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Texto do Pr. Moreira Silva, publicado na PG do dia 21/02/2021

Reflexão: Utopia humana.

A atriz Cássia Kis foi perguntada sobre como se torna um bom ator. “A primeira coisa que se tem que fazer é jogar a sua vaidade no lixo”. Isso foi o conselho de uma atriz de renome. Imagine você: se para ser um bom ator, precisamos jogar a nossa vaidade no lixo, imagine o que é necessário para ser verdadeiramente humano.
Foi por isso que Jesus disse: “quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Essa frase é muito mal compreendida, tanto entre os cristãos como os não-cristãos. Jesus não está dizendo que segui-lo é fazer um suicídio intelectual ou viver sem prazer, ou se alienar de tudo. Não é negar o nosso eu simplesmente, mas negar todo o nosso egoísmo na nossa maneira de ver e reagir à vida, como está escrito em 2Co 5:17, “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Jesus toca na raiz do problema, porque nós aprendemos a ser gente da maneira errada. Com o rompimento que nós tivemos com Deus, como diz Ariovaldo Ramos, toda a genética foi desestruturada e fomos espiritual e psicologicamente desorganizados. Dostoiévski dizia o seguinte: “O mal faz parte da condição ontológica do ser humano: para onde quer que vá, a partir da sua razão materialista moderna, arrastará o mal consigo. Na realidade, existe uma capacidade ontológica do ser humano de pensar, descrever, definir, compreender ou construir o paraíso no mundo. Quando se faz isso, ele cai no esboço, no resumo, na ingenuidade e na utopia. Somos um ser à deriva: estamos no movimento constante das paixões – paixão no sentido grego. Fugir disso é uma ilusão”.
Emil Brunner fez uma síntese sobre a condição humana. Ele dizia que “o homem, fazendo-se a si mesmo deus, quer ser aquele que todos tenham de servir. Ao desprezar o amor de Deus como princípio de sua vida, de sua liberdade, o amor de si mesmo torna-se o motivo autodominante. Como todo homem quer ser seu próprio senhor e, portanto, quer que todos os outros sejam seus servos, é inevitável que uma luta por dominação se levante e se torne a principal característica da história humana”.
A sociedade pós-moderna ignora essa realidade em que vivemos, num estado de pecado que, pra nós cristãos, pecado não é algo moral. É algo existencial que está intrinsecamente arraigado em nossa natureza.Rom 7.15 -18, ” Porque o que  faço não aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é , na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem”. Por isso que Jesus Cristo falou que é necessário nascer de novo, que é experimentar uma metamorfose existencial, que dará inicio a uma reconstrução da nossa verdadeira humanidade.  Foi por isso que  Cristo disse, “vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo, porque sou manso e humilde de coração, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”, ele nos convida para nos tirar do estado de alienação e dessa vida patética de querer ser Deus pra si, de ser o nosso próprio referencial. Só existe um referencial no universo. Para ser gente na sua essência, temos que desistir do nosso egoísmo para  recomeçar a vida a partir de Jesus, porque nEle está o nosso verdadeiro eu.

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