Thomas Lieth – Racismo e a Bíblia
Racismo e a Bíblia
A questão do racismo está na ordem do dia. Como lidar com ele do ponto de vista bíblico?
Repetidas manifestações contra o racismo ocorreram ao longo dos últimos meses. Neste artigo, desejo focar nesse tema de um ponto de vista bem diferente do que se tem feito, ou seja, com base na Bíblia.
Antes de tudo, vejamos se o conceito de “raça” sequer aparece na Bíblia. O fato é que não. A Bíblia fala da criação de Deus, que criou o ser humano como homem e mulher. É claro que daí em diante se formaram diversas etnias, mas todas elas descendem do primeiro casal humano criado por Deus ou, mais tarde, após o Dilúvio, de Noé e sua família. Ou seja: sim, existem diferentes etnias, nações e povos, mas nesse sentido não diferentes raças, já que todos os homens têm ancestrais comuns (Gn 1.27-28; 3.20; 9.1,18-19).
Consequentemente, não deveria haver dúvida de que a Bíblia não oferece justificativas para o racismo. Sempre que cristãos pensaram poder justificar o isolamento e a discriminação de determinadas pessoas com base na Bíblia, estes nunca foram coerentes com a Escritura Sagrada. E não há dúvida de que também se cometeram muitas injustiças em nome da cristandade. Basta pensar nos EUA e na África do Sul, em que houve quem se insurgisse contra os negros brandindo a Bíblia! Mesmo a escravidão chegou ocasionalmente a ser fundamentada e legitimada mediante a Palavra de Deus. Mas é preciso enfatizar mais uma vez: nesses casos, arrancou-se a Bíblia do seu contexto e se adotou comportamentos antibíblicos, embora reportando-se à Bíblia.
Além das passagens bíblicas de Gênesis que citamos, considere também Atos 17.24-26, que diz: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra e… de um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra…”. Com isso deveria ficar claro que o cristão jamais deveria excluir, discriminar ou ofender outras pessoas. A Bíblia chama muito claramente de pecado toda espécie de racismo e discriminação (cf. p. ex. Tg 2.8-9). Não há justificativa para alguém se considerar superior a pessoas de outra fé, outra origem, outra aparência etc. Da mesma forma, porém, não existe nenhum direito de se rebelar contra policiais, cristãos, conservadores, liberais, soldados, tradicionalistas, direitistas ou esquerdistas.
E com isso chego a um outro ponto muito essencial: o fato de que os homens são todos iguais não só em sentido positivo, mas também no seguinte: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer… não conhecem o caminho da paz. Aos seus olhos é inútil temer a Deus… pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3.10b-23).
O que permanece é a constatação de que somos todos iguais diante de Deus, ou seja, igualmente ruins, igualmente degenerados e igualmente perdidos. Somente em Jesus Cristo é que todos são igualmente bons, igualmente justificados, igualmente redimidos e igualmente perdoados. Atos 10.34-35 diz o seguinte: “Então Pedro começou a falar: ‘Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo’”.
O critério de Deus para qualquer distinção não é origem, cor da pele, língua, religião, sexo, tendências, profissão ou vínculo partidário, mas sua posição em relação a Cristo Jesus.
Portanto, o critério de Deus para qualquer distinção não é origem, cor da pele, língua, religião, sexo, tendências, profissão ou vínculo partidário, mas sua posição em relação a Cristo Jesus: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus… Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3.26-28).
Neste sentido, eu desejaria que as pessoas fossem para a rua e caíssem de joelhos para publicamente se arrependerem, confessarem a Bíblia e demonstrarem aos homens que somente em Jesus Cristo – que, de resto, ao se tornar homem foi judeu! – não haverá racismo, mas em lugar disso verdadeira paz e redenção. Nada mudará enquanto só derrubarem Bismarck e cia. do pedestal, muito menos se ao mesmo tempo Marx e Stalin forem reverenciados. E evitar termos como “negro” ou “cigano” não faz de ninguém uma pessoa melhor enquanto nosso coração estiver cheio de egoísmo e lutarmos contra a verdade divina. “Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando você mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas” (Rm 2.1).
O que necessária e urgentemente precisa ser derrubado do pedestal é o nosso orgulho, nossa falta de amor, nossa justiça própria e, principalmente, nossa impiedade. Que o nosso Deus e Senhor fiel nos conceda que ainda se abram os olhos de muitos, que pessoas se convertam e se voltem a Jesus Cristo. Nesse sentido “não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” (Rm 1.16).
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