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Texto do Pr. Hamilton Rocha, publicado na PG do dia 05/07/2020

A RELEVÂNCIA DA PREGAÇÃO

II Timóteo 4:2

Pr. Hamilton Rocha*

    Um pregador episcopal anglicano era muito preguiçoso no tocante ao preparo dos sermões. Um dia ele recebeu a visita do seu bispo. Quando ele viu o bispo sentado no banco da igreja antes de o culto começar ele foi até o seu superior e contou-lhe sobre o voto solene que fizera no sentido de sempre pregar sermões extemporâneos. O bispo parecia compreender, e o culto começou. No meio do sermão, entretanto, o bispo se levantou e saiu, deixando o pregador muito consternado. Após o culto ele encontrou na sua mesa no gabinete pastoral um recado que o bispo rabiscara rapidamente: “Eu te absolvo do teu voto”.

    Havia um jovem pastor presbiteriano cujo pecado dominante não era a preguiça, mas a presunção. Frequentemente ele se orgulhava em público que o único tempo que precisava  para preparar seu sermão de domingo eram os poucos momentos necessários para ir da sua casa, que ficava ao lado do templo,  ao templo. Então os presbíteros compraram para a igreja uma casa pastoral a oito quilômetros de distância!

    Havia um pregador batista que não tinha pecados evidentes como os do colega anglicano e do presbiteriano. Seu problema era a superespiritualidade. Tampouco preparava os seus sermões, mas isso não tinha ligação com a preguiça ou o orgulho. Ao contrário, devia-se à piedade genuína. Assim como seu colega anglicano, confiava no Espírito Santo, mas diferentemente do colega, apelava às Escrituras para apoiá-lo, em vez de apoiar-se ao voto feito por ele mesmo. “Vocês não leram as palavras de Jesus em Mateus 10:19,20? – perguntava ele aos amigos em tom de surpresa genuína, quando se aventuravam a corrigi-lo: “Mas quando vos entregarem, não vos preocupeis como que falareis nem como falareis, pois naquela hora vos será dado o que dizer. Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala por meio de vós”. O que esse colega batista deixou de fazer, porém, foi ler as palavras do Senhor em seu contexto. Na realidade o texto começa assim: “Cuidado com os homens, pois eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; e por minha causa  sereis levados  à presença de governadores e reis, para que deis testemunho a eles e aos gentios” (Mateus 10:17,18). Jesus queria dizer que naquelas situações em que não haveria tempo para preparar defesa, o Espírito Santo falaria por intermédio deles. A promessa de Jesus tem trazido grande consolo aos presos que não têm advogado; mas ela não oferece consolo para pregadores preguiçosos, orgulhosos ou piedosos em relação à preparação de sermões (Stott).

    Spurgeon, o príncipe dos pregadores, dizia: “Chegar habitualmente ao púlpito sem preparo é presunção imperdoável”.

    O Apóstolo  Paulo exortou o jovem pastor Timóteo: “Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com toda a paciência e ensino” (II Timóteo 4:2).

    Deus está executando o seu propósito. Um obreiro sai de cena e outro o substitui. A obra de Deus continua. O evangelho é transmitido de geração a geração. Quando líderes partem, é necessário que se levantem outros da geração seguinte e ocupem os seus lugares.

    Timóteo deve ter sido impactado com as palavras daquele velho apóstolo que o levara a Cristo. Quem nos levou a Cristo? Chegará o dia em que teremos que substituí-los e nós mesmos assumirmos a liderança. Tal dia acabara de chegar para Timóteo. E para nós? Por isso: “Prega a Palavra”.

    Vieira dizia que a pregação que frutifica não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que lhe dá pena. Quando o ouvinte a cada palavra do pregador treme; quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a pregação qual convém, então se pode esperar que faça fruto.

    Em Coimbra, no tempo de Vieira, havia dois famosos pregadores, ambos bem conhecidos por seus escritos. Altercou-se entre alguns doutores da Universidade qual dos dois fosse o maior pregador, uns diziam este; outros, aquele. Mas um deles, que entre os mais tinha maior autoridade, concluiu dessa maneira: entre dois sujeitos tão grandes não me atrevo a interpor juízo; só direi uma diferença, que sempre experimento: quando ouço um, saio do sermão muito contente do pregador; quando ouço outro, saio descontente de mim.

    Eis aqui o que devemos pretender dos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições, e enfim, todos os seus pecados.

    Acima das tribunas dos reis estão as tribunas dos anjos, está a tribuna do tribunal de Deus, que nos ouve e nos há de julgar.

    Preguemos e armemo-nos todos contra os pecados, contra as soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra as cobiças, contra as sensualidades. Veja o céu que ainda tem na terra quem se põe da sua parte. Saiba o inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a Palavra de Deus; e saiba a mesma terra, que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto (Vieira, in Sermão da Sexagésima ou do Evangelho, 1655).

    Hugh Latimer, bispo de Worcester, pregou muitas vezes na Catedral da Igreja da Inglaterra na presença do rei. Certa manhã, quando ele meditava no sermão que iria transmitir, ele ouviu uma voz que dizia: “Latimer, tens cuidado com o que vais pregar hoje, porque vais pregar diante do rei da Inglaterra”. Imediatamente ele ouviu outra voz que dizia: Latimer, tens cuidado com o que vais pregar, porque falarás diante do Rei dos reis”.

    Marta, irmã de Maria é um bom exemplo de pregadora relevante. Depois que ela se encontrou com Jesus fora da aldeia de Betânia, ela voltou para casa e disse à sua irmã: “O Mestre está aqui e te chama” (João 11:28). O bom pregador é aquele que está tão perto dos homens, que conhece suas necessidades, e tão perto de Jesus que é capaz de levar sua mensagem ao coração do homem. Marta fez isso.

    Devemos orar para que Deus levante uma geração de pregadores que se esforcem em relacionar a palavra imutável de Deus com o nosso mundo em mudança; que se recusem a sacrificar a verdade à relevância, nem a relevância à verdade, mas que resolvam ser, pelo contrário e em medida igual, tanto fiéis às Sagradas Escrituras quanto pertinentes ao mundo de hoje.

  1. Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís do Maranhão

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