram: “Bom é estarmos aqui”. Eles queriam a espiritualidade da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Queriam as visões arrebatadoras do monte, não os gemidos pungentes do vale. Mas é no vale que o ministério se desenvolve.

É mais cômodo cultivar a espiritualidade do êxtase, do conforto. É mais fácil estar no templo, perto de pessoas co-iguais do que descer ao vale cheio de dor e opressão. Não queremos sair pelas ruas e becos. Não queremos entrar nos hospitais e cruzar os corredores entupidos de gente com a esperança morta. Não queremos ver as pessoas encarquilhadas nas salas de quimioterapia. Evitamos olhar para as pessoas marcadas pelo câncer nas antecâmaras da radioterapia. Desviamos das pessoas caídas na sarjeta. Não queremos subir os morros semeados de barracos, onde a pobreza extrema fere a nossa sensibilidade. Não queremos visitar as prisões insalubres nem pôr os pés nos guetos encharcados de violência. Não queremos nos envolver com aqueles que vivem oprimidos pelo diabo nos bolsões da miséria ou encastelados nos luxuosos condomínios fechados. É fácil e cômodo fazer uma tenda no monte e viver uma espiritualidade escapista, fechada entre quatro paredes. Permanecer no monte é fuga, é omissão, é irresponsabilidade. A multidão aflita nos espera no vale!

Em quarto lugar, eles estão envolvidos por uma nuvem celestial, mas têm medo de Deus – (Lc 9.34). Eles se encheram de medo (Lc 9.34) ao ponto de caírem de bruços (Mt 17.5,6). A espiritualidade deles é marcada pela fobia do sagrado. Eles não apenas não encontram prazer na comunhão com Deus através da oração, mas revelam medo de Deus. Vêem Deus como uma ameaça. Eles se prostram não para adorar, mas para temer. Eles estavam aterrados (9.6). Pedro, o representante do grupo, não sabia o que dizia (Lc 9.33). Deus não é um fantasma cósmico. Ele é o Pai de amor. Jesus não alimentou a patologia espiritual dos discípulos; pelo contrário, mostrou sua improcedência: “Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus, dizendo: Erguei-vos, e não temais” (Mt 17.7). O medo de Deus revela uma espiritualidade rasa e sem discernimento.

II. A ESPIRITUALIDADE DO VALE – DISCUSSÃO SEM PODER – (9.9-29)

Os nove discípulos de Jesus estavam no vale cara a cara com o diabo, sem poder espiritual, colhendo um grande fracasso. A razão era a mesma dos três que estavam no monte: em vez de orar, estavam discutindo. Aqui aprendemos várias lições:

1. No vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja solução para o seu drama – (9.18).

Aqui está um pai desesperado (Mt 17.15,16). O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo seu único filho.

Aquele jovem estava possuído por uma casta de demônios, que tornavam sua vida um verdadeiro inferno. No auge do seu desespero o pai do jovem correu para os discípulos de Jesus em busca de ajuda, mas eles estavam sem poder. Exemplo: a experiência de Erlo Stegen em Kwa Sizabantu.

A igreja tem oferecido resposta para uma sociedade desesperançada e aflita? Temos confrontado o poder do mal? Conhecimento apenas não basta, é preciso revestimento de poder. O reino de Deus não consiste de palavras, mas de poder.

2. No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera – (9.14-18).

Os discípulos estavam envolvidos numa interminável discussão com os escribas, enquanto o diabo estava agindo livremente sem ser confrontado. Eles estavam perdendo tempo com os inimigos da obra em vez de fazer a obra (9.16).

A discussão, muitas vezes é saudável e necessária. Mas, passar o tempo todo discutindo é uma estratégia do diabo para nos manter fora da linha de combate. Há crentes que passam a vida inteira discutindo empolgantes temas na Escola Dominical, participando de retiros e congressos, mas nunca entram em campo para agir. Sabem muito e fazem pouco. Discutem muito e trabalham pouco.

