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O tribunal dos homens e o tribunal de Deus

INTRODUÇÃO

O tribunal dos homens é mais rigoroso do que o tribunal de Deus. Davi quis cair nas mãos de Deus e não nas mãos dos homens. No tribunal dos homens vemos um Herodes no trono e um João Batista na prisão. No tribunal de Deus mesmo um ladrão condenado e à beira da morte é salvo. No tribunal dos homens José mesmo inocente vai para a prisão e a mulher de Potifar considerada molestada. No tribunal dos homens Jesus vai para a cruz e Barrabás é solto. No tribunal dos homens essa mulher apanhada em adultério está para ser apedrejada, mas no tribunal de Deus, ela é perdoada e absolvida.

I. A DOLOROSA CONDIÇÃO DA ACUSADA

1.Aproveita a festa para cair no pecado

Era a festa dos Tabernáculos. O povo vinha de todas as cidades, vilas e campos e ficava uma semana habitando em cabanas improvisadas. Ela aproveitou o burburinho da multidão para dar vazão aos seus desejos e cair nas teias do pecado. Assim é a festa do carnaval que se aproxima. Quantas vidas se curvam diante do pecado. Quantos jovens se drogam. Quantos casamentos são atingidos pela infidelidade.

2.Ela traiu o marido

Essa mulher era casada. A palavra usada aqui é moikéia, a relação extraconjugal. Ela violou os votos de fidelidade conjugal. Ela quebrou a aliança. Ela feriu a lei de Deus e transgrediu o sétimo mandamento.

3.Ela foi flagrada no ato do seu pecado

Essa mulher não tinha desculpa. Não teve como fugir nem negar seu envolvimento sexual com outro homem. Há muitas pessoas que mentem, enganam e escapam. Em 2001, nos Estados Unidos mais de 70% dos maridos e mais de 63% das mulheres já haviam traído o seu cônjuge.

4.Ela foi humilhada publicamente

Aquela mulher foi arrastada à força. Seus acusadores não a trataram com dignidade. Não a viram como uma pessoa que tem nome e sentimentos, mas apenas como um caso a mais. Levaram-na para o pátio do templo, um lugar público e fizeram-na ficar em pé diante da multidão, na frente de Jesus. Expuseram-na ao opróbrio. Esmagaram-na emocionalmente. Ultrajaram-na em público.

5.Ela cometeu um pecado passível de morte

A lei de Moisés previa a morte para o homem e a mulher colhidos no ato do adultério (Lv 20.10). A lei estabelecia a pena do apedrejamento para ambos (Dt 22.23,24).

No tribunal da lei ela estava condenada.

No tribunal dos religiosos ela é acusada.

No tribunal da opinião pública ela é condenada como uma ninguém.

No tribunal da consciência ela é condenada, pois não se defende. Ela era a própria figura da miséria.

II. A INCLEMÊNCIA DOS ACUSADORES

Era festa em Jerusalém e os escribas e fariseus estavam cheios de inveja de Jesus. Eles queriam matá-lo (7.19), prendê-lo (7.30,31). Mandaram os guardas prendê-lo (7.32). Os guardas voltam extasiados com as palavras de Jesus e eles ficam furiosos (7.47).

A multidão se dispersa para o outro dia. De madrugada Jesus volta a falar à multidão. Então, eles se lançam contra Jesus nesse incidente.

1.A conduta dos acusadores foi grosseira

Eles usavam a autoridade para condenar e não para restaurar. Eles eram detetives e não pastores. Eles foram grosseiros com a mulher e com Jesus.

Em relação à mulher – Eles não se importaram com ela nem com sua família. Ela era apenas uma peça de um jogo sujo contra Jesus. Usaram-na para os seus propósitos nefandos. Expuseram-na à execração pública.

Em relação a Jesus – Eles queriam encontrar um motivo para acusarem e matarem Jesus. E assim intentaram três coisas contra ele: Primeiro, tentaram jogar Jesus contra a lei de Moisés; segundo, tentaram jogar Jesus contra a lei romana; terceiro; tentaram jogar Jesus contra o povo.

2.A conduta dos acusadores foi hipócrita

Hipocrisia é falar ou fazer alguma coisa e sentir outra. Podemos ver vários sinais de hipocrisia neles.

