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Daniel Lima – Nações, Tribos, Povos e Línguas

Enquanto escrevo, o mundo, além de tentar lidar com uma pandemia totalmente nova, lida com uma outra pandemia muito mais antiga. Por todo lado pessoas se declaram estarrecidas pelas cenas do assassinato de George Floyd por um policial norte-americano, mesmo após dominado. Eu cresci em uma época e um ambiente racista. Não era um racismo declarado, oficial e argumentado; era o que se chamava de “racismo leve”… Curiosa esta expressão, não? Um racismo leve. É como se existisse um adultério leve, um assassinato leve, uma morte leve. O racismo de minha infância era leve ao não se declarar como tal, ao disfarçar-se de um não-racismo, ao varrer para debaixo do tapete as múltiplas expressões em que o desprezo e a desvalorização do negro (ou judeu, ou oriental) eram manifestas.

Anos se passaram e creio que pela graça de Deus pude abandonar esta influência de minha infância. De modo especialmente poderoso é o claro testemunho das Escrituras contra o racismo em qualquer forma. Em Gálatas 3.28, Paulo expressa como é incoerente um cristão ser racista: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. O curioso é que Paulo cresceu como fariseu, uma das seitas judaicas que mais fazia distinção entre povos e raças. Com certeza essa foi uma área na qual Deus lhe deu uma nova vida, uma nova perspectiva.

Em Atos 13.1 lemos: “Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo”. Esta equipe ministerial era um grupo multiforme etnicamente: Barnabé era um judeu que havia crescido fora de Israel (para um fariseu, este era um defeito grave); Simeão, chamado Negro, era com muita probabilidade um convertido de raça negra, oriundo do norte da África; Lúcio era um nome latino e Cirene, sua cidade de origem, foi formada por ex-soldados romanos; Manaém foi criado junto com Herodes, portanto, é bem provável que fosse de origem árabe; por fim, temos Paulo, judeu, benjamita e fariseu. Com certeza a esta altura Paulo já havia sido curado ou transformado de seu racismo.

Se você é cristão, saiba que terá a honra de louvar a Deus no céu na companhia de irmão de todas as tribos, povos e raças.

O testemunho do apóstolo João em Apocalipse nos dá mais uma perspectiva que evidencia a incompatibilidade do racismo com a fé cristã. Em Apocalipse 7.9 lemos: “Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas”. É muito revelador da multiforme graça de Deus que mesmo no céu João podia reconhecer a origem étnica dos salvos. Se você é cristão, saiba que terá a honra de louvar a Deus no céu na companhia de irmãos de todas as tribos, povos e raças.

Diante desta nova agitação em torno do tema do racismo, faço uma autoanálise e o convido a fazer o mesmo. Não basta que eu tenha abandonado algumas das tradições que me foram passadas (1Pedro 1.18). Eu acredito que preciso transformar esta mudança em um compromisso, em um posicionamento ativo – e não uma atitude passiva. Por isso, eu quero me comprometer a:

  1. Não promover, não rir e me posicionar ativamente contra histórias, piadas e comédias que diminuam raças minoritárias;
  2. Denunciar ativamente qualquer postura que promova a divisão entre raças (desculpe, mas isso inclui o que tem sido chamado de racismo inverso);
  3. A buscar intencionalmente o cultivo de amizades com pessoas de outras raças, culturas e línguas. Buscando entender e principalmente ouvir;
  4. Com ousadia e sensibilidade (mistura delicada), discutir e participar de conversas sobre o tema do racismo e das relações inter-raciais.

Aos meus irmãos negros, orientais, judeus, indígenas, árabes e outros, quero dizer que sinto muito pelo tratamento indigno e vergonhoso que cristãos ao redor do mundo têm dado a vocês. Não posso responder pelos atos de outras pessoas, mas quero participar ativamente de uma mudança em nossas igrejas, em nossas relações, para que o mundo creia que somos de fato discípulos de Jesus. Eu te convido a assumir comigo estes compromissos.

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
Fonte/ chamada.com

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