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Texto do Pr. Hamilton Rocha ( IBCalhau – São Luis- Ma) publicado na PG do dia 12/04/2020

SEM EPITÁFIO

Pr. Hamilton Rocha

     Epitáfio é uma inscrição tumular. Uma despedida. Uma recordação. Uma lágrima que secou. Jesus não teve isso.Se tivesse, que epitáfio seria o seu?

    Ele que passou pelo mundo não como uma sombra, mas como uma fulguração, não deveria ter recebido o mais belo epitáfio que se tenha escrito sobre uma lousa mortuária?

    Claro, se essa frase fosse escrita por um apóstolo; ou por Lázaro, a quem Jesus ressuscitou; ou pela mulher pecadora; ou por Mateus, o publicano; ou pelo cego de Jericó, a quem Jesus abriu os olhos; ou por Nicodemos, o doutor da lei. Talvez o melhor seria escrever o que o anjo disse: “Ele não está aqui”.

    Mas também é possível que Jesus não tivesse epitáfio.

    Por ingratidão ou por vingança. Ingratidão porque a humanidade tem memória fraca. Esquece rapidamente os benefícios que recebe.

    Será que o centurião iria lembrar-se de Jesus? Ou os leprosos que ele purificou? Ou as multidões que ele alimentou?

    Os inimigos, por sua vez, é que não lhe fariam um elogio fúnebre. Jamais quereriam imortalizar o homem que lhes despertara tanto ódio. Melhor seria o silêncio. Silêncio selado pela morte. Inviolável.

    A verdade é que Jesus poderia ter ou não um epitáfio. E acabou não tendo. Não por ingratidão ou por vingança. Mas porque só existe epitáfio para os mortos e Cristo não é um morto. Morreu mas não está morto. Durante três dias esteve no túmulo.

    Na madrugada do  domingo Jesus escreveu o último capítulo do livro da Redenção. Esse livro só tem a edição príncipe. Cristo despiu-se de suas vestes e vestiu-se de um branco imaculado.  Quando as mulheres foram ao sepulcro levando especiarias para o embalsamamento definitivo do corpo, já não o acharam. O túmulo estava vazio.

    Ora, túmulo vazio não tem epitáfio: elogiar a quem, se dentro não há ninguém? Epitáfio é para gente morta: logo, como se pode escrever um epitáfio dedicado a Cristo, se ele está vivo?

    No gênero esse foi o primeiro fato. Fato histórico. Até aqui todos os grandes homens costumavam ser celebrados depois da morte. Como mortos. Jesus não. Porque ele está vivo. Vivo e celebrado pelos vivos.

    Celebrado não com epitáfio ou panegíricos – discurso em louvor de alguém – mas com cânticos. Como herói que sobrevive ao campo de batalha.

    A morte de Jesus não vestiu de luto a humanidade porque teve a duração de apenas três dias. Ninguém pode chorar diante de um túmulo vazio. Porque não há a quem chorar.

 

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