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Alerta contra a selvageria fratricida na igreja

Por Davi Lago

O contemporâneo está cheio de brigas públicas entre cristãos professos, em diversos casos por motivações explicitamente vaidosas. O apóstolo Paulo utilizou uma imagem forte para expressar as consequências da desobediência à lei do amor: “…Ame o seu próximo como a si mesmo. Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente” (Gl 5.15). A imagem é de animais selvagens atacando e matando com brutalidade uns aos outros. Trata-se de uma representação crua da desordem total, da mútua destruição. É o que acontece quando as igrejas são dominadas pela vontade da carne, pelo egoísmo, pela competição: as consequências são destrutivas. Provérbios afirma que há pessoas ingratas, altivas e agressivas “cujos dentes são espadas e cujas mandíbulas estão armadas de facas para devorarem os necessitados desta terra e os pobres da humanidade” (Pv 30.11-14). O profeta Miquéias também denunciou os líderes de seu tempo: “Vocês deveriam conhecer a justiça! Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos” (cf. Mq 3.1-3).
Diante das tristes consequências da falta de amor, as igrejas deveriam ser mais piedosas, misericordiosas e amorosas. O pastor Charles Spurgeon afirmou: “devemos evitar tudo que se assemelhe à ferocidade do fanatismo. Ao nosso redor há homens que, nascidos de mulher, parecem ter sido amamentados por lobas”. Segundo Spurgeon,
“a bondade e o amor fraternal harmonizam melhor com o reino de Cristo. Não devemos estar sempre em busca de heresias nem tão confiados em nossa própria infalibilidade que preparemos fogueiras eclesiásticas para queimar os que diferem de nós, usando lenha de prejuízos extremados e suspeitas cruéis”1.
Quando Paulo afirma “se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente”, é importante reparar que existe uma escalada na agressividade: primeiro se diz “vocês se mordem”; depois a cena piora para “se devoram uns aos outros”; por fim, tudo termina semântica e sintaticamente no “se destruírem mutuamente”. Isso mostra que os relacionamentos podem se deteriorar até que sejam completamente destruídos. Começa com uma mordida, termina com destruição mútua. Nestes conflitos fratricidas todos sofrem, ninguém sai ileso. João Crisóstomo observou que a passagem de “morder” para “devorar” é uma “atitude típica daquele que persiste na perversidade”2.
Não podemos esquecer que Paulo insere na frase a palavra-alerta “cuidado” – que em grego é a expressão blepete, que significa “veja bem!”, “esteja atento!”. É a mesma expressão utilizada, por exemplo, em Mateus 24.4, quando Jesus diz: “cuidado, que ninguém os engane”; e também em 1Coríntios 8.9: “tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos”; e em 1Coríntios 10.12: “aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!”. Ainda que as igrejas sem amor não cheguem na destruição nos dias presentes, haverá um dia em que colherão o que semearam na carne. De Deus não se zomba: “quem semeia para sua carne, da carne colherá destruição” (Gálatas 6.8).

Quando um grupo precisa conviver, trabalhar junto, caminhar na mesma direção, é indispensável um esforço conjunto de superação de egoísmos. É preciso boa vontade de uns para com os outros.

• Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo (PUC-SP) e capelão da Primeira Igreja Batista de São Paulo.
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