Os discípulos estavam discutindo com os opositores da obras (9.14). Discussão sem ação é paralisia espiritual. O inferno vibra quando a igreja se fecha dentro de quatro paredes, em torno dos seus empolgantes assuntos. O mundo perece enquanto a igreja está discutindo. Há muita discussão, mas pouco poder. Muita verborragia, mas pouca unção. Há multidões sedentas, mas pouca ação da igreja.

3. No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco sem ser confrontado – (9.17,18).

Há dois extremos perigosos que precisamos evitar no trato dessa matéria:
Em primeiro lugar, subestimar o inimigo. Os liberais, os céticos e incrédulos negam a existência e a ação dos demônios. Para eles o diabo é uma figura lendária e mitológica. Negar a existência e a ação do diabo é cair nas malhas do mais ardiloso satanismo.

Em segundo lugar, superestimar o inimigo. Há segmentos chamados evangélicos que falam mais no diabo do que anunciam Jesus. Pregam mais sobre exorcismo do que arrependimento. Vivem caçando demônios neurotizados pelo chamado movimento de batalha espiritual.

Como era esse poder maligno que estava agindo no vale?

Primeiro, o poder maligno que estava em ação na vida daquele menino era assombrosamente destruidor (9.18,22; Lc 9.39). A casta de demônios fazia esse jovem rilhar os dentes, convulsionava-o e lançava-o no fogo e na água, para matá-lo. Os sintomas desse jovem apontam para uma epilepsia. Mas não era um caso comum de epilepsia, pois além de estar sofrendo dessa desordem convulsiva, era também um surdo-mudo. O espírito imundo que estava nele o havia privado de falar e ouvir.[7] A possessão demoníaca é uma realidade dramática que tem afligido muitas pessoas ainda hoje. Os ataques àquele jovem eram tão freqüentes e fortes que o menino não queria mais crescer, mas ia definhando.

Segundo, o poder maligno em ação no vale atingia as crianças (9.21,22). A palavra usada para meninice é bréfos, palavra que descreve a infância desde o período intra-uterino. O diabo não poupa nem mesmo as crianças. Aquele jovem vivia dominado por uma casta de demônios desde sua infância. Há uma orquestração do inferno para atingir as crianças (Ex 10.10,11). Se Satanás investe desde cedo na vida das crianças, não deveríamos nós, com muito mais fervor investir na salvação delas? Se as crianças podem ser cheia de demônios, não poderiam ser também cheias do Espírito de Deus?[8] Exemplo: minha experiência no começo do ministério em Vitória com o menino de três anos.

Terceiro, o poder maligno em curso age com requinte de crueldade (Lc 9.38). Esse jovem era filho único. O coração do Filho único de Deus enchia-se de compaixão por esses filhos únicos, por seus pais, e por muitos, muitos outros![9] Ao atacar esse rapaz o diabo estava destruindo os sonhos de uma família. Onde os demônios agem há sinais de desespero. Onde eles atacam a morte mostra sua carranca. Onde eles não são confrontados, a invasão do mal desconhece limites.

4. No vale, os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas (9.18; Lc 9.40; Mt 17.16).

Por que os discípulos estão sem poder?

Em primeiro lugar, porque há demônios e demônios (9.29). Há demônios mais resistentes que outros (Mt 17.19,21). Há hierarquia no reino das trevas (Ef 6.12). Exemplo: o homem possesso de Aribiri.

Em segundo lugar, porque os discípulos não oraram (9.28,29). Não há poder espiritual sem oração. O poder não vem de dentro, mas do alto.

Em terceiro lugar, porque os discípulos não jejuaram (9.28,29). O jejum nos esvazia de nós mesmos e nos reveste com o poder do alto. Quando jejuamos estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus.

Em quarto lugar, porque os discípulos tinham uma fé tímida (Mt 17.19,20). A fé não olha para a adversidade, mas para as infinitas possibilidades de Deus. Jesus disse para o pai do jovem: “Se podes, tudo é possível ao que crê” (9.23). O poder de Jesus opera, muitas vezes, mediante a nossa fé. Exemplo: o seminarista de Recife.

