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Texto do Pr. Hamilton Rocha, publicado na PG do Jornal Pequeno do dia 28/06/2020

CICATRIZES

Jeremias 8:18-22

Pr. Hamilton Rocha*

    Espinhos são provações que duram. Que vêm para ficar. Curtidas em câmera lenta. Pacientemente. São estrepes que se encravam na alma.

    Pode ser um casamento infeliz, uma família desajustada, filhos rebeldes, uma desilusão amorosa, um empreendimento mal sucedido, um objetivo malogrado, uma aspiração insatisfeita, uma doença incurável, uma deficiência física, uma saudade amarga, um relacionamento mal resolvido. São acúleos que ferem sem parar.

    O que fazer para aquela ferida virar cicatriz? Qual o remédio para suavizar esse sofrimento?

    O profeta Jeremias lamentava-se: “Não há consolo para a minha dor! Meu coração desfalece dentro de mim! Este é o clamor da filha do meu povo, que se estende por toda a terra: O Senhor não está em Sião? O seu rei não está ali? Por que me provocaram à ira com suas imagens, com ídolos estrangeiros? O tempo da colheita passou, findou o verão, e nós não estamos salvos. Estou aflito por causa da aflição da filha do meu povo; ando de luto; o espanto apoderou-se de mim. Por acaso não há bálsamo em Gileade? Nem médico? Por que não houve cura para a filha do meu povo?” (Jeremias 8:18-22).

    O povo de Israel estava ferido, carecia de cura. Ele indagava “não há bálsamo em Gileade?”

O que fazer para curar aquela ferida? O que fazer para aquela ferida virar cicatriz?

    Cicatriz é o sinal de uma ferida depois de curada. Trabalho reparador que resulta um novo tecido. Como se fosse uma soldadura, destacando-se no fundo rosado da pele humana por uma cor mais clara.

    Pois a alma, e não só o corpo, tem cicatrizes: o sofrimento marca a alma. Quando a dor a atinge é como se nela se abrisse uma ferida, que deitasse sangue. Quando parece que o mundo vai acabar. Perdemos um ente querido. Alguém parte de nós pra nunca mais voltar. Ou sofremos uma ingratidão. É quando acontece a lesão, atingindo em cheio o nosso coração. Varando-o.

    Haverá remédio para esses golpes?

    Há. É a cicatriz. Deus regenerando aquele ponto que a dor magoou. Que, em vez de tecido cicatricial, como se diz, será alma cicatricial.

    Deus dispõe de lenimento para os nossos pesares – ai de nós se não fosse isso. De cautérios para as nossas feridas, que acabam virando cicatrizes.

    Cicatriz é recordação – a recordação de um mal que sofremos.É a suave lembrança de quem partiu de nós levado pela morte ou pela distância. Se foi a distância, pode ser um aceno, uma lágrima, um lenço agitando-se ao longe. Se foi a morte, pode ser o último beijo depositado na fronte lívida do ser amado.

    Cicatriz é saudade: “Doce amargo de infelizes, delicioso pungir de acerbo espinho.” (Garret, poeta português). É a ferida que já não faz chorar: chega a ser doce, agridoce. Um espinho que fere sem machucar.

    Quais são os cautérios que Deus emprega para cicatrizar as lesões da alma?

    O primeiro é o tempo. Este encarrega-se de balsamizar o sofrimento: hoje dói muito, amanhã dói menos. Hoje é o fim; amanhã tudo pode começar de novo. O sol vai brilhar outra vez.

    Plutarco, escritor grego do início de nossa era, dizia: “São em maior número as coisas que o tempo cura do que as coisas que a razão concilia.”

    O outro lenitivo que Deus usa para cicatrizar as lesões da alma é a graça. Não há ferida que não vire cicatriz sob a ação todo-poderosa da graça divina. É melhor que o tempo, porque o efeito deste é lento, ao passo que a graça opera imediatamente.A curto e não a longo prazo.

    O Senhor disse ao apóstolo Paulo: “A minha graça te basta” (é suficiente) (II Coríntios 12:9). De cicatrizes nosso Senhor entende. Ele mesmo levou em seu corpo as marcas dos cravos nas mãos e pés. O poeta Jorge Araújo disse em uma de suas canções, disse a respeito de Jesus: “Cicatrizes que provam que ele precisou sofrer, para que eu pudesse ser livre”

    A ferida pode desaparecer; pode virar cicatriz se passar pelas mãos daquele que tem cicatrizes.

Há bálsamo em Gileade. Há bálsamo na cruz.

Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís do Maranhão

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