Em primeiro lugar, eles professaram grande zelo e reverência pela lei. Pareciam ser guardiões dos oráculos divinos. Eram santos homens que velavam pelo cumprimento fiel das Escrituras, mas maquinavam matar Jesus. Por isso zombaram de Deus e desrespeitaram a lei que pareciam defender.

Em segundo lugar, eles professavam grande preocupação pela moralidade privada e pública. Apresentaram-se como defensores da família. Gente que não pode permitir o erro. O adultério de fato é um atentado contra Deus, o cônjuge, os filhos, o corpo, a igreja. Mas eles não eram zelosos da família. A intenção deles eram matar a Jesus.

Em terceiro lugar, eles demonstraram grande respeito para com Cristo. Eles o chamaram de Mestre, de Rabi, enquanto no coração maquinavam o mal contra ele. São traidores, são falsos, são mentirosos. São cheios d veneno e enganadores.

Em quarto lugar, eles professaram estar em uma grande dificuldade e ansiosos por luz e ajuda. Eles não estavam interessados na mulher, nem na lei, nem na moralidade pública. Eles estavam cheios não de zelo pelo cumprimento da lei, eles estavam cheios de inveja por Cristo. Eles queriam mesmo era pegar Jesus no contrapé. Eles não buscavam a glória de Deus, mas a projeção deles mesmos.

3.A conduta dos acusadores foi maliciosa

A malícia dos escribas e fariseus pode ser demonstrada por quatro aspectos:

Em primeiro lugar, eles não se importavam com a vida da mulher (8.3,5). Eles expuseram essa mulher a uma situação de vergonha pública. Queriam eliminá-la como um objeto descartável. No coração deles não havia amor. Evocavam a lei para matar e não para amar.

Em segundo lugar, eles usam a lei para tentar (8.5). O propósito deles é tentarem a Jesus. Fazem da lei uma isca, uma armadilha. Eles usam a lei para alcançar seus propósitos malignos. Satanás também usa a Palavra de Deus para tentar.

Em terceiro lugar, eles bajulam a Jesus para tentá-lo (8.4). Eles chamam Jesus de Mestre, mas não o honra, não o ouvem, não o obedecem. Aquela era um lisonja falsa, um elogio falaz, uma bajulação hipócrita.

Em quarto lugar, eles persistiram no mesmo erro (8.7). Aqueles fiscais da vida alheia estão cegos e com os corações endurecidos. Eles só conseguiam ver o pecado dos outros, mas não os seus próprios. O zelo pela lei não era para salvar vidas, mas para condená-las. Eles eram acusadores, mas não ajudadores.

4.A conduta dos acusadores foi reprovável

Podemos concluir que a atitude desses homens foi reprovável por alguns aspectos:

Em primeiro lugar, eles nem amavam a lei nem aborreciam o pecado. Eles não buscavam a glória de Deus, mas a deles mesmos. Eles não estavam preocupados com a honra do nome de Deus, mas com o prestígio deles mesmos.

Em segundo lugar, eles revelaram ser parciais e preconceituosos. Eles só trouxeram a mulher e deixaram o homem escapar. A lei previa morte para o homem também. Acusaram o mais fraco. Revelaram parcialidade e preconceito.

Em terceiro lugar, eles se tornaram mais culpados do que a acusada. Eles tornaram-se culpados pela lei que defendiam.

Eles foram culpados no tribunal da consciência.

Eles foram culpados pela dureza do coração. A ré saiu perdoada e eles mais endurecidos. Ela absolvida, eles condenados.

LIÇÃO: OS MAIS DEPRAVADOS E MAUS SÃO OS MAIS SEVEROS ACUSADORES.

III. A MISERICORDIA DO ADVOGADO

1.Jesus demonstra que só o homem que está livre de pecado tem o direito de exercer seu juízo sobre a falta dos outros (8.7)

Jesus já havia advertido no sermão do monte que não devemos julgar para não sermos julgados. Jesus falou que com a medida com que julgarmos seremos julgados. Alertou para o perigo de queremos tirar o cisco do olho do outro, enquanto temos uma trave no nosso.

Queremos exigir dos outros, aquilo que não praticamos. Somos intolerantes com os outros e complacentes com nós mesmos. Somos críticos com os outros e tolerantes com nós mesmos.

A lenda hindu – Um ladrão condenado que antes de morrer foi lhe dado cumprir seu último desejo. Disse que tinha poder para plantar um pé de ouro (Rubens Lopes, Um pouco de Sol). (Quem rouba um tostão torna-se tão desonesto como quem rouba um milhão).

2.Jesus rasga o véu e demonstra o pecado dos acusadores

Jesus escreve no chão. O que ele escreveu? O texto não nos diz, mas a palavra é sugestiva katagrafein. Escrever uma sentença contra alguém. Jesus disse: Quem tiver sem pecado, sem um desejo pecaminoso atire a primeira pedra. Jesus tocou no nervo exposto, na ferida. O pecado deles era pior do que o pecado daquela mulher. Ela estava envergonhada sem coragem de levantar o rosto por causa do seu pecado, mas eles nutriam indiferença com a mulher, inveja e ódio de Jesus e estavam tramando para matarem Jesus.

3.Jesus não esmaga a cana quebrada

Em primeiro lugar, Jesus valoriza a lei, expõe a gravidade do pecado, mas ama o pecador para restaurá-lo (8.7). Jesus não com o seu silêncio e poucas palavras ensinou três verdades profundas: a lei é santa. O pecado é maligno. O seu amor pelos pecadores é infinito.

Em segundo lugar, Jesus não expõe os próprios acusadores ao opróbrio. Ele faz diferente deles que expuseram aquela mulher ao ridículo. Jesus conhecia seus pensamentos. Ele sabia do plano abominável deles. Jesus poderia ter exposto esses acusadores à execração. Jesus podia denunciar o segredo do coração deles.

Em terceiro lugar, Jesus age com misericórdia com a mulher. Ele veio não para condenar, mas para salvar. A mulher merecia morrer, mas ele usa seu poder para restaurar. Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido. Ele veio para os doentes. O perdão não é barato. Ele deu sua vida. Ele valoriza aquela mulher, chamando-a por um título honroso, o mesmo que usou para sua mãe: “Mulher”.

4.Jesus restaura a dignidade da mulher

Quatro verdades nos provam esse ponto:

Em primeiro lugar, Jesus não diminuiu a gravidade do seu pecado. Ele não disse que ela era inocente ou que seu pecado não tinha importância. Jesus não tratou o pecado com leviandade. Ele não a mandou para casa como se nada tivesse acontecido.

Em segundo lugar, Jesus não a condena, antes a perdoa. Somente Jesus tinha condições morais de condenar aquela mulher, mas ele escolheu perdoá-la e salvá-la. Isso porque ele levou sobre si o pecado dela e de todos nós.

Em terceiro lugar, Jesus a encorajou. Ele disse para ela: “Vai”. Volta à vida. Não fique carregando seus traumas, recalques, e culpa. Ela vai livre, perdoada, restaurada, com dignidade.

Em quarto lugar, Jesus a exorta a não voltar ao pecado. A natureza do verdadeiro arrependimento não é arrependimento e novamente arrependimento, mas arrependimento e frutos dignos do arrependimento. O arrependimento é mais do que sentimento, é a firme atitude de abandonar o pecado. Nada de reincidência. Jesus aborrece o pecado. Ele está abrindo uma avenida de obediência para ela.

LIÇÃO: OS MAIS SANTOS SÃO OS MAIS MISERICORDIOSOS.

CONCLUSÃO

Se você foi julgado, sentenciado e condenado no tribunal da consciência, da lei e da opinião pública. Se você está coberto de opróbrio, levante a cabeça porque você está diante do Tribunal da Misericórdia. Ainda que todos acusem e humilhem você. Ainda que a multidão olhe para você com ar de condenação, saiba que Jesus ama você. Ele hoje pode perdoar seus pecados e dar a você a vida eterna.

Aquela mulher, retrato da miséria, foi condenada no tribunal da lei, da religião, da opinião pública, da consciência, mas foi absolvida e salva no tribunal da misericórdia. Nosso Deus é rico em perdoar. Ele tem prazer na misericórdia.

Hernandes Dias Lopes

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