III. A ESPIRITUALIDADE DE JESUS (9.30,31; Lc 9.29,31,44,51,53).

A transfiguração foi uma antecipação da glória, um vislumbre e um ensaio de como será o céu (Mt 16.18). A palavra “transfigurar” é metamorphothe, de onde vem a palavra metamorfose. O verbo refere-se a uma mudança externa que procede de dentro. Essa não é uma mudança meramente de aparência, mas uma mudança completa para outra forma.[10] Sua idéia básica é: mudar de figura.[11] Muitas vezes, os discípulos viram Jesus empoeirado, faminto e exausto, além de perseguido, sem pátria e sem proteção. De repente passa uma labareda por esta casca de humilhação, indubitável, inesquecível (2 Pe 1.16-18). Por alguns momentos, todo ele estava permeado de luz.[12] Aprendemos aqui algumas verdades fundamentais sobe a espiritualidade de Jesus:

1. A espiritualidade de Jesus é fortemente marcada pela oração – (Lc 9.28).

Jesus subiu o Monte da Transfiguração com o propósito de orar e porque orou seu rosto transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura (Lc 9.29). A oração é uma via de mão dupla, onde nos deleitamos em Deus e ele tem prazer em nós (Mt 17.5). Deus tem prazer em ter comunhão com seu povo (Is 62.4,5; Sf 3.17). A essência da oração é comunhão com Deus. O maior anseio de quem ora não são as bênçãos de Deus, mas o Deus das bênçãos. Jesus muitas vezes saía para os lugares solitários para buscar a face do Pai.

Dois fatos são dignos de destaque na transfiguração de Jesus:

Em primeiro lugar, o seu rosto transfigurou (Lc 9.29). Mateus diz que o seu rosto resplandecia como o sol (Mt 17.2). O nosso corpo precisa ser vazado pela luz do céu. Devemos glorificar a Deus no nosso corpo. A glória de Deus precisa brilhar em nós e resplandecer através de nós.

Em segundo lugar, suas vestes também resplandeceram de brancura (Lc 9.29). Mateus diz que suas vestes resplandeceram como a luz (Mt 17.2). Marcos nos informa que as suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro na terra as poderia alvejar (9.3). Adolf Pohl diz que para o oriental, roupa e pessoa são uma coisa só. Assim, ele pode descrever vestimentas para caracterizar quem as usa (Ap 1.13; 4.4; 7.9; 10.1; 12.1; 17.4; 19.13).[13] As nossas vestes revelam o nosso íntimo mais do que cobrem o nosso corpo. Retratam o nosso estado interior e demonstram o nosso senso de valores. As nossas roupas precisam ser também santificadas para não defraudarmos os nossos irmãos. Devemos nos vestir com modéstia e bom senso. Devemos nos vestir para a glória de Deus.

A oração de Jesus no monte ainda nos evidencia outras duas verdades:

Em primeiro lugar, na transfiguração Jesus foi consolado antecipadamente para enfrentar a cruz (Lc 9.30,31). Quando oramos Deus nos consola antecipadamente para enfrentarmos as situações difíceis. Jesus passaria por momentos amargos: seria preso, açoitado, cuspido, ultrajado, condenado e pregado numa cruz. Mas, pela oração o Pai o capacitou a beber aquele cálice amargo sem retroceder. Quem não ora desespera-se na hora da aflição. É pela oração que triunfamos. Exemplo: no dia que meu pai morreu o avião cruzou o nevoeiro denso e lá encima o sol estava brilhando.

