Comunicação é uma das tarefas mais complexas que o ser humano desempenha. Por isso, talvez, temos tantos conflitos e mal-entendidos entre nós. O que é óbvio para um chega a ser estranho e até inaceitável para outro. Por isso, um dos fundamentos da comunicação é relacionar fatos novos e estranhos ao que já é conhecido e familiar. Jesus ensinava verdades profundas e revolucionárias estabelecendo conexões com fatos e costumes cotidianos.
O capítulo 9 do evangelho de João registra Jesus curando um cego de nascença, o que gera um tumulto na comunidade religiosa judaica. O conflito é baseado no fato de Jesus ter inegavelmente restaurado a visão daquele homem e ao fato de que o próprio homem reconhece que só alguém “de Deus” poderia fazer isso (João 9.33). No verso seguinte a esta conclusão, este homem é expulso da sinagoga. Isso equivale a ser excluído do “povo de Deus”. É importante salientar que ele não foi excluído por pecado ou qualquer transgressão, mas por afirmar que aquele que o havia curado era de Deus!
Jesus ensinava verdades profundas e revolucionárias estabelecendo conexões com fatos e costumes cotidianos.
Jesus o acolhe e este homem chega a uma fé salvadora. Na sequência, Jesus começa a ensinar sobre pastores e ovelhas. Essa realidade pastoril era extremamente comum naqueles dias. Mesmo quem nunca trabalhava com ovelhas conhecia, em termos gerais, a cultura do cuidado desses animais. No capítulo 10 Jesus faz duas afirmações sobre si mesmo: eu sou a Porta e eu sou o Bom Pastor. Neste artigo quero falar sobre o que Jesus quis dizer com “ser a porta”. Em muitos locais em Israel da época, aldeias tinham um cercado comunitário onde pastores podiam, por um preço, deixar suas ovelhas. Era uma área murada guardada por um porteiro (João 10.3). O pastor podia deixar ali suas ovelhas e as chamar com seu sinal característico quando voltasse para buscá-las. Suas ovelhas reconheciam sua voz e o seguiam. As demais ovelhas – não reconhecendo a voz do seu pastor – se afastavam dele. O curral aqui mencionado era diferente do cercado frágil em que o pastor deixava suas ovelhas e se deitava na porta para que elas não se perdessem. Este curral tinha uma porta sólida que protegia as ovelhas tanto de ladrões quanto de predadores.
O ensino central desta passagem pode ser encontrado em João 10.9-10:
Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente.
Há promessas e lições preciosas para nós nestes versos. Eu identifico pelo menos quatro: 1) Jesus como único salvador; 2) entrar e sair; 3) encontrar pastagem; e 4) cuidado com o ladrão.
- Jesus como único salvador. Esta lição é óbvia e extremamente clara para todo aquele que conhece a Bíblia. No entanto, é importante afirmar que estes abrigos tinham uma só porta e não várias. Jesus torna isso muito claro em outras passagens (João 1.12; 3.16-18; 14.6). Na verdade, existem outras ofertas de portas, mas só uma conduz à salvação. Num mundo crescentemente pluralista, esta afirmação soa como politicamente incorreta, mas é nosso “Shemah” (Deuteronômio 6.4), nossa mais clara declaração de fé.
- Entrar e sair. A expressão usada por Jesus é que “quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá…”. O curral era um local seguro, mas não o destino das ovelhas. Elas não viviam no curral. Elas viviam fora deste. Ali elas eram protegidas, alimentadas e por vezes curadas, mas seu destino, seu local de moradia, era fora. Penso muito nisso ao observar nossas igrejas. É seguro afirmar que a grande maioria dos esforços de nossas igrejas se limita a cuidar dos salvos e suas famílias.
O professor e implantador de igrejas Dr. Scott Horrell afirmou em seu livro A Essência da Igreja: “Na maioria das igrejas ocidentais hoje, os dons e recursos dos membros são canalizados primariamente para construir e equipar centros institucionais. O propósito é estabelecer uma base de adoração, com eventuais incursões para ajudar os pobres ou alcançar aqueles sem Cristo”.
Como salvos, somos chamados a entrar e ser cuidados, mas igualmente a sair e manifestar nosso Salvador (Mateus 28.19-20).
- Encontrar pastagem. A expressão, curiosamente, se refere a encontrar alimento fora do curral. Assim, Jesus promete nos sustentar tanto dentro quanto fora do curral. Nossa identidade não é definida pelo curral, mas por sermos suas ovelhas. Uma vez suas ovelhas, entramos, saímos e somos por ele alimentados. Nossa única participação é continuarmos nele.
- Cuidado com o ladrão. Jesus nos alerta para cuidar com aquele cujo propósito é “roubar, matar e destruir”. Muito embora exista uma referência aos falsos pastores de Israel (Ezequiel 34), Jesus se refere aqui ao próprio Diabo. O alerta de Jesus é para que fiquemos atentos, pois qualquer outro “salvador” é na verdade um agente do Diabo para roubar, matar e destruir.
Nossa fé se baseia na pessoa de Cristo. Somos chamados a conhecê-lo e a segui-lo. Minha oração é que ele seja não só nossa porta de acesso ao Pai como também aquele que nos protege e nos alimenta.