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Texto do Pr. Mário Porto, publicado na PG do dia 14/02/2021

PERCEPÇÕES A VIDA SOB A ÓTICA DA FÉ

Tenho constatado que viver com fé em um mundo invisível requer esforço constante.
O Catecismo de Westminster ensina que a principal finalidade da vida é “glorificar a Deus e desfruta-lo para sempre”. Mas como essa hábil resposta se traduz em uma verdadeira forma de vida cotidiana, principalmente quando o Deus que deveríamos supostamente desfrutar e glorificar continua fugidio é escondido de nossa vista ? Não tenho desejo algum de fugir do mundo natural, a exemplo de gnósticos, monges do deserto e fundamentalistas que fogem do mundo real. Tampouco nego o sobrenatural, o erro dos reducionistas, Em vez disso, quero juntar os dois, a fim de reunir a vida no todo que Deus planejara. Como disse o escritor Meister Eckhart: “Se a alma pudesse conhecer a Deus sem o mundo, o mundo, nunca teria sido criado”. Se eu levo a sério a origem sagrada deste mundo, devo pelo menos aprender a tratá-lo como uma obra de arte feita por Deus, algo que lhe deu enorme prazer. Gênesis registra: “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”.

Blaise Pascal, que alcançou fama tanto por sua obra matemática quanto na área devocional, sugere outra abordagem: ver o mundo natural como prenúncio do sobrenatural. “Ele fez nas dádivas da natureza  o que faria nas dádivas da graça, a fim de que concluíssemos que podia fazer o invisível, visto que fez o visível sobremodo excelente. É basta-me ler os Salmos para perceber que Deus quer que o amamos e honremos por meio da criação, e não à parte dela.

“Amei-te tarde demais, ó beleza tão antiga é tão recente”, lamenta Agostinho em Confissões. Ele segue descrevendo uma época, em sua vida, na qual deixou que coisas belas, o seduzissem para longe de Deus que as fez. Mais tarde, ele retorna “aquelas coisas belas” e, finalmente, segue os raios solares até sua fonte. Percebo que também devo conscientemente seguir a pista dessa fonte, devo “santificar” o mundo ao meu redor.

Há quinhentos anos, o erudito renascentista Pico Della Mirandola preparou um sermão que definia o papel da humanidade na criação. Depois que Deus criou os animais, todos os papéis principais foram assumidos, mas “o Artífice Divino ainda desejava alguma criatura que pudesse compreender o sentido de uma realização tão grandiosa, que pudesse ser tocada pelo amor à sua beleza e ficar estupefata com sua magnificência”.  Para contemplar e apreciar todo o resto, reverenciar e consagrar, erguer uma expressão de louvor à criação muda, foram esses papéis reservados para a espécie feita à  imagem e semelhança de Deus.
O notável entomologista francês Jean Henri Fabre escalou a mesma montanha de 1.800 metros mais de quarenta vezes por causa da perspectiva que isso lhe dava de seu trabalho e da humanidade. Ele disse: “A vida possui segredos insondáveis”.
Deus me facultou o privilégio de escalar por quatro vezes as montanhas escarpadas do Sinai com a Caravana dos Indesistiveis através da Operadora Rafas Tour, minha patrocinadora oficial há 12 anos. Nas quatro oportunidades puder constatar a grandeza, a graça e a ação soberana de Deus no decorrer da história. Nossa percepção sempre de dilata. Cada subida foi uma experiência única.

Do mesmo modo que muitos cristãos, passei por duas conversões: a primeira, a partir do mundo natural, na descoberta do sobrenatural e, mais tarde, a redescoberta do natural a partir de nova perspectiva.
Para mim, no entanto, a segunda conversão não veio sem luta. Na medida em que vamos vivendo vamos ampliando nossa teologia e perspectiva. Tenho provado da graça, do amor, da bondade e justiça de Deus.
“Não se vendem dois pardais por uma moedinha ? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês”. Prometeu Jesus. “Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Portanto, não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais”. (Evangelho de Mateus 10.29-31). Ainda assim, pardais caem ao chão, do mesmo modo que os cabelos de quem faz quimioterapia. Um Deus soberano que decide contra sua vontade máxima, que supervisiona o Universo com centenas de bilhões de galáxias e ainda dispensa atenção profunda às suas minúsculas criaturas.

Indesistivelmente,

Vosso conservo em Cristo,

Mário Porto,

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