Em segundo lugar, em resposta à oração de Jesus, o Pai confirmou o seu ministério (Mt 17.4,5). Os discípulos sem discernimento igualaram Jesus a Moisés e Elias, mas o Pai defendeu Jesus, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi”. Marcos registra: “E de relance, olhando ao redor, a ninguém mais viram com eles, senão Jesus” (9.8). O Pai reafirma seu amor ao Filho e autentica sua autoridade, falando de dentro da nuvem luminosa aos discípulos. Aquela era a mesma nuvem que havia guiado Israel quando saía do Egito (Ex 13.21), que apareceu ao povo no deserto (Ex 16.10; 24.15-18), que apareceu a Moisés (Ex 19.9) e que encheu o templo com a glória do Senhor (1Rs 8.10).[14] Vincent Taylor afirma que no Antigo Testamento a nuvem “é o veículo da presença de Deus, a habitação de sua glória, da qual ele fala”.[15]

Você não precisa se defender, você precisa orar. Quando você ora, Deus sai em sua defesa. Quando você cuida da sua piedade, Deus cuida da sua reputação. Além de não defender o seu ministério, Jesus não tocou trombetas para propagar suas gloriosas experiências. Sua espiritualidade não era autoglorificante (Mt 17.9). Quem elogia a si mesmo demonstra uma espiritualidade trôpega.

2. A espiritualidade de Jesus é marcada pela obediência ao Pai – (9.30,31; Lc 9.44,51,53).

A obediência absoluta e espontânea à vontade do Pai foi a marca distintiva da vida de Jesus. A cruz não era uma surpresa, mas uma agenda. Ele não morreu como mártir, ele se entregou. Ele foi para a cruz porque o Pai o entregou por amor (Jo 3.16; Rm 5.8; 8.32). A conversa de Moisés e Elias com Jesus foi sobre sua partida para Jerusalém. A expressão usada foi êxodos. O êxodo foi a libertação do povo de Israel do cativeiro egípcio. Como seu êxodo, Jesus nos libertou do cativeiro do pecado. Sua morte nos trouxe libertação e vida. Logo que desceu do monte, Jesus demonstrou com resoluta firmeza que estava indo para a cruz (9.31; 9.53). Ele chorou (Hb 7.5) e suou sangue (Lc 22.39-46) para fazer a vontade do Pai. Ele veio para isso (Jo 17.4) e ao morrer na cruz, declarou isso triunfantemente (Jo 19.30). A verdadeira espiritualidade implica em obediência (Mt 7.22,23).

3. A espiritualidade de Jesus é marcada por poder para desbaratar as obras do diabo (9.25-27).

O ministério de Jesus foi comprometido com a libertação dos cativos (Lc 4.18; At 10.38). Ao mesmo tempo em que ele é o libertador dos homens, é o flagelador dos demônios. Jesus expulsou a casta de demônios do menino endemoninhado e disse: “Sai […] e nunca mais tornes a ele” (9.25-27). O poder de Jesus é absoluto e irresistível. Os demônios bateram em retirada, o menino foi liberto, devolvido ao seu pai e todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus (Lc 9.43).

Para Jesus não causa perdida nem vida irrecuperável. Ele veio libertar os cativos!

Rev. Hernandes Dias Lopes.

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[1] William Barclay. Marcos. 1973: p. 221.
[2] Adolf Pohl. Evangelho de Marcos. 1998: p. 270.
[3] Lucas 3.21,22; 4.1-13; 5.15-17; 6.12-16; 9.18-22; 9.28-31; 22.39-46; 23.34-43).
[4] John Charles Ryle. Mark. 1993: p. 128.
[5] Warren Wiersbe. Be Diligent. 1987: p. 88.
[6] William Barclay. Marcos. 1973: p. 222.
[7] William Hendriksen. Marcos. 2003: p. 440.
[8] John Charles Ryle. Mark. 1993: p. 132.
[9] William Hendriksen. Marcos. 2003: p. 439.
[10] Bruce B. Barton et all. Life Application Bible Commentary on Mark. 1994: p. 247.
[11] Adolf Pohl. Evangelho de Marcos. 1998: p. 269.
[12] Adolf Pohl. Evangelho de Marcos. 1998: p. 270.
[13] Adolf Pohl. Evangelho de Marcos. 1998: p. 271.
[14] Bruce B. Barton et all. Life Application Bible Commentary on Mark. 1994: p. 249.
[15] Vincent Tayor. The Gospel according to St. Mark. Baker. 1966: p. 